Lavoura responsável
António Almeida
A natural polémica que acontece sempre que se discute o preço de leite aos produtores é sempre propícia ao aprofundamento das questões relativas ao sector de lacticínios dos Açores, acrescentando mais informação sobre a situação dos agricultores, das indústrias transformadoras e do funcionamento dos mercados. Numa economia que funciona a formação dos preços resulta de um vasto conjunto de factores e acompanha os fenómenos externos à vontade dos protagonistas onde o mercado mundial dita regras muitas vezes difíceis de contrariar. Saber estar nesse mercado de forma equilibrada e justa não é uma tarefa fácil. A compreensão manifestada pelas cooperativas associadas da Unileite e pelos fornecedores de leite face ao ajustamento dos preços decorrente da sazonalidade, com a redução para o preço de verão, é certamente uma atitude responsável, de quem está informado e compreende o funcionamento do mercado. O facto dos actuais dirigentes da Unileite terem assumido sempre, perante os associados e fornecedores, o discurso verdadeiro e condicionado ao aumento quanto o mercado justifica e a reduzir quando o mercado obriga e disponibilizando toda a informação que permita entender as circunstâncias a cada momento tem permitido contribuir para o fortalecimento de uma atitude responsável num sector com a sensibilidade que a produção de leite e lacticínios têm nos Açores. Segundo indicadores actuais disponibilizados na recente reunião da Unileite o preço de leite está ao nível dos valores praticados na União Europeia o que significa um grande esforço de convergência, que nem sempre é exequível face aos condicionalismos regionais. Se todas as partes cumprirem com a sua responsabilidade, com a lavoura a produzir leite de qualidade, mas com a indústria a pagar de forma justa essa qualidade apenas importa que o governo disponibilize os fundos da União Europeia com a eficácia necessária para acelerar o processo de reestruturação e modernização das explorações leiteiras, das indústrias e também na promoção e valorização dos produtos lácteos no mercado.Por outro lado os apoios e o esforço financeiro e técnico dedicado à investigação e inovação são reduzidos face à importância do sector para os Açores e aos desafios que enfrenta. Nesta matéria ainda existem muitos degraus a subir quer através do recurso a instituições como a Universidade dos Açores quer estimulando a realização de estudos técnicos participada por entidades externas de reconhecida idoneidade. Diálogo permanente e verdadeiro, procurando disponibilizar toda a informação que justifica as boas e as mais difíceis decisões são a melhor receita para manter a estabilidade e para procurar as soluções adequadas para os problemas emergentes dos lacticínios dos Açores. Situação que parece acontecer apenas quando o preço do leite está em discussão. É preciso começar a entender que a competitividade da produção e da indústria deve também ser medida e conseguida através de outros factores para além do preço da matéria prima.
(In Açoriano Oriental)
Etiquetas: agricultura, Leite, opinião
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