terça-feira, julho 03, 2007

Ciência numa ilha

Temos bons investigadores, até com reconhecimento internacional, e temos matéria-prima para trabalhar na investigação, falta-nos a devida atenção política para esta temática. É possível fazer mais, o que existe não é suficiente para a galopante evolução do nosso tempo, inclusive, e atendendo ao que produzimos, poderíamos ser um “farol” internacional da ciência. É inegável que a ciência e os seus produtos sempre foram e serão uma vantagem para a humanidade. Os aparentes malefícios são superados em grande distância pelos benefícios. Pessoas e territórios beneficiam com a investigação científica e com o conhecimento que daí resulta. Na Ilha Terceira possuímos um pólo da Universidade dos Açores dedicado, em particular, à agricultura, à alimentação e ao ambiente. Ora, são três temáticas de topo nas preocupações mundiais e três dos assuntos que mais necessitam de investigação na actualidade, pelo que a aposta nesta ciência contribuiria para que a Ilha Terceira e os Açores não continuem neutros como escala do progresso socioeconómico. É a sabedoria científica que poderá encontrar respostas para manter a nossa especificidade, assegurar a fiabilidade dos nossos produtos, proteger e conservar o meio natural, fabricar novos produtos, produzir novas tecnologias, entre outros e outros proveitos. Possivelmente, teremos de produzir leite mais abundante em determinados constituintes que são mais úteis para a tecnologia e para a saúde do consumidor. Na certeza, a produção de carne nos Açores é um universo, ainda muito desconhecido, onde urge estudar profundamente o produto carne e as suas consequentes vantagens comparativas. Decisivamente temos de utilizar eficazmente o melhoramento genético como ferramenta do desenvolvimento pecuário. Imperativamente, a alimentação bovina suscita em toda a Europa dúvidas e preocupações, pelo que novas combinações alimentares são essenciais. Conscientemente torna-se urgente promover uma Agricultura cada vez mais sem químicos. Estes são na realidade alguns exemplos, que só a ciência pode responder. Em concreto a biotecnologia é uma grande alavanca para estas respostas. Resta, contudo, saber se este potencial de desenvolvimento tem sido convenientemente utilizado na Ilha e nos Açores, ou melhor, existe interacção entre quem produz, quem transforma, quem consome e quem investiga. Certamente que não existe uma ténue ligação entre todos, até mais nas palavras isoladas do que nos actos, aliás, onde está o dialogo entre todos no estabelecimento de estratégias. Temos bons investigadores, até com reconhecimento internacional, e temos matéria-prima para trabalhar na investigação, falta-nos a devida atenção política para esta temática. É possível fazer mais, o que existe não é suficiente para a galopante evolução do nosso tempo, inclusive, e atendendo ao que produzimos, poderíamos ser um “farol” internacional da ciência. Em grande medida e retirando algumas excepções, o conhecimento que é produzido nestas áreas da agricultura, ambiente e alimentação parece que está enclausurado, ninguém o vê ou sabe dos seus resultados. Não circula informação ou existe formação com base nos novos conhecimentos. Temos um potencial adormecido na Ilha e nos Açores. Temos uma vantagem em estado latente. (in Opinião do Diário Insular)