segunda-feira, maio 26, 2008

O projecto ICE

Duas professoras da Escola de Enfermagem da Universidade da Madeira (UMa) vão hoje para Cabo Verde, onde, no período compreendido entre 25 e 28 de Fevereiro, vão coordenar a recolha de dados que permitirá quantificar a prevalência das conhecidas «escaras» nos hospitais do arquipélago. A iniciativa faz parte do projecto ICE (Investigação Cientifica em Enfermagem) que, depois de Madeira, Açores e Canárias, pretendeu alargar o estudo do fenómeno. Helena Jardim e Luísa Santos, ambas professoras na Escola de Enfermagem da Madeira, partem hoje para Cabo Verde, onde serão coordenadoras numa recolha de dados que visa estudar a prevalência das «úlceras por pressão» naquele arquipélago. A colheita de dados vai realizar-se de 25 a 28 de Fevereiro. A iniciativa insere-se no âmbito do projecto ICE e vai estender, em simultâneo, o estudo de prevalência das «úlceras por pressão» a todas as ilhas da Macarronésia. Depois de divulgados os estudos em relação à Madeira, Açores e Canárias, em Maio de 2007, num Congresso Internacional realizado nos Açores, terminou o primeiro tempo do projecto ICE. Mas o seu reconhecido mérito prolongou o financiamento ao abrigo do Programa INTEREG IIIB por mais um ano, reunindo as condições para a elaboração e planeamento de um estudo que também incluísse Cabo Verde. A coordenação do estudo nas várias ilhas do arquipélago caboverdiano será feita por seis elementos do grupo parceiro no projecto: dois da Madeira, 3 dos Açores e um de Canárias. Helena Jardim e Luísa Santos serão as responsáveis pelo acompanhamento dos trabalhos nas ilhas de Santiago e de Santo Antão, respectivamente. Ao todo, depois de um período de formação decorrente de 14 a 18 de Janeiro, cerca de 1/3 (um terço) dos 500 enfermeiros caboverdianos estarão envolvidos no projecto, divididos pelos seis hospitais das ilhas de Santiago, Fogo, S. Vicente e Santo Antão. A semana de actividade culmina com uma conferência na Universidade de Cabo Verde, organizada pelo grupo ICE, com a comparência das entidades governamentais responsáveis pela Saúde e Educação do arquipélago, tal como com a presença de um perito internacional nesta temática. Contribuir para o atenuar do problema O projecto ICE surgiu em finais de 2005, tendo a Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo – Universidade dos Açores (liderada por Miguel Gomes), a Escola Superior de Enfermagem da Madeira (liderada por Helena Jardim) e o Departamento de Enfermagem da Faculdade das Ciências da Saúde – Universidade de Las Palmas de Gran Canária (liderado por Rodrigo Chácon) como parceiros. O objectivo passava pela partilha de metodologias de investigação em enfermagem, efectuando estudos de interesse para as três regiões e contribuindo para o conhecimento cientifico na área. Em cada instituição foi criado um grupo de trabalho constituído por 18 elementos, apoiados por instituições nacionais e estrangeiras e assessorados por um perito em estatística. São mesmo as estatísticas que apontam para uma prevalência de 11% das úlceras de pressão na Europa. A investigação simultânea realizada na Madeira, Açores e Canárias, cujos resultados foram apresentados em Maio do ano passado, encontrou uma prevalência de 14,2% na população idosa (entre 80 e 89 anos), onde a maioria são mulheres que se encontram no domicílio com a necessidade de cuidados crónicos. O inédito do estudo do ICE prendeu-se com o registo do problema e factores associados, quer em utentes de qualquer idade inscritos em unidades de saúde e carecidos de cuidados domiciliários, quer entre os institucionalizados em hospitais, clínicas ou lares num determinado momento. O grupo ICE acredita que, ao tornar visível a prevalência deste fenómeno nas ilhas - tal como os factores de risco que lhe estão associados - está a contribuir para o desenvolvimento de um plano regional de actuação, mobilizando recursos políticos, sociais e humanos para o combate e prevenção das úlceras de pressão, em prol da saúde dos cidadãos em geral. Porque este é um problema que continua a exigir o dispêndio de muitos recursos, quando ao mesmo tempo a falta de meios humanos e financeiros contribui para a pouca atenção dispensada a este fenómeno.


(In Tribuna da Madeira)

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