domingo, julho 08, 2007

Empreendorismo, Inovação e Internacionalização

No 13º Congresso da APDR, realizado em Angra do Heroísmo, na Universidade dos Açores, discutiram-se também questões relacionadas com o Empreendorismo, Inovação e Internacionalização.
Num estudo realizado por Fernando António da Costa Gaspar e Luis Manuel Fé de Pinho, foi verificado que existem baixos níveis de actividade empreendedora registados no país que põem em evidência que Portugal é altamente assimétrico, com uma alta concentração nas regiões do litoral, e uma desertificação crescente do interior e das ilhas da Madeira e Açores. Neste trabalho os autores começaram com um estudo da bibliografia publicada sobre a importância do empreendedorismo no desenvolvimento das economias actuais evidenciando quatro motivos fundamentais para a sua implementação: contribui para a criação de emprego, para a inovação, para a criação de riqueza e, por último, constitui uma cada vez mais importante opção de carreira para uma boa e crescente parte da força de trabalho.
Investir em Inovação e Desenvolvimento (I&D) pode não ser o remédio para uma economia pouco desenvolvida e carente de competitividade, defende Jorge Ricardo da Costa Ferreira. São inúmeros os estudos, os relatórios e os rankings que apontam para uma relação entre os investimentos em I&D e as elevadas performances económicas. No entanto, não poderá ser provada a existência de uma significativa correlação estatística. Será o investimento em inovação fundamental para o aumento da competitividade e, consequentemente, para o desenvolvimento sócio-económico? De acordo com o estudo “The Global Innovation 1000” que analisa as 1000 empresas globais com maiores investimentos em I&D, só menos de 10% desse universo são de facto empresas eficazes na aplicação desses montantes. Definidas como “Smart Spenders” estas empresas aplicam bem o (relativamente) baixo investimento em inovação. Para os “gastadores inteligentes”, o dinheiro dispendido em inovação significa de facto, inovação eficaz.
Tendo por base as situações empíricas observadas nas regiões Norte, Centro e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, António Manuel Figueiredo discutiu o potencial que representa a valorização do conhecimento ao serviço da criação de valor nessa família de recursos, discutindo também a viabilidade actual de construção de sistemas regionais de inovação para o assegurar. O novo ciclo de políticas de coesão para o período 2007-2013 abre caminho ao reforço da componente de competitividade e exige a mobilização de uma mais larga faixa de recursos específicos regionais. Com base num conceito de competitividade territorial que tem em conta a viabilização de novas combinações produtivas de recursos susceptíveis de assegurar aos territórios condições inimitáveis (por tempo determinado) de atractividade, o autor discutiu a viabilidade da implementação de sistemas regionais de inovação como estratégia de alargamento da base territorial da competitividade em regiões da coesão.
O processo de inovação e as trajectórias tecnológicas guardam distintas especificidades, seja entre os países desenvolvidos, seja entre estes e os retardatários, afirmaram João Policarpo R. Lima e Ana Cristina Fernandes. Os esforços de capacitação tecnológica em economias retardatárias, não são apenas mais exíguos, como se concentram na imitação e na adaptação, e não na inovação radical. No caso brasileiro, estudos voltados ao entendimento da dinâmica e crescimento de empresas industriais apontam que são poucas, aquelas que desenvolvem projectos de investigação contínuos e lançam produtos novos no mercado. Consequentemente, o seu espaço de acumulação e a sua afirmação enquanto agentes económicos são limitados. No entanto, observa-se mais recentemente alguma preocupação por parte das firmas em inovar, especialmente em segmentos onde ocorre alguma inserção em cadeias globais.
Os fluxos interregionais são importantes nas políticas de desenvolvimento. Iva Miranda Pires comparando os fluxos entre Portugal e Espanha afirma que mesmo sendo países vizinhos as relações económicas entre Portugal e Espanha eram irrelevantes até meados da década de oitenta. A adesão conjunta à CEE, em 1986, e a alteração do regime político, que ocorre quase em simultâneo nos dois países, criaram uma nova moldura para enquadrar as relações entre ambos, que se tornaram mais intensas e diversificadas. A intensificação dos fluxos comerciais e de investimento foram os primeiros sinais desse processo de integração e os dois países tornaram-se rapidamente importantes parceiros económicos. Ao mesmo tempo, a supressão das barreiras ao comércio e a maior porosidade da fronteira podem conduzir a um processo de concentração e de reorganização do sistema produtivo no contexto do mercado ibérico.
Com o objectivo de estudar a inserção mundial da agricultura brasileira Mirian Beatriz Schneider Braun; Jandir Ferrera de Lima e Rubiane Daniele Cardoso centraram-se na análise do comércio internacional de produtos agrícolas, tendo como marco regulatório a Organização Mundial de Comércio – WTO, e a actuação da política comercial brasileira dentro desse contexto. Discutiram até que ponto a política comercial brasileira tem os efeitos desejados sobre o sector, uma vez que este é amplamente afectado pela regulação, ou mesmo acções do comércio (ou retaliações) que ocorrem no contexto internacional. Fizeram uma análise histórica da política comercial brasileira e dos seus efeitos sobre os fluxos de comércio de produtos agrícolas brasileiros.
Analisando duas redes organizacionais de âmbito local no sector do calçado em Portugal, Vasco Eiriz e Natália Barbosa disseram que uma rede organizacional é um conjunto de organizações que estabelecem relações inter-organizacionais entre si. No estudo destas relações é possível considerar diferentes níveis de análise: micro, meso, e macro. Na comunicação adoptaram o nível meso de análise considerando duas redes delimitadas geograficamente, correspondentes às duas principais aglomerações de produção de calçado em Portugal. Procuraram compreender de que forma estas duas redes locais – a de Felgueiras e a de São João da Madeira – interagem entre si e favorecem a competitividade. Os resultados obtidos evidenciam de forma clara diferenças competitivas entre a rede de Felgueiras e a rede de São João da Madeira ao nível das características das suas empresas constituintes, produtos e mercados. Estas diferenças competitivas permitem compreender de que forma as duas redes interagem entre si em áreas como o desenvolvimento tecnológico, produção, formação profissional, marketing e internacionalização.
A renovação dos factores de competitividade é frequentemente apontada como condição de suporte para a afirmação de países e regiões num contexto global e sectorial em que se alarga a expressão baseado no conhecimento. Para os sistemas produtivos regionais a inovação assume um papel determinante em resposta à necessidade de transformação qualitativa dos segmentos tradicionais de criação de valor acrescentado e à necessidade de operar uma diversificação da base económica em torno de sectores emergentes, afirmaram Rui Gama e Ricardo Fernandes. Uma parte significativa destas questões encontra-se presente no Algarve e motivaram a iniciativa de elaboração de um Plano Regional de Inovação (PRIAlgarve), processo enquadrado pela CCDR Algarve e ancorado no CRIA - Centro Regional para a Inovação do Algarve. A elaboração do PRIAlgarve ocorre numa fase crucial para o desenvolvimento da região, em “phasing-out” do objectivo Convergência, confrontada com a quebra acentuada de recursos de financiamento através dos fundos estruturais e em fase preparatória de instalação de um Pólo Tecnológico.
Procurando investigar em que medida o território no qual a empresa está imbricada funciona como alavanca ou travão do seu processo de internacionalização, J. Freitas Santos e J. Cadima Ribeiro, afirmam que recensão das principais teorias explicativas do envolvimento internacional da empresa, procuram identificar o papel reservado ao espaço. Nesta digressão, num primeiro momento, deram relevo às etapas do processo de internacionalização da empresa. Seguiram a análise das teorias que ignoram o espaço e que centram a sua explicação nas diferenças de taxa de juro entre os países, na dotação factorial, nas imperfeições do mercado e nas vantagens da empresa e num terceiro momento, equacionaram o papel dos distritos industriais e dos meios inovadores como alavancas para o processo de internacionalização das organizações.
Mirian Beatriz Schneider Braun; Rubiane Daniele Cardoso e Diego Bonaldo mostraram de forma genérica as transacções comerciais brasileiras com os principais blocos económicos das diversas regiões do planeta, e a partir daí fizeram uma avaliação clara da real importância do Mercosul para a balança comercial brasileira. Em termos de Mercosul, os dados demonstram a intensa participação do Brasil e Argentina nos fluxos comercias e por outro lado fica claro que os demais países pouco alteraram seus fluxos de comércio após a criação do bloco, sendo ainda pouco actuantes no comércio regional.