domingo, março 25, 2007

Combater o exodo insular-potencialidades dos pequenos espaços-o caso da Terceira

Realizou-se no dia 24 de Março, pelas 20:30 horas, no Rádio Club de Angra um debate sobre "A Ilha Terceira no Contexto Regional Açoriano". Esse debate integrado nas comemorações dos 60 anos do Rádio Clube de Angra, foi moderado pelo Dr. Ferraz da Rosa e contou com as intervenções do Dr. Sérgio Ávila, Vice-Presidente do Governo Regional dos Açores e o Professor Félix Rodrigues da Universidade dos Açores.
Resume-se aqui a intervenção do Prof. Félix Rodrigues:
A centralidade geográfica da ilha Terceira permitiu durante séculos que também fosse esse o local de maior centralidade económica do Arquipélago Açoriano, todavia, o movimento combinado da centralização económica e da expansão da massa trabalhadora em São Miguel retirou-a dessa centralidade histórica.
A Terceira não é só história é também um viveiro de ideias que pretendem vingar, quase sempre por oposição à “continentalidade regional” assumida por São Miguel. A Terceira assume-se por seu lado, como o fiel da balança regional colhendo apoios das ilhas mais pequenas na defesa dos interesses desses pedaços de terra desprovidos de dimensão demográfica. Creio que é pelo facto de ser a segunda ilha mais populosa e de não ter peso demográfico suficiente, para se opor à metade do arquipélago que vive em São Miguel, que sente a necessidade de ser mediadora das questões relacionadas com o desenvolvimento harmónico dos Açores. Há necessidade de distinguir oposição a S. Miguel de bairrismo: o bairrismo apoia-se em argumentos facciosos e irracionais, enquanto que a oposição é uma defesa democrática de um ponto de vista ou de uma estratégia. Por vezes o relacionamento Terceira/São Miguel, e vice-versa, tende a cair no bairrismo em detrimento da “oposição” a ideias e a modelos.
Voltando à história, que sem ela também a Terceira não vive, é que se percebe que esta terra tenha sido o fiel da balança nas questões liberais e nas questões da independência dos Açores. Mediar ou fazer pender, exige esforço e necessidade de comunicação. Desde cedo que a rádio se implantou na Terceira com o Rádio Club de Angra em 1947. Dez anos mais tarde temos a primeira emissão de televisão em Portugal, em 1957 (pelos americanos) mas também na Terceira. A União é um dos jornais mais antigos do país. Uma ilha, com tão reduzida população possui dois jornais diários: A União e o Diário Insular. Nesta ilha a comunicação tem um peso deveras importante e a crítica já faz parte da tradição e da cultura popular e erudita. Tudo isso tem feito com que a Terceira seja uma ilha aberta a novas ideias e promotora de novas experiências que nem sempre as mantêm, por falta de liderança e empenhamento individual e colectivo. Tem potencialidades para ser um pólo atractivo e combater o êxodo insular que pode ter consequências mais nefastas que o êxodo rural nos territórios continentais.
Na modernidade e no contexto mundial, a base das Lajes desempenha no novo mapa-mundo um papel quase semelhante ao Porto de Angra do Heroísmo nos mapas do velho mundo. É o pé da América na Europa. É ao mesmo tempo o conforto, na perspectiva de protecção e segurança da região e também o seu desconforto quando os inquilinos entram em desvario.
Poder-se-á perguntar se a afirmação da Terceira no contexto internacional, nacional e regional não se deve mais aos seus inquilinos e visitantes do que aos próprios terceirenses? Os terceirenses sempre foram abertos e hospitaleiros, divertidos e trabalhadores, apesar de haver gente que discorda, e, empenhados. Também são derrotados. Poucas vezes foram vencedores porque a força é ditada na maioria dos casos pelos números. A dimensão demográfica não se impõe às pessoas que aqui vivem, mas impõe-se ao espaço que estas ocupam.
Qual o futuro para a Terceira? Talvez o seu desígnio seja o de continuar na posição que lhe confere o seu nome, ou então o de lutar sempre para se manter na segunda divisão regional em termos económicos e demográficos, porque neste momento não há nada previsível que destrone São Miguel. Nesse campeonato, existem outras modalidades em que a ilha se pode afirmar como sejam o turismo cultural, o turismo rural, o turismo inter-ilhas e o turismo ecológico. No turismo paisagem, os Açores já tem um campeão que é São Miguel, e no ecológico, tem um grande rival que é o Pico. A sucessão dos tempos fez com que diversas lógicas ficassem sobrepostas num mesmo espaço daí que Angra do Heroísmo, na Terceira, se afirme como Cidade Património Mundial e como tal modelo organizacional para todo o Arquipélago. Aliar essa componente à componente de turismo da natureza colocaria a Terceira num patamar diferente do que ela hoje ocupa no panorama turístico regional.


A importância da função administrativa e comercial justifica a escolha de sítios bem colocados na rede de transportes regionais, nacionais e internacionais tais como encruzilhada de caminhos marítimos ou portos de carga. A Terceira possui um elevado potencial regional nesse domínio ou até mesmo nacional ou internacional que não tem sido eficientemente explorado quer por empresários locais quer pelas autoridades locais e regionais. A Terceira tem que se globalizar.
Na agricultura a Terceira pode afirmar-se na agricultura biológica porque São Miguel é e será o campeão da agricultura convencional.
A Terceira pode afirmar-se também na Educação, tanto nas letras, para as quais revela grandes aptidões, mas também nas ciências, não em todas, mas nalgumas mais específicas. É preciso para isso iniciativa da população, mas também apoios sociais, não obrigatoriamente governamentais, mas também passando por aí. A Terceira tem muitas potencialidades, como todas as outras ilhas. Precisamos aproveitá-las, tornando-as complementares e não competitivas.
A Terceira contribuirá para um desenvolvimento integrado do Arquipélago, se o que ela quiser, não for obrigatoriamente o mesmo que todos os outros querem.