Combater o exodo insular-potencialidades dos pequenos espaços-o caso da Terceira
A Terceira não é só história é também um viveiro de ideias que pretendem vingar, quase sempre por oposição à “continentalidade regional” assumida por São Miguel. A Terceira assume-se por seu lado, como o fiel da balança regional colhendo apoios das ilhas mais pequenas na defesa dos interesses desses pedaços de terra desprovidos de dimensão demográfica. Creio que é pelo facto de ser a segunda ilha mais populosa e de não ter peso demográfico suficiente, para se opor à metade do arquipélago que vive em São Miguel, que sente a necessidade de ser mediadora das questões relacionadas com o desenvolvimento harmónico dos Açores. Há necessidade de distinguir oposição a S. Miguel de bairrismo: o bairrismo apoia-se em argumentos facciosos e irracionais, enquanto que a oposição é uma defesa democrática de um ponto de vista ou de uma estratégia. Por vezes o relacionamento Terceira/São Miguel, e vice-versa, tende a cair no bairrismo em detrimento da “oposição” a ideias e a modelos.
Voltando à história, que sem ela também a Terceira não vive, é que se percebe que esta terra tenha sido o fiel da balança nas questões liberais e nas questões da independência dos Açores. Mediar ou fazer pender, exige esforço e necessidade de comunicação. Desde cedo que a rádio se implantou na Terceira com o Rádio Club de Angra em 1947. Dez anos mais tarde temos a primeira emissão de televisão em Portugal, em 1957 (pelos americanos) mas também na Terceira. A União é um dos jornais mais antigos do país. Uma ilha, com tão reduzida população possui dois jornais diários: A União e o Diário Insular. Nesta ilha a comunicação tem um peso deveras importante e a crítica já faz parte da tradição e da cultura popular e erudita. Tudo isso tem feito com que a Terceira seja uma ilha aberta a novas ideias e promotora de novas experiências que nem sempre as mantêm, por falta de liderança e empenhamento individual e colectivo. Tem potencialidades para ser um pólo atractivo e combater o êxodo insular que pode ter consequências mais nefastas que o êxodo rural nos territórios continentais.
Na modernidade e no contexto mundial, a base das Lajes desempenha no novo mapa-mundo um papel quase semelhante ao Porto de Angra do Heroísmo nos mapas do velho mundo. É o pé da América na Europa. É ao mesmo tempo o conforto, na perspectiva de protecção e segurança da região e também o seu desconforto quando os inquilinos entram em desvario.
Poder-se-á perguntar se a afirmação da Terceira no contexto internacional, nacional e regional não se deve mais aos seus inquilinos e visitantes do que aos próprios terceirenses? Os terceirenses sempre foram abertos e hospitaleiros, divertidos e trabalhadores, apesar de haver gente que discorda, e, empenhados. Também são derrotados. Poucas vezes foram vencedores porque a força é ditada na maioria dos casos pelos números. A dimensão demográfica não se impõe às pessoas que aqui vivem, mas impõe-se ao espaço que estas ocupam.
Qual o futuro para a Terceira? Talvez o seu desígnio seja o de continuar na posição que lhe confere o seu nome, ou então o de lutar sempre para se manter na segunda divisão regional em termos económicos e demográficos, porque neste momento não há nada previsível que destrone São Miguel. Nesse campeonato, existem outras modalidades em que a ilha se pode afirmar como sejam o turismo cultural, o turismo rural, o turismo inter-ilhas e o turismo ecológico. No turismo paisagem, os Açores já tem um campeão que é São Miguel, e no ecológico, tem um grande rival que é o Pico. A sucessão dos tempos fez com que diversas lógicas ficassem sobrepostas num mesmo espaço daí que Angra do Heroísmo, na Terceira, se afirme como Cidade Património Mundial e como tal modelo organizacional para todo o Arquipélago. Aliar essa componente à componente de turismo da natureza colocaria a Terceira num patamar diferente do que ela hoje ocupa no panorama turístico regional.
A importância da função administrativa e comercial justifica a escolha de sítios bem colocados na rede de transportes regionais, nacionais e internacionais tais como encruzilhada de caminhos marítimos ou portos de carga. A Terceira possui um elevado potencial regional nesse domínio ou até mesmo nacional ou internacional que não tem sido eficientemente explorado quer por empresários locais quer pelas autoridades locais e regionais. A Terceira tem que se globalizar.
Na agricultura a Terceira pode afirmar-se na agricultura biológica porque São Miguel é e será o campeão da agricultura convencional.
A Terceira pode afirmar-se também na Educação, tanto nas letras, para as quais revela grandes aptidões, mas também nas ciências, não em todas, mas nalgumas mais específicas. É preciso para isso iniciativa da população, mas também apoios sociais, não obrigatoriamente governamentais, mas também passando por aí. A Terceira tem muitas potencialidades, como todas as outras ilhas. Precisamos aproveitá-las, tornando-as complementares e não competitivas.
A Terceira contribuirá para um desenvolvimento integrado do Arquipélago, se o que ela quiser, não for obrigatoriamente o mesmo que todos os outros querem.
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