segunda-feira, janeiro 19, 2009

Gaza

Tomaz Dentinho

Não vale a pena orientarmo-nos pela posição politicamente correcta. Em 1967 haveria pouca gente em Portugal que defendesse os palestinianos na guerra entre Israel e os Países Árabes. No entanto não foi Israel ou os Países Árabes que mais sofreram com a guerra ou com as suas consequências. Quem sofreu mais com essa e com outras guerras foi o povo da palestina, forjado de muitas origens e crente de várias religiões entre as quais a cristã. E porque não tivemos capacidade e vontade de defender os mais fracos e desprotegidos naquela altura foram eles que acabaram por atacar: - primeiro com o terrorismo de Munique e do Acquile Lauro e de muitos outros, imitando aliás o que os israelitas começaram a fazer quando se começaram a instalar na Palestina; - depois com a Intifada, na sequência da tentativa de ocupação de facto da faixa de Gaza e da Margem Ocidental do Jordão; - e, mais recentemente, com a aliança com o Irão, de onde vêm armas, meios financeiros, capacidade organizativa e lógicas de uma guerra de suicidas e de terror. Neste processo passa a ser difícil identificar os bons da fita e é nessa certeza que convém redefinir a nossa postura, não só retomando princípios mas sobretudo propondo e implementando gestos. Caso contrário faremos como Pilatos que há dois mil anos lavou as mãos e foi conivente com fenómenos de injustiça grave que se passaram naquele local. Que gestos podemos ter face à Palestina e face a Israel? Já passou o tempo de tomarmos o partido ideológico dos bons ou dos maus. O que é preciso é pensamento político que nos responsabilize e que reduza a influência do dinheiro do petróleo e da América naquela carnificina. É pelo pensamento que recebemos a Graça de Deus e essa influência não está confinada à esfera pessoal. Além disso tem a enorme vantagem de bafejar todos os que se interessem por resolver o problema: os israelitas, os palestinianos, os árabes, os americanos, os europeus e todos os demais.
Manifestamente a solução do muro proposta pelos americanos e permitida por israelitas e árabes não é solução. No entanto, se atendermos à resolução de outros conflitos, a solução não é apenas tecnológica de ter ou deixar de ter muros mas também económica e institucional. E o que agravou o desastre do Médio Oriente é a destruição dos sistemas económicos e institucionais de paz e a sua substituição por sistemas económicos e institucionais de guerra. E isto dá-se porque a tecnologia do muro e da segurança leva a isso mesmo. Talvez que a abordagem económica e institucional possa conduzir a cenários mais simpáticos. Tomemos outros casos que pareciam insolúveis e que agora já estão menos presentes nos telejornais. A Irlanda do Norte e o Iraque. Na Irlanda do Norte foi fundamental o desenvolvimento económico da República da Irlanda e o enquadramento da União Europeia. Na verdade uma diluição das vantagens da cidadania nacionalista com um aumento das vantagens da cidadania irlandesa e europeia.
No Iraque foi essencial o retomar das instituições como a aristocracia tribal, o funcionalismo público, e o exército; tudo o que Paul Bremer tentou destruir quando chegou ao Iraque e cujo efeito foi desastroso. Depois foi fácil desmobilizar de cada aldeia e de cada cidade os elementos empregados pela Al Qaeda, pelas Milícias Iranianas ou pelas forças de resistência. Na Palestina, em Israel e no Líbano o caso pode ser mais complicado mas com alguma coragem a União Europeia tem um papel a desempenhar como está a fazer a medo nos Balcãs. Porque não integrar estes pequenos países no Espaço Europeu. Porque razão temos metade de Chipre e Malta e não temos a Palestina, Israel e o Líbano? Afinal de contas é isso que a União Europeia sabe fazer melhor. A Paz.

(In A União)

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