domingo, outubro 26, 2008

Temos que aprender a viver com o bichado da castanha

Até que ponto é que a praga do bichado da castanha pode ser erradicada ou será que temos que viver com ela? Nesta última hipótese, a praga pode ser contida em níveis mínimos ou tende a explodir?
Erradicar uma praga depois de esta se instalar é difícil mas não impossível. No entanto, normalmente depois de se instalar decorrem cinco anos até que os seus níveis populacionais se tornem visíveis ao produtor. Por isso, acho que estamos a aprender a viver com ela, tanto mais que de ano para ano, na dependência das condições climatéricas do ano, se notam diferenças na sua abundância e nos prejuízos que o bichado-da-castanha causa nos frutos. Veja-se o exemplo de 2006 em que os prejuízos foram baixos e no ano seguinte (2007) o grande aumento a que se assistiu como registo de níveis de infestação, que em situações pontuais, atingiram os 70%. Em relação à contenção da praga em níveis mínimos isso depende em muito, como disse atrás, das condições climatéricas de cada ano e da actuação dos produtores, principalmente na recolha e destruição dos frutos “bichados” desde o início da sua queda no terreno até ao fim da colheita para que assim se possa interromper o ciclo de vida desta praga não permitindo a introdução da sua lagarta no terreno onde vai formar um casulo e de onde no ano seguinte, no Verão, sairão os adultos da geração seguinte. A utilização de armadilhas com feromona sexual que captura os adultos aliada a recolha dos frutos das parcelas será a estratégia mais adequada para tentar diminuir as populações desta praga para níveis mínimos. Nesse sentido este ano pelo Centro de Biotecnologia dos Açores em colaboração como SDAT, foram testados dois tipos diferentes de armadilhas e cinco feromonas sexuais de diferente proveniência de modo a encontrar as mais eficazes na captura do maior número de adultos do bichado-da-castanha.
A ilha Terceira já encontrou os castanheiros ideais ou continuamos à procura da árvore que melhor de adapta à nossa realidade?
Isso será uma pergunta a fazer aos meus colegas da produção, mas acho que a castanha Viana é a mais adaptada às nossas condições e a mais apetecida pelos consumidores, pelo que acho que está encontrada a castanha ideal.
Parece-lhe que a produção de castanhas tem potencial para se transformar num negócio a sério na Terceira?
Acho que sim, a nível de Portugal Continental e na Europa existem negócios de grande rentabilidade nesta área, quer com os frutos sem serem transformados quer nos sucedâneos da castanha. Acho que já é um negócio sério e se for mais potenciado poderá fazer com que se diminuam as quantidades de castanha que anualmente, pelo S. Martinho, são importadas para a ilha Terceira e Açores em geral. Tanto mais que é uma cultura que não tem nem requer muito maneio por parte do produtor.
Comparadas com a concorrência, que lugar atribui às nossas castanhas?
De uma maneira geral têm bom calibre e bom aspecto, o que assegura, se não estiverem bichadas, a sua rápida venda no mercado. Penso que toda a produção é rapidamente escoada no mercado. A festa da castanha, que anualmente se realiza, ainda potencia mais a importância desta cultura e a zona onde ela é produzida servindo de motor de motivação para que apareçam mais e novos produtores que ao mesmo tempo também contribuem com a recuperação de antigas quintas ou seja para a valorização e preservação do nosso património cultural e agrícola.

(In Diário Insular)

Etiquetas: , , ,