“Sol de Junho, madruga muito”, “No Outono, o Sol tem sono”
Félix Rodrigues
Se o Sol “madruga muito” em Junho, isso deve-se ao facto de ser observado mais cedo no horizonte do que no Inverno. Devido à inclinação do eixo da Terra, a época estival é o período de maior de luminosidade natural. É também pela mesma razão, mas em sentido oposto, que surge o provérbio “No Outono, o Sol tem sono”, isto é, o astro-rei encontra-se numa declinação, mais baixa, mais uma vez resultado da inclinação do eixo da Terra, dando a impressão, a um observador terrestre localizado no hemisfério Norte, de que efectivamente, o Sol está mais baixo.É senso comum que o dia e a noite têm durações idênticas com períodos de 12 horas. Isso só acontece no equador (em todas as estações do ano) e duas vezes por ano, durante os equinócios, noutras latitudes. A latitudes diferentes da do equador, a duração dos dias e das noites são diferentes ao longo do ano. Os solstícios de Inverno e Verão podem ser definidos a partir dos dias mais curtos e mais longos, respectivamente, tal qual como o fazem os provérbios anteriores. Como é sabido, são os equinócios e solstícios que marcam o início das estações do ano (Verão, Outono, Inverno e Primavera), tanto no hemisfério Norte como no hemisfério Sul, e podem ser obtidos através da duração do dia solar, medida a partir do momento em que metade do Sol cruza o horizonte, a nascente, e o momento em que cruza o poente, com excepção, evidentemente dos observadores localizados sobre a linha do equador.Se calcularmos a duração dos dias ao longo do ano para a latitude dos Açores, verificamos que os dias mais longos, com 13 horas e 51 minutos, ocorrem no mês de Junho, enquanto que os mais curtos ocorrem no início do Inverno, com apenas 10 horas e 27 minutos de luz. Assim, o Sol de Junho, começa mais cedo do que o habitual (madruga muito) e também se deita mais tarde. Quanto ao segundo provérbio, é a partir do início do Outono que os dias começam a ficar com menos de 12 horas, ou seja, o Sol começa a ficar com “sono”, tendo os dias, em pleno Outono (31 de Novembro), uma duração de 10 horas e 35 minutos.Os princípios físicos subjacentes aos provérbios anteriores estão correctos para a latitude dos Açores e para as latitudes de Portugal continental, todavia, perdem sentido se aplicados a outros países de língua oficial portuguesa.O provérbio “Janeiro fora cresce uma hora” precisa de ser devidamente interpretado para se entender o que efectivamente traduz. Se “fora” for entendido como início do mês de Janeiro, ou seja, que começa a vigorar o mês de Janeiro, o provérbio não se adequa, uma vez que se subentende que Janeiro terá uma hora a mais do que o mês de Dezembro. Janeiro tem sensivelmente 27 minutos a mais de luz por dia do que os dias de Dezembro, ou seja, aproximadamente meia hora. Entendendo “fora”, como terminado que é Janeiro, Fevereiro tem dias com mais uma hora de luz do que Janeiro, assim tal provérbio já será verdadeiro, pois a diferença entre as horas de sol dos primeiros dias de Janeiro e os últimos dias de Fevereiro é de 1 hora e sete minutos, ou seja, aproximadamente uma hora.O provérbio “Em Janeiro uma hora por inteiro e, quem bem olhar, hora e meia há-de achar” não faz muito sentido do ponto de vista científico. Falta-lhe, para o precisar, do mês de comparação ou de referência. Se compararmos com Dezembro ou Fevereiro, tal não é verdade, todavia se a comparação for feita com Novembro, será verdadeiro, mas não faz muito sentido porque as comparações, para serem estendíveis, ou são feitas com o mês anterior ou com o mês posterior, ou até entre estações do ano. Ditado semelhante ao anterior “Janeiro tem uma hora por inteiro”, não parece ter, tal como o anterior, qualquer enquadramento científico à latitude dos Açores, pois afirma que é em Janeiro que aparece uma hora a mais. Tal não é verdade. Para que se possa verificar essa conclusão, basta consultar a tabela que se apresenta no final deste documento.A duração dos dias e das noites pode ser calculada em função da latitude de um dado lugar e de um dia do ano específico, pela expressão:
ondeTd é a duração do dia, em horas,φ é a latitude do local,δ é a declinação do local na data pretendida,A declinação, por sua vez, pode ser calculada pela próxima expressão:
onde n é o número correspondente ao dia juliano pretendido (o dia juliano é um dos números da série consecutiva de 365 dias ou 366, consoante o ano seja bissexto ou não, por exemplo: 1 de Janeiro = 1; 31de Dezembro = 365).Todos os ângulos e resultados parciais de ângulos devem ser expressos em graus, para que as expressões forneçam resultados correctos.
ondeTd é a duração do dia, em horas,φ é a latitude do local,δ é a declinação do local na data pretendida,A declinação, por sua vez, pode ser calculada pela próxima expressão:
onde n é o número correspondente ao dia juliano pretendido (o dia juliano é um dos números da série consecutiva de 365 dias ou 366, consoante o ano seja bissexto ou não, por exemplo: 1 de Janeiro = 1; 31de Dezembro = 365).Todos os ângulos e resultados parciais de ângulos devem ser expressos em graus, para que as expressões forneçam resultados correctos.
Na tabela seguinte apresenta-se a duração do período de luz na ilha Terceira, para cada dia do ano de 2009 e que permite justificar a veracidade, ou não, dos provérbios anteriormente referidos.Se pretendermos, por oposição, calcular a duração da noite em cada dia do ano, torna-se evidente que esta será 24 horas menos a duração do dia.
(in Desambientado)
Etiquetas: Ano Internacional da Astronomia, divulgação científica, Félix Rodrigues
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