Percepção de risco sobre alterações climáticas: Estudo exploratório na ilha Terceira-Açores
Realizaram-se as provas públicas de defesa da Tese de Mestrado em Educação Ambiental de Maria Manuela de Melo Figueiredo com o título "Percepção de risco sobre alterações climáticas globais: Estudo Exploratório na Ilha Terceira - Açores" orientada pela Professora Maria Luísa Pedroso de Lima do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e pelo Professor Félix Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
Neste estudo exploratório pretendeu-se identificar o modo como a população da ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, percepciona, concebe e se posiciona face aos riscos das alterações climáticas, de modo a fornecer pistas que permitam uma comunicação de risco mais eficaz sobre esse assunto.
Os terceirenses revelam elevada preocupação com as alterações climáticas globais, embora essa problemática não seja considerada tão priotitária como o terrorismo e a SIDA que ocupam o topo das suas preocupações. Os grupos mais preocupados com as alterações climáticas globais são as mulheres e os mais velhos (dos 50 aos 64 anos).
Os riscos das alterações climáticas globais são percepcionados pelos terceirenses como sendo "muito ameaçadores" tendo "efeitos catastróficos", de "exposição involuntária", considerado um risco "novo" embora "conhecido da ciência", com "efeitos visíveis", tendencialmente previsíveis e controláveis.
Os modelos mentais dos terceirenses, obtidos através da associação de palavras a ideias, indicam que os termos "alterações climáticas" e "aquecimento global" são próximos mas não coencidentes, e estão associados ao aquecimento da atmosfera e aos seus impactos directos como o degelo das calotes polares, o aumento do nível médio da água do mar, a desertificação e as secas. Afectivamente, associam esses termos a algo negativo, onde 96% dos inquiridos afirma ter receio dessas alterações. Essas associações estão em consonância com as previsões dos especialistas, para as ilhas de pequena dimensão.
Apesar da concordância entre as preocupações e a previsão de impactos feita pelos especialistas, alguns conceitos confundem-se na mente dos terceirenses como os conceitos de clima e de tempo, e de alterações climáticas e deplecção da camada de ozono, que embora ligeiramente relacionáveis, dizem respeito a fenómenos distintos.
Os terceirenses, maioritariamente consideram que os efeitos nefastos das alterações climáticas globais se farão sentir com maior grau em locais longe do arquipélago. Essa percepção é explicada pelo "efeito da familiaridade" ou de "identificação com o local" que nega o risco a que os indivíduos estão sujeitos, opondo o risco pessoal ao risco generalizado.
Por vezes, defende-se que as causas das alterações climáticas globais são naturais, para justificar a inacção. Os terceirenses consideram que a principal causa das alterações climáticas globais é antropogénica.
As fontes de informação, onde os terceirenses obtiveram conhecimentos sobre essa problemática foram a televisão, a rádio e a Internet. Relativamente às fontes preferidas para receber informação desse teor, referem a televisão, Jornais e revistas e Internet.
Relativamente ao Tratado de Quioto, a grande maioria posiciona-se favoravelmente, havendo 24,5% dos inquiridos que desconhecem as suas intenções e conteúdos.
Os terceirenses reinvendicam uma mudança da sociedade, melhorada continuamente, através de reformas, o que quer dizer que não estão interessados em alterações bruscas ou ropturas no modelo social actual.
A maioria dos inquiridos prioritiza a qualidade ambiental relativamente ao desenvolvimento económico tradicional. Consideram que as áreas a apostar devem ser a Educação e a Indústria. A segunda prioridade das apostas deve centrar-se no ambiente e na agricultura.
A maioria dos inquiridos confia nas Escolas, na televisão e na rádio para a promoção da temática das alterações climáticas globais e desconfia das informações sobre esta temática se forem veículadas pelos os partidos políticos e Governo Regional.
Foram identificados grupos de indivíduos que se encaixam nas visões do mundo da teoria cultural, como a materialista, a fatalista e a hierárquica, todavia, a grande maioria dos terceirenses situam-se entre a visão materialista e fatalista do mundo, que em parte se opõem.
(in Diário Insular)
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