terça-feira, maio 19, 2009

“As campanhas ambientais funcionam”

Em “As atitudes face ao ambiente em regiões periféricas”, Rosalina Gabriel e Emiliana Silva concluem que os açorianos demonstram atitudes pró-ambientais em áreas como os resíduos sólidos, fruto das campanhas de sensibilização. As professoras da Universidade dos Açores defendem agora o mesmo investimento na área da água.


Este livro parte de uma comparação entre as atitudes ambientais dos açorianos e dos habitantes de Castelo Branco. Como surge este ideia?
Emiliana Silva: Surge um pouco na sequência de eu ter feito um trabalho sobre atitudes ambientais com a população das Fontinhas. Foi a minha tese de mestrado. Na altura, eu e a professora Rosalina éramos colegas de gabinete, soubémos que havia um projecto de investigação e avançámos, de forma apaixonada e empenhada.
Rosalina Gabriel: O que estas duas regiões têm em comum é o facto de serem periféricas. Os Açores por se tratarem de ilhas e Castelo Branco por estar relativamente distante dos centros de decisão, tanto de Lisboa como do Porto. No caso de Castelo Branco a barreira é terrestre, no do arquipélago é marítima. Já se fizeram estudos semelhantes em todo o país, mas nunca focando particularmente as regiões periféricas. A amostragem que fazem é da população em geral e há mais informação sobre os centros urbanos do que sobre regiões mais pequenas, com menos peso.
Emiliana Silva: O nosso trabalho, para além de tratar do tema do ambiente em geral, desenvolve também uma série de afirmações para problemas específicos, como a água, os resíduos sólidos ou a biodiversidade.
Como é que este estudo foi colocado no terreno?
Rosalina Gabriel: Pensámos que uma amostra interessante seria mil e duzentas pessoas, todas adultas. Estratificámos por idades: Entre os 18 e os 25 anos, dos 26 aos 45, e mais de 45. Temos o mesmo número de pessoas em cada um destes escalões. Outro aspecto foi o residencial, ou seja, a distinção entre o rural e o urbano.
Emiliana Silva: Também tivemos em conta uma amostra de 600 cidadãos em Castelo Branco e 600 nos Açores. Depois de termos delineado isto, foram feitos os inquéritos, de porta em porta. Surgiu assim este inventário de opiniões.
A que conclusão é que chegaram? Quais são as diferenças entre as duas regiões?
Rosalina Gabriel: Embora as percentagens sejam inferiores às que foram obtidas para o Continente português e países como Espanha e Estados Unidos da América, as atitudes são claramente pró-ambientais.
Emiliana Silva: Penso que as diferenças maiores deram-se nos casos da água e dos resíduos sólidos. Como Castelo Branco é uma zona mais árida, as pessoas acham que há escassez de água e têm uma atitude de poupança. Aqui as pessoas, talvez porque chove muito, achavam que não era uma questão essencial. Pensamos que, se fizéssemos o estudo agora, as pessoas teriam outras respostas… Quanto aos resíduos sólidos, aqui demonstrámos ser mais conservadores e ter atitudes que levam mais à reciclagem e à reutilização, também porque vivemos num espaço limitado.
Podemos concluir que o próprio espaço influencia as atitudes ambientais das pessoas?
Emiliana Silva: Sim, mas não só. Também se trata da própria cultura...
Rosalina Gabriel: Também tem existido um investimento muito grande, de informação, ao nível das câmaras municipais, isto não pode ser negado. É algo que também tem sido feito pelo Governo e, informalmente, através das telenovelas, da publicidade. Enquanto nada disto acontece para a biodiversidade ou até para o consumo da água.
Emiliana Silva: Cá, vemos que a atitude face aos resíduos sólidos também passa muito pela publicidade que passa na televisão, pelos folhetos que a câmara manda… Há sempre uma lembrança. No caso da água, as coisas ainda estão numa fase muito inicial.
Rosalina Gabriel: Um dos factores interessantes é que a faixa etária mais jovem demonstra a atitude mais pró-ambiental face aos resíduos sólidos, mas a faixa a partir dos 45 anos é muito confiante no futuro, não se demonstra muito preocupada com a falta de recursos… Essa confiança no futuro é boa, mas os mais jovens demonstram ser mais realistas. É preciso ver que as pessoas com 45 anos ou mais, por a esperança média de vida estar a aumentar, vão estar na população activa durante muito tempo, influenciar os outros, desempenhar cargos políticos… Seria interessante direccionar campanhas publicitárias também para esta população, que tem, muitas vezes, filhos em idade de aprender. Mesmo assim, a percentagem de pessoas com mais de 45 anos que têm atitudes pró-ambientais face aos resíduos sólidos é, nos Açores, mais elevada do que noutros sítios.
A água é o nosso calcanhar de Aquiles?
Emiliana Silva: Nos Açores as atitudes de confiança em relação à água são muito grandes, isso é claro. É uma área onde se têm de agir, sem dúvida.
O que diferenciou mais as duas regiões?
Rosalina Gabriel: Os açorianos têm atitudes mais pró-ambientais em relação à biodiversidade, por exemplo quanto às áreas protegidas, à diversidade das actividades agrícolas e à presença de espécies endémicas, que também existem na Serra da Estrela.
Emiliana Silva: Penso também que isto, de algum modo, tem sido debatido a nível regional. Somos cativados para manter a nossa paisagem, a nossa diversidade… Mesmo em termos de promoção turística. Comparativamente a Castelo Branco, há um esforço maior das instituições em apelar à protecção da biodiversidade. As campanhas têm sido determinantes nas atitudes ambientais das populações…
Emiliana Silva: Sem dúvida. É errada a ideia de que as campanhas não resultam! Em relação aos resíduos sólidos isso estão por todo o lado, desde as juntas, às câmaras e ao Governo Regional, até à publicidade que passa na televisão. Se isto fosse feito, desta forma continuada, em relação à água, teríamos resultados. De certeza.

(in DI-Revista)

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