segunda-feira, julho 13, 2009

Chegou o “momento decisivo” no combate às térmitas

Existem técnicas de combate às térmitas que custam de 1500 a 2000 euros e tudo aponta para que possam ser aplicadas nos Açores. O controle total da praga levaria perto de 20 anos, mas Paulo Borges acredita que chegou o “momento decisivo” em que Governo e autarquia vão agir.
Estiveram na ilha Terceira, num workshop sobre combate às térmitas usando a técnica da temperatura, Bernhard Schachenhofer (Empresa Thermo Lignum, Áustria) e Michael Linford (empresa Therma Pure, EUA - Califórnia). Qual foi o objectivo da presença destes dois entendidos na ilha?
Chegaram na quarta-feira e ao longo de dois dias estiveram com os nossos técnicos e alunos a visitar várias casas e vários edifícios públicos para tentarem compreender a estrutura das casas nos Açores e verificarem se as técnicas de combate às térmitas que usam se podem aplicar aqui ou não. À partida parece que não haverá dificuldades nessa aplicação. Agora tudo passa por ultrapassar várias fases mais complicadas. O Governo pode decidir fazer um teste científico, controlado, com o apoio da Universidade, no sentido de testar as duas técnicas (ou uma delas, será sempre decisão do Governo), para ver qual é a melhor e se mata de facto as térmitas. Passa-se depois para uma segunda fase em que se tem de verificar quais são as empresas nos Açores que querem comprar o franchising da tecnologia. Comprar implica as empresas daqui irem aprender ou eles virem ensinar. No caso dos Estados Unidos dizem que vem cá uma semana ou duas dar formação. Este senhor é licenciador, já não gere empresas, apenas ensina. O da Áustria é mais complicado porque este não dá a sua tecnologia de mão beijada. Quererá manter uma ligação e um controle de qualidade a essa empresa. Isso porque diz que o nome da sua tecnologia tem já uma grande reputação e há uma qualidade que não se pode perder. Aí o processo pode sair mais caro.
Há alguns anos fizeram-se experiências com a técnica de fumigação. O que correu mal?
Na Europa não é permitido utilizar-se os produtos que são usados na fumigação. Por isso estamos a avançar para as técnicas de temperatura, que têm a vantagem de não haverem químicos envolvidos. É só aquecer as casas a 70 ou 80 graus. Basicamente são utilizadas turbinas que injectam ar quente nas habitações. A técnica da Áustria é mais complexa, porque associa água, para que seja lançado ar quente húmido. As pinturas não caem. Por exemplo em museus tipos de madeiras muito sensíveis ficam protegidas, porque é sempre mantido um nível de humidade aceitável, para a madeira não estalar. A técnica austríaca vai ser sempre muito mais cara, mas também é se calhar a única técnica que é possível aplicar em igrejas, em palácios ou em edifícios mais requintados. A técnica americana é mais para sótãos, telhados, estruturas em habitações normais. Sai mais barato. Pelo que nos dizem uma casa normal, um sótão, um telhado custará, pelo trabalho de um dia inteiro, cerca de oito horas, perto de 1500, 2000 euros, o que é aceitável. Existem estas técnicas já testadas e sem entraves no espaço europeu.
O que falta agora para que o problema das térmitas seja finalmente atacado?
O que falta é haver investimento ou do Governo ou dos privados, para aprenderem determinada técnica e instar-se essa oferta no mercado regional. Penso que só agora o Governo está mais sensível a este problema. Finalmente percebeu que é preciso fazer qualquer coisa. Isso pode estar relacionado com a pressão que se fez sentir, principalmente, de Ponta Delgada, onde há um problema gravíssimo, o que pode ter desbloqueado a questão. Começa tudo a mexer um bocado, porque o problema existe.
Nota essa abertura…
Sim. Nesta nova legislatura o professor Álamo Meneses, secretário regional do Ambiente, está a dinamizar a questão.
Foi ele que pagou a vinda destes dois especialistas…
Não sei já quem financiará a experimentação. Mas qual é o grau de esperança de que o combate às térmitas, de forma estruturada, finalmente avance?
Da forma como as coisas estão já não há volta atrás. Já houve avanços quer da secretaria do Ambiente como da Habitação e, agora, da Câmara de Angra (com colocação de armadilhas na cidade). Agora tem-se mesmo de andar para a frente. Se se vai fazer tudo o que preconizei, que são seis aspectos diferentes… Neste momento só se está a fazê-lo em dois, que são as novas técnicas e ataque in loco aos adultos, que a Câmara de Angra está a fazer.
Quais são os outros quatro aspectos?
É preciso ver o que se passa nos Açores realmente, mais informação ao público em geral, formação de empresas e empresários e novas legislações para melhor fiscalização dos produtos que entram e saem. Legislação mais rigorosa para os edifícios que se vendem… Acredito que será a parte mais difícil. A questão da venda de edifícios é complicada...Se as pessoas estiverem bem informadas, não será um problema tão grande, Agora, quando se vende um imóvel faz-se uma escritura que devia ser acompanhada por um certificado em como este está isento de térmitas.
Mesmo assim, já afirmou à RDP/Açores, que mesmo com um plano estruturado, o problema das térmitas demoraria 20 anos a resolver.
Sim, os dois especialistas em questão dizem que para chegar a uma situação em que a maior parte dos edifícios não tenha térmitas ou tenha poucas, à dimensão de Angra ou Ponta Delgada, demoraria sensivelmente esse tempo. Se uma empresa fizesse aqui uma casa por dia, seriam 20 dias úteis, 20 casas por mês. Num ano são 200 casas. Se pensarmos que existem umas duas mil, são 10 anos. Em Ponta Delgada a situação é muito má. Seriam em média 20 anos…
O que pode acontecer nos Açores enquanto não se avança com técnicas de erradicação desta praga?
O que acontece é que as pessoas têm prejuízos. E não são apenas cidadãos individuais. Há prédios do Governo que vão ser alvo de intervenções que podem atingir os 500 mil euros. Já estamos a falar de dinheiros públicos. Agora, é claro que todo este processo de que estivemos a falar não acontece da noite para o dia. A infra-estrutura toda para ser montada levará alguns anos. É preciso vontade governamental e privada para que vá em frente.
Pode ser algo que dinamize a economia local?
De certa forma sim, sobretudo se não existir apenas uma empresa. São alguns postos de trabalho, que depois geram outros, noutras áreas adjacentes, como o tratamento de madeiras. Além disso, de 10 em 10 anos é preciso voltar a fazer a intervenção, por isso é uma área onde existirá sempre procura.
Que visão têm estes dois especialistas da situação que se verifica nos Açores?
Consideram a situação grave, não só para o património construído, mas também para as pessoas. A vantagem aqui para os americanos é que eles dizem que a maior parte dos muros são de pedra, reduz-se mais à parte de cima, o que até desce o preço. Por eles começavam já, sem teste nenhum. O Governo pode optar por isso. Será menos trabalho para mim… Porque de facto, o que acontece é que a Universidade dos Açores é mal compreendida. Muitas pessoas dizem que estamos nós aqui e não se vê nada… É muito mentira porque se estamos nesta fase é porque a Universidade dos Açores tem trabalhado muito. O nosso papel é mostrar aquilo que precisa de ser feito. E nós temos feito isso. Temos um livro publicado, sete ou oito relatórios, um portal na Internet. Os fundos foram para esses projectos, que estão aí. Não sei o que podemos fazer mais. Agora é preciso fazer. E finalmente vejo que a Câmara de Angra e o Governo estão a agir. Mas tem sido difícil…
É possível que existam ilhas e zonas afectadas por esta praga de que não temos conhecimento?
Claro. O meu aluno Orlando Guerreiro apresentou ontem um estudo, tendo em conta a potencial distribuição futura. Seria interessante irmos a essas áreas e verificarmos se não são detectadas já algumas concentrações de térmitas. Podia controlar-se logo o problema.
Armadilhas apanham térmitas em Angra
Está em vias de ser assinado um protocolo entre a Universidade dos Açores e a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo para a colocação de armadilhas para térmitas em dez ruas da cidade. De acordo com o especialista em térmitas e professor da Universidade dos Açores, Paulo Borges, embora não tenha ainda sido assinado o protocolo já está a ser preparada a colocação, que deve acontecer em meados deste mês.“São 10 ruas diferentes de Angra, as armadilhas ficarão suspensas nas lâmpadas de iluminação. Em cada rua serão visitadas dez casas e colocada, se possível, se as pessoas acederem, uma armadilha dentro de cada casa, vistoriando a situação, em termos de madeiras, se têm térmitas… Assim teremos uma ideia da evolução da situação face ao que existia em 2004”. As armadilhas serão colocadas no centro da cidade, “até São Pedro e São Bento”, explica.
(In Diário Insular)

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