domingo, abril 22, 2007

Zonas húmidas - Paúl da Praia da Vitória único nos Açores

Um paul é uma zona húmida. Podem ser considerados cinco tipos de zonas húmidas: as marinhas, as estuarinas, as lacustres, as fluviais e as palustres. Os pauis junto com as turfeiras e os pântanos incluem-se nesta última categoria.
Segundo a definição constante na Convenção de Ramsar, da qual Portugal é signatário desde 9 de Outubro de 1980, uma zona húmida é uma zona de pântano, charco, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda os 6m.
“A Convenção sobre Zonas Húmidas constitui um tratado inter-governamental adoptado a 2 de Fevereiro de 1971, na cidade iraniana de Ramsar, relativo à conservação e ao uso racional das Zonas Húmidas” (Farinha et al., 2001).
A situação de transição entre o meio aquático e o terrestre confere a estas zonas características muito especiais, nomeadamente uma grande biodiversidade. São tidas, actualmente, como importantes “reservas genéticas, habitats privilegiados de fauna e flora, reguladores bio-climáticos locais, de controle de contaminação, de controle de sedimentos, de educação e investigação, de actividades de lazer, de produção de recursos e de valor patrimonial físico e estético”(Dugan 1990; Skinner&Zalewski, 1995; Farinha & Trindade, 1994 referidos em Barata, 2002).
A escassez deste tipo de zonas a nível mundial (2% do território) e a nível europeu (3% do território) tem transformado a sua conservação num dos objectivos prioritários das políticas actuais de Conservação da Natureza.
O Paul da Praia da Vitória, na ilha Terceira-Açores, é uma lagoa costeira associada à existência de um graben e de um sistema dunar localizada na proximidade do centro urbano da cidade da Praia da Vitória. Como zona húmida que é, o Paul é um ecossistema de elevada produção primária capaz de servir de suporte à vida selvagem nomeadamente a aves que o utilizam como área de refúgio e de nidificação. A enorme importância das zonas húmidas é actualmente um facto aceite e cientificamente fundamentado. Apesar disso e, na sequência de milénios de História, tal importância continua a ser ignorada por uns e relegada para segundo plano por outros, em nome de intervenções que destroem completamente aquele tipo de ecossistema, invocando razões que se prendem com questões de crescimento económico que nunca pode ser confundido com desenvolvimento dada a sua falta de sustentabilidade. O Paul da Praia da Vitória pertence pois a um determinado tipo de ecossistema escasso à escala mundial, europeia e da Macaronésia. Constitui, pela sua localização em pleno Atlântico Norte, a meia distância entre o continente americano e europeu, um ponto estratégico para as aves que, por diversas razões, entram em rotas marginais a quando das suas migrações. Assim, ao longo dos tempos, têm sido registadas presenças de aves quer do continente europeu quer do continente americano .



As zonas húmidas ao longo da História sempre foram consideradas zonas marginais necessitadas de intervenção, que quase sempre se resumia a operações de enxugo, para serem aproveitadas como zonas de cultura dada a riqueza do seu substrato de várzea.
O sucesso do futuro Parque Turístico/Ambiental do Paul (em construção desde segunda-feira), na Praia da Vitória, dependerá da intervenção humana que ali decorra, assume o historiador Francisco Maduro Dias, que, há alguns anos, chamou a atenção para o potencial daquele espaço e, mais tarde, despertou o interesse de uma equipa de cientistas do pólo de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, que realizou diversos estudos sobre aquela zona húmida. Maduro Dias, assume que o Paul da Praia pode tornar-se no exemplo perfeito de “diálogo entre o homem e a natureza”.“Em boa verdade, aquele local não é uma extrema maravilha biológica, comparável às maravilhas incluídas em diversas listagens internacionais. Aquele não é um local onde existam os últimos “pica-paus amarelos”; mas é um local onde se coloca uma oportunidade maravilhosa áquela comunidade humana, é um local capaz de mostrar a inteligência da natureza em surgir diante dos olhos do homem, dando aos praienses algo que mais nenhuma cidade açoriana consegue: espaço verde verdadeiro, natural e capaz de uma dinâmica impressionante”, argumenta.“O Paul da Praia pode ser visto como um jardim, que se lhe forem criadas condições, pode tornar-se exuberante e catalisador da presença humana. Mas tudo isso depende da inteligência humana, nomeadamente em ali criar as condições para que tal aconteça”, sublinha o investigador.

“ESPAÇO ÚNICO...”

A opinião de Maduro Dias é corroborada pelo Professor Paulo Borges da Universidade dos Açores. Este investigador sublinha que o Paul da Praia “é um local único em termos ecológicos, que vive da mistura da água salgada com a água doce”. No entanto, o cientista apela a que “haja cuidado especial na movimentação de terras naquele local, para que não se percam qualidades únicas”. Paulo Borges, contudo, reconhece que a notícia do alargamento da zona de água é importante e aplaudida, “já que de aumenta a disponibilidade hídrica no local para a fauna que ali passa”, particularmente várias espécies de aves migratórias. “Em boa verdade, o projecto que está a ser implementado pela actual Câmara da Praia da Vitória respeita muito daquilo que o grupo de trabalho foi indicando, o que é de salutar, já que o objectivo em mente nessa altura era criar um espaço de interacção entre o homem e a natureza, criando-se condições a esta para que se desenvolva ainda mais”, reconhece Maduro Dias, alertando apenas para a necessidade dos materiais escolhidos serem integrados nesse pensamento.

OBRAS EM CURSO...

Começaram na segunda-feira as obras de construção do que virá a ser (após o final de 2008) o Parque Turístico/Ambiental do Paul, na Praia da Vitória. O projecto contempla locais para a observação de aves, já que o paul é um “hot-spot” para ornitólogos e observadores de aves. Em paralelo, será construído também um centro interpretativo, e serão distribuídos pelos percursos pedonáveis equipamentos com informação, dando ao visitante a possibilidade de adquirir mais conhecimento sobre a importância daquele local. Ao longo do percurso pedonável vão ser construídas zonas dedicadas a várias actividades: um parque infantil e um skate-park (localizados nos espaços onde, hoje, já se encontram equipamentos do género), um miradouro e uma zona de desporto livre, além de todo um conjunto de edifícios de apoio. Este parque está integrado no projecto da marginal da Praia da Vitória.

(in Câmara Municipal da Praia da Vitória e Diário Insular)