sábado, maio 02, 2009

Si nu ka rotcha, nca tem kaudibai; si nu kebe kamiki ta sai

Tomaz Dentinho
No passado dia 27 de Abril realizou-se um workshop em Ponta Delgada sobre o tema turismo e sustentabilidade onde participaram cerca de cem pessoas provenientes dos Açores, do Continente, de Espanha, da Holanda, da Polónia e de Cabo Verde. Vale a pena relatar um pouco aquilo que de mais relevante terá ocorrido na sessão plenária e mesa redonda, ficando certamente para outra ocasião a análise dos trabalhos apresentados nas sessões paralelas. Na sessão plenária foi muito interessante ouvir das palavras do Secretário Regional da Economia que manifestou a sua disposição para ouvir e estimular as análises científicas sobre o tema “turismo e sustentabilidade” que serve para completar, complementar e actualizar os estudos encomendados pelo Governo. Foi igualmente revelador ouvir a exposição de Francisco Tavares, Presidente da Associação de Municípios de Cabo Verde e do Município da Assomada que relatou os benefícios e malefícios do desenvolvimento turístico de Cabo Verde, explicitando que grande parte dos benefícios vão para o exterior e os visitantes procuram mais o Sol e o Mar do que a especificidade cultural das Ilhas. Mas a grande atracção foi a conferência de Peter Nijkamp, professor de economia regional na Universidade Livre de Amesterdão e consultor de vários organismos internacionais. Disse-nos que a crise internacional é mais uma revolta dos consumidores que querem outros bens e serviços do que uma crise tecnológica, energética ou ambiental que ponha em causa o modelo de desenvolvimento de mercado. Deu-nos igualmente o enquadramento teórico, os métodos de análise e as metodologias de apoio à decisão que podem servir de base aos estudos sobre turismo e sustentabilidade. Terminou explicitando a importância da cultura de cada sítio que serve para atrair pessoas que querem ver coisas diferentes e não iguais, mas lembrou também que essa mesma cultura pode ser destruída quando a procura turística mais moldando a uniformização das culturas de acordo com os alemães ou americanos que as procuram. No entanto porventura o momento mais revelador do workshop foi a mesa redonda que contou com a participação dos Presidentes dos Municípios da Ilha de São Miguel. Primeiro porque transmitiram a ideia clara de que o turismo de São Miguel não se pode desenvolver enquanto os custos de transporte para os turistas for muito elevado, sendo necessário pensar seriamente na liberalização dos voos para aquela ilha conforme explicitou Rui Melo, Presidente da Câmara de Vila Franca. Segundo porque esclareceram e bem que a coordenação do turismo entre os municípios de São Miguel não anula a ideia base de que cada município tem uma estratégia de desenvolvimento turístico específica. Terceiro porque nos disseram que preferem turistas continentais que gastam mais e se enquadram melhor na cultura local do que turistas subsidiados provenientes dos países nórdicos que poucos efeitos criam no comércio local. Finalmente que o turismo baseado nos grandes cruzeiro pode ser benéfico mas provoca grandes impactos negativos num curto espaço de tempo, nomeadamente quando vinte e duas camionetas desembarcam ao mesmo tempo nas festas da Ribeira Grande ultrapassando a capacidade de carga de todos os serviços públicos. Como sintetizou Francisco Tavares em crioulo de Santiago “Si nu ka rotcha, nca tem kaudibai; si nu kebe kamiki ta sai”. Que quer dizer: temos que nos entender para que caibamos todos; se não nos entendermos não serei eu a sair.
(in A União)

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