terça-feira, abril 22, 2008

Agricultura: Inovação Impõe-se

Nos últimos anos, o aumento da produção de leite nos Açores baseou-se muito na maior utilização de rações, que é a maneira mais fácil de produzir leite, embora a menos sustentável nos Açores. Porque os cereais tinham preços baixos no mercado mundial e porque o POSEIMA os fazia chegar aos Açores a preços compensadores. Adaptou-se o rebanho a produzir à base de rações, na sua totalidade importadas, à semelhança das vacas dos EUA ou da Europa Central, zonas tradicionalmente produtoras de cereais. Mas agora os cereais sobem de preço mais depressa que o leite e, mais grave ainda, há muita procura, o que faz pressupor que vai ser cada vez mais difícil adquirir estas matérias-primas. O problema agrava-se pelo facto de não podermos comprar milho nos EUA, o que poderia compensar atendendo à desvalorização do dólar em relação ao Euro, porque estamos impedidos de usar milho geneticamente modificado. Para os lavradores que apostaram em vacas de produções médias, um melhor maneio das vacas em pastoreio e melhores silagens podem resolver o assunto. Para os lavradores que nos Açores apostaram em vacas de alta produção as perspectivas são piores. É que as alterações que fizeram no seu rebanho obrigam a que continuem a utilizar grande quantidade de produtos de elevada concentração energética, não têm outra opção. Mas aqui é que entra o saber adaptar-se. Porque o nosso sistema não pode ser estático, deve evoluir de acordo com os mercados. A solução não pode ser continuar a exigir subsídios, numa demonstração de total incapacidade de adaptação, levando a opinião pública a pensar que a produção de leite já não é solução para os Açores. Olhemos à nossa volta. Faz sentido que muitas terras baixas, planas e de solos fundos, geralmente as mais produtivas, outrora terras de trigo, milho ou feijão, estejam absolutamente secas no Verão? Que durante 3 ou 4 meses não produzam quase nada? Porque é que não semeamos mais milho e voltamos a usar luzerna, plantas com raízes que vão bem mais fundo no solo à procura de água, para aproveitar todo o potencial dessas terras? Porque é que não fazemos o que se faz há bastantes anos na Europa e nos EUA que é apanhar o milho para silagem logo abaixo da maçaroca ou mesmo colher só as maçarocas para fazer silagem de elevada concentração energética? É que isto diminuiria em muito as necessidades que os produtores de leite têm de concentrados importados, aumentaria o lucro dessas explorações e empregava mais gente. Será que se sabe que o quilo de matéria seca da silagem de milho, para as zonas baixas dos Açores, é mais barato do que o quilo de matéria seca da pastagem ou da silagem de erva? Mesmo sem o subsídio de quase 300 € que os produtores recebem por cada hectare de milho semeado? Essencialmente porque o milho produz em 6 meses mais do que a pastagem num ano.Terão os lavradores dos Açores estes dados disponíveis para poderem fazer escolhas bem fundamentadas? Conhecerão as alternativas? A formação profissional e o aconselhamento técnico que estão a ter são suficientes? Em Dezembro fui a um seminário organizado pela Associação Portuguesa de Pastagens e Forragens na Cooperativa Agrícola de Vila de Conde. Fiquei admirada com os conhecimentos de alguns produtores de leite presentes. Falava-se em NDF e conteúdo de amido das silagens de milho, da utilização de ciclos FAO mais curtos e do teor proteico. Mandavam analisar as suas silagens e compreendiam os resultados que recebiam do laboratório. Aqueles lavradores em vez de discutirem subsídios estavam juntos a discutir maneiras de melhorar o seu maneio. No fim do dia fomos visitar uma exploração que estava já a ensilar apenas as socas do milho (pastoni, como lhe chamaram).Os Açores têm todas as condições para ter uma produção de leite rentável. Infelizmente, os conhecimentos técnicos de muitos lavradores estão aquém do que seria desejável para rapidamente poderem adaptar as suas explorações às novas exigências do mercado. Desperdiçam-se muitos recursos, utilizam-se mal os factores de produção, não se produz com a qualidade possível e desejável.Como é que pensamos alterar esta situação fundamental para a economia dos Açores?


(Anabela Gomes in Diário Insular)

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