quarta-feira, junho 13, 2007

Novos ambientes de cura

Jean Watson, professora de enfermagem Jubilada pela Universidade do Colorado, USA, e fundadora do “Center for Human Caring” partilhou em presença o seu vasto conhecimento com os profissionais açorianos na Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo (ESEnfAH) da Universidade dos Açores, Campus de Angra do Heroísmo.
Jean Watson escreveu o seu primeiro livro em 1979 e continua a ser considerada pioneira no estudo da enfermagem como uma disciplina científica que une a racionalidade e a sensibilidade. A teoria sobre o Cuidado Transpessoal faz de Jean Watson a mãe de um novo paradigma em cuidados de saúde. De passagem pela Europa, a investigadora deu formação na Terceira.
Em vez de um enfermeiro ministrar analiticamente um tratamento a um doente, quer-se que o técnico de saúde saiba comunicar, interagir, conhecer para então depois proporcionar o cuidado necessário. O objectivo é a cura global do paciente e a satisfação do prestador de ajuda. Este é o ponto de partida para as muitas teorias criadas, e já colocadas em práticas por todo o mundo, de Jean Watson. A enfermeira sénior encontrou também na ilha Terceira exemplos da aplicação do modelo de enfermagem pós-moderno de “Cuidar-Curar”.

Depois de ter proferido a conferência “Post-Modern Nursing Model” (“Modelo de Enfermagem Pós-Moderno”), a investigadora orientou dois workshops para meia centena de professores e alunos sobre o assunto, numa iniciativa da ESEnfAH, inserida no projecto ICE.


Jean Watson mostrou-se surpreendida aos jornalistas pela disseminação dos seus estudos, explicando que, no fundo, o que se perspectiva neste novo paradigma “é saber responder às necessidades de cada doente, é ter de recorrer a um complexo e altamente criativo processo para encontrar as melhores soluções”. Soluções que, exemplificou, nos EUA tem levado departamentos e mesmo hospitais a adoptarem novos comportamentos por parte do seu corpo de enfermeiros: “há quem tenha transformado quartos em verdadeiros santuários de meditação para os enfermeiros; tem-se ritualizado com espiritualidade a lavagem de mãos; são afixadas mensagens positivas nos quartos dos doentes; há quem recorra à música para agradar os pacientes; são feitas massagens com pedras relaxantes; etc”. Assim, a enfermagem, conta-nos, é vista como uma disciplina científica, como ciência e arte e como uma profissão centrada no humanismo. Ela personifica o desenvolvimento de uma consciência de cuidado presente na prática, no ensino, na teorização e na pesquisa: “tem de haver uma prática reflexiva da enfermagem”. A preocupação com uma mudança de valores, fá-la apontar para uma visão mais abrangente acerca do cuidado, unindo racionalidade e sensibilidade e tornando a enfermagem num processo interactivo entre quem cuida e quem é cuidado. Jean Watson afirma que não se pode dissociar a prática da enfermagem sem outras áreas de conhecimento como a filosofia, a teologia, a educação, a psicologia ou a antropologia. A perspectiva humanística do cuidado quer abandonar “o modelo do diagnóstico da doença e buscar a humanidade da cura”, equacionando-se as suas dimensões psicológicas, espirituais e sócio-culturais. Encontrar o equilíbrio, “o centro”, como diz, entre corpo e mente deverá ser a meta de qualquer intervenção em saúde. Nesta fulcral profissão de cuidar-curar, o enfermeiro assume um papel ainda mais importante: “o enfermeiro detém a única profissão em que acaba por ser o elo de ligação entre o hospital, os médicos e a família”. Uma vez que o seu modelo de cuidados transpessoais tem configurado a prática de milhares de enfermeiros em todo o mundo, Jean Watson advoga uma maior atenção e investimento nesta abordagem da enfermagem. Depois de conquistados os progressos tecnológicos da medicina da era moderna, a enfermagem precisa de redescobrir a sua essência e devolver, às suas práticas, “a arte de cuidar”. “É preciso interromper o actual padrão de funcionamento da enfermagem. É preciso encontrar novas formas de cuidar. É preciso criar um novo ambiente de cura”.


(In Humberta Augusto em A União)