domingo, julho 01, 2007

Lançamento do livro "Vulcão Aberto"


Decorreu, no dia 29 de Junho de 2007, no Centro do Mar, na cidade da Horta, ilha do Faial, o lançamento do livro "Vulcão aberto" de António Silveira e Maria do Céu Brito.

A apresentação do livro foi feita pelo Prof. Félix Rodrigues, docente do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores a convite dos autores e do Professor João Gonçalves do Departamento de Oceanografia e Pescas, também da Universidade dos Açores.

Deste “Vulcão Aberto” como um peito, de António Silveira e Maria do Céu Brito, prefaciado pelo Professor Doutor Victor Hugo Forjaz, brotam: poemas, dilemas, visões, ilusões, inquietações, lamúrias, experiências, vivências, incongruências, e acima de tudo, três enormes paixões pela natureza.
Há 50 anos, diz Maria do Céu Brito: “Explosões violentas, jactos de cinza, nuvens de vapor negro, efervescente; repuxos, correntes de lava e deslizamentos de terras, alteraram a geologia da ilha - soterraram as casas e os solos produtivos; destruíram as culturas, as plantas, as árvores e os pastos dos animais; envenenaram as águas, as aves e os peixes. A atmosfera de cinza e de enxofre; os constantes abalos de terra; o mar aceso com descargas eléctricas transformaram a ilha numa paisagem negra e desoladora”, mas não é disto que o livro trata.Este ódio é, neste livro, seguido de uma transformação em amor.

“Por aqui passa o tempo e tudo aquilo que desconheço”, afirma a autora, como se não houvesse tempo para nascer mas houvesse sabedoria suficiente para o contar até morrer. Não sei se se refere a nós ou às “rochas imensamente vivas” do vulcão, nascidas da “pulsação da terra” e “devassadas pelo tempo, pela erosão dos astros e pela vertigem do sol rasante”.

Procura-se olhar a vida nos pequenos musgos e líquenes que nos enfeitam a solidão de ilhéus. Ínfimos oásis de vida, como o são a felicidade e o regozijo. A mesma felicidade e regozijo que nos dão, a vida e a morte de um vulcão. Quase que são transparentes na essência, quase que são omnipotentes na sobrevivência, como a violência viva, ou a memória de uma ilha, brilhantemente retratada, com palavras cortantes.

Ilustrada, com encostas recortadas,
Areias espalhadas,
Odor a maresia,
Entre real e fantasia.

Vê-se o medo, fala-se do medo:

Do medo que com sua física,
Tanto produz: carcereiros,
Edifícios, escritores,
Este poema; outras vidas.

Como diz Carlos Drummond de Andrade, ou daquele que está “associado à música e às percepções emprestadas ao olhar” como diz a autora.
Aqui relata-se e fotografa-se a experiência de ter provado o ópio dos Capelinhos. Ópio esse, reconhecido desde o início da sua formação pelo Professor Víctor Hugo Forjaz, pressentido pela Maria do Céu Brito e captado pelos olhos parados e extasiados de António Silveira.
Só um olhar inebriado é capaz de ver:
-luas pousadas sobre areia preta-dourada,
-corações conservados em bagacina à espera de um transplante,
-tocas de dragão que outrora cuspiram fogo,
- soutiens esquecidos pelas amantes de Vulcano,
-ou uma luz ao fundo do túnel.
Cada imagem vale mais do que mil palavras. Cada palavra encerra outras mil, por terem sido pesadas ou eleitas entre aquelas que reflectem a essência da relação do homem com um vulcão.
O mar abriu-se e deixou jorrar lava pelo “Désir de être un volcan”.
Os olhos abriram-se e captaram em imagens esse desejo.
O peito abriu-se para deixar sair o desejo de o poetizar.
Há magnetismos profundos nos Capelinhos. 50 anos que se revelaram ao amanhecer e ao anoitecer.
Amanheceu-se com a curiosidade do saber.
Procuraram-se os meios de diagnóstico.
Observa-se, desenha-se e reconstrói-se os Capelinhos neste livro com imagens e palavras.
Fotografa-se e escancara-se a essência de um vulcão:

O temor,
O agnosticismo,
A fragilidade
A cegueira,
A força,
A negritude,
E o magnetismo.

“Vulcão Aberto” não é um livro, é uma biblioteca inteira de emoções. Lê-se tantas vezes quantas a nossa necessidade de entender a paisagem e os sentimentos que os Capelinhos nos despertam.