TÉRMITAS, MADEIRA E SUSTENTABILIDADE
Maduro Dias
Mesmo sem fazer contas muito complicadas é possível dizer que mais de 75% do nosso património cultural material pode ser afectado pelas térmitas.
De facto, retirando as paredes feitas de pedra ou betão e as peças de metal ou vidro, tudo o que seja feito de algo que contenha “matéria comestível”, digamos assim, poderá, mais cedo ou mais tarde, atrair esses animais.
Quer isto dizer que coisas como mobiliário, livros, roupas, e as partes construídas em madeira dos edifícios, como sobrados e tectos, forramentos, portas e janelas, altares e balaústres, poderão ser afectados.
Começo por aqui porque muita gente, preocupada e com razão, poderá ter a tendência de reduzir a questão ao casario, esquecendo que elas também “lêem” livros, “interessam-se” por roupas, dedicam-se com teimosia a roer as entranhas do mobiliário.
Não é uma questão de antiguidade ou modernidade dos objectos em referência, é, sim, uma questão de elas lhe poderem “meter o dente” e pronto. Qualquer um, de qualquer idade, serve.
Ao longo dos séculos e desde que os seres humanos habitam estas ilhas outras “pragas” já vieram ter connosco.
Lembremos apenas dois exemplos: os ratos e dos pardais. A primeira já é bem antiga e esteve na origem de surtos de peste, a outra já é mais moderna e alguns ainda se lembrarão da sua chegada.
Não fugimos, porém, em nenhum caso. Não deixámos de viver aqui, de ter casas e campos de cereal, apesar dos ratos, ratinhos, murganhos e ratazanas, e o trigo, verdadeira “especialidade” para os pardais, continuou a ser cultivado, pelo menos na Terceira, até ao Sismo de 1980, muito embora já existissem pardais e pardocas, aos saltos por aí em volta, desde pelo menos duas décadas antes.
A ignorância é sempre uma enorme fonte de mal entendidos, de receios injustificados, de atitudes erradas. O que se tem estado a passar com este assunto das térmitas é exemplo de tudo isso.
Cada um, ao modo que sabe ou lhe dizem, vai tentando resolver o “seu” problema, fazendo por esquecer, muitas vezes, que “isto das térmitas” é uma questão global, tão global como a presença de ratos nas nossas freguesias e necessitando do mesmo modo atitudes individuais, colectivas, oficiais e privadas.
Talvez tenhamos de agradecer, enquanto comunidade, o aparente desinteresse governamental sobre este tema, porque isso tem obrigado as pessoas a reunirem-se, a porem em comum problemas e a organizarem-se e isso só é um benefício em democracia.
Por outro lado, talvez devêssemos esperar mais de um entidade – o governo – que administra as nossas contribuições e impostos.
O que gostaria de lembrar aqui hoje é, porém, o enorme campo de trabalho, investigação e produção que existe adormecido, à espera de uma intervenção mais adequada e que deveria, a meu ver, resultar de uma actuação pró-activa dos poderes públicos; essa, sim, ainda pouco palpável.
A madeira é, por assim dizer, o único material 100% reciclável e reutilizável.
As folhas voltam ao estrume, as aparas e bocados servem para lenha ou, melhor ainda, para recobrir pedaços de terreno aumentando a presença de micro-organismos benéficos para os campos. A madeira captura carbono enquanto cresce, o que é bom como contributo para o seu actual excesso, embora não deva ser o único método. Precisamos de proteger nascentes e fixar as “terras de cima”, mais inclinadas.
Enfim, só há razões para se trabalhar com afinco na redução acentuada da presença das térmitas entre nós, ao mesmo tempo que devemos – e acentuo aqui o Devemos – estudar, trabalhar e desenvolver métodos de tratamento das madeiras, de uso das madeiras, de recuperação do que já foi uma das nossas matérias elaboradas de exportação. Lembremo-nos do mobiliário açoriano da época de oiro (sécs. XVI-XVII).
O ponto importante é que esse trabalho tem de ser de todos – incluindo o governo e as autarquias – e não apenas ou maioritariamente nosso e à nossa custa.
Post Scriptum:
O recém aparecido portal http://sostermitas.angra.uac.pt/ é de saudar e apoiar. É preciso continuar!
De facto, retirando as paredes feitas de pedra ou betão e as peças de metal ou vidro, tudo o que seja feito de algo que contenha “matéria comestível”, digamos assim, poderá, mais cedo ou mais tarde, atrair esses animais.
Quer isto dizer que coisas como mobiliário, livros, roupas, e as partes construídas em madeira dos edifícios, como sobrados e tectos, forramentos, portas e janelas, altares e balaústres, poderão ser afectados.
Começo por aqui porque muita gente, preocupada e com razão, poderá ter a tendência de reduzir a questão ao casario, esquecendo que elas também “lêem” livros, “interessam-se” por roupas, dedicam-se com teimosia a roer as entranhas do mobiliário.
Não é uma questão de antiguidade ou modernidade dos objectos em referência, é, sim, uma questão de elas lhe poderem “meter o dente” e pronto. Qualquer um, de qualquer idade, serve.
Ao longo dos séculos e desde que os seres humanos habitam estas ilhas outras “pragas” já vieram ter connosco.
Lembremos apenas dois exemplos: os ratos e dos pardais. A primeira já é bem antiga e esteve na origem de surtos de peste, a outra já é mais moderna e alguns ainda se lembrarão da sua chegada.
Não fugimos, porém, em nenhum caso. Não deixámos de viver aqui, de ter casas e campos de cereal, apesar dos ratos, ratinhos, murganhos e ratazanas, e o trigo, verdadeira “especialidade” para os pardais, continuou a ser cultivado, pelo menos na Terceira, até ao Sismo de 1980, muito embora já existissem pardais e pardocas, aos saltos por aí em volta, desde pelo menos duas décadas antes.
A ignorância é sempre uma enorme fonte de mal entendidos, de receios injustificados, de atitudes erradas. O que se tem estado a passar com este assunto das térmitas é exemplo de tudo isso.
Cada um, ao modo que sabe ou lhe dizem, vai tentando resolver o “seu” problema, fazendo por esquecer, muitas vezes, que “isto das térmitas” é uma questão global, tão global como a presença de ratos nas nossas freguesias e necessitando do mesmo modo atitudes individuais, colectivas, oficiais e privadas.
Talvez tenhamos de agradecer, enquanto comunidade, o aparente desinteresse governamental sobre este tema, porque isso tem obrigado as pessoas a reunirem-se, a porem em comum problemas e a organizarem-se e isso só é um benefício em democracia.
Por outro lado, talvez devêssemos esperar mais de um entidade – o governo – que administra as nossas contribuições e impostos.
O que gostaria de lembrar aqui hoje é, porém, o enorme campo de trabalho, investigação e produção que existe adormecido, à espera de uma intervenção mais adequada e que deveria, a meu ver, resultar de uma actuação pró-activa dos poderes públicos; essa, sim, ainda pouco palpável.
A madeira é, por assim dizer, o único material 100% reciclável e reutilizável.
As folhas voltam ao estrume, as aparas e bocados servem para lenha ou, melhor ainda, para recobrir pedaços de terreno aumentando a presença de micro-organismos benéficos para os campos. A madeira captura carbono enquanto cresce, o que é bom como contributo para o seu actual excesso, embora não deva ser o único método. Precisamos de proteger nascentes e fixar as “terras de cima”, mais inclinadas.
Enfim, só há razões para se trabalhar com afinco na redução acentuada da presença das térmitas entre nós, ao mesmo tempo que devemos – e acentuo aqui o Devemos – estudar, trabalhar e desenvolver métodos de tratamento das madeiras, de uso das madeiras, de recuperação do que já foi uma das nossas matérias elaboradas de exportação. Lembremo-nos do mobiliário açoriano da época de oiro (sécs. XVI-XVII).
O ponto importante é que esse trabalho tem de ser de todos – incluindo o governo e as autarquias – e não apenas ou maioritariamente nosso e à nossa custa.
Post Scriptum:
O recém aparecido portal http://sostermitas.angra.uac.pt/ é de saudar e apoiar. É preciso continuar!
(In DI-Revista)
Etiquetas: Maduro Dias, opinião, Praga, Térmitas
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