A actividade “11 dias pelo clima”, promovida pela Quercus, decorreu no dia 29 de Janeiro de 2007 no Auditório do Ramo Grande da Praia da Vitória e no Centro Cultural em Angra do Heroísmo e prossegue a nível nacional.
Na Praia da Vitória, após a exibição do filme "Uma verdade inconveniente" houve um debate em torno das problemáticas das alterações climáticas globais e das medidas de mitigação. No debate participaram os Professores Francisco Ferreira da Universidade Nova de Lisboa, Mário Alves e Félix Rodrigues da Universidade dos Açores.
Em Angra do Heroísmo, o debate contou com a presença dos professores Francisco Ferreira da Universidade Nova de Lisboa e os Professores Alfredo Borba, Eduardo Brito de Azevedo e Félix Rodrigues da Universidade dos Açores. A iniciativa de Angra foi uma iniciativa conjunta da Quercus, Ecoteca da Terceira, Montanheiros e Gê-Questa.
Os “11 dias pelo clima” fazem a contagem decrescente até à realização de uma palestra, em Portugal, pelo ex-candidato à presidência dos Estados Unidos, Al Gore, a 8 de Fevereiro de 2007.
De acordo com o Prof. Félix Rodrigues, o Arquipélago dos Açores é responsável por cerca 2,5 por cento dos gases de estufa emitidos em todo o país. A criação intensiva de bovinos tem um peso importante neste valor. “Se tivermos em conta que nos Açores existe cerca de um bovino por cada habitante, as emissões de metano têm um peso importante". A produção bovina emite perto de 43 mil toneladas de metano por ano. Para converter esse gás num poder de estufa equivalente a CO2 é necessário multiplicar as emissões de CH4 dos animais por 21”. Também a criação de suínos tem um peso não desprezável, com cerca de 2900 toneladas de metano por ano, bem como de aves, com 655 toneladas do mesmo gás anualmente. A estes valores, há que adicionar a emissão anual de cada pessoa.
As emissões anuais de gases com efeito de estufa açorianas rondam os 2 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano.
O Professor Alfredo Borba, pró-reitor da Universidade dos Açores, chamou a atenção para a possibilidade da agricultura nos Açores poder, com a subida de temperatura, começar a atravessar uma “fase negra”. “Vivemos uma época de bem-estar. A agricultura é hoje mais fácil do que há 30 ou 40 anos atrás. "Com o agravar da subida da temperatura, pode-se assistir à falta de água para as produções".
O Professor Eduardo Brito de Azevedo apresentou os principais resultados do Projecto SIAM, para o Arquipélago dos Açores, dando ênfase à precipitação, evapotranspiração e temperatura.
De acordo com o Professor Francisco Ferreira, o olhar lançado sobre o problema das mudanças climáticas pode mudar com o lançamento do quarto Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas, apresentado a 1 de Fevereiro de 2007 em Paris. “Com o primeiro relatório, colocava-se de lado a hipótese das alterações climáticas serem provocadas pela acção humana. Com o segundo, já se recomendavam medidas. Com o terceiro, surge o protocolo de Quioto, que obriga governos e empresas. Com este quarto relatório pode-se ter uma noção ainda mais nítida do que está em jogo”.
Na opinião do Professor Francisco Ferreira, “é preciso localizar o que podemos fazer, não apenas sensibilizar as pessoas. As pessoas já sabem que o aquecimento global é um problema, resta dizer-lhes o que podem fazer para o combater”.
O Professor Francisco Ferreira, também dirigente da Quercus, referiu que o combate às mudanças climáticas passa por duas linhas de acção.“No documentário de Al Gore, ele diz que a única coisa que é renovável nos Estados Unidos são os votos. É preciso forçar os decisores políticos a tomar medidas”. No entanto, produzir resultados eficazes não passa apenas por pressionar o poder político, mas por mudanças no dia a dia dos cidadãos, como “Mudar as lâmpadas que se usam mais para outras de potência menor e escolher bem os electrodomésticos. O frigorífico por exemplo é responsável por 30 por cento do consumo de energia familiar".