Ensino Superior e empreendedorismo
Investigação nacional revela que os estudantes das ilhas são os que menos criam negócios próprios. A vontade até existe e está mesmo acima da manifestada por outras regiões, Lisboa incluída, mas depois não se passam das palavras aos actos. Uma tendência que pode ter consequências no desenvolvimento das ilhas.
Conclusão: entre 33 estabelecimentos do ensino superior em Portugal, a Universidade dos Açores é a terceira com o menor número de alunos a criarem o seu próprio emprego. A questão parece irrelevante, mas, na verdade, assume importância preponderante, sobretudo em tempos dominados pela crise económica em que o desemprego abunda entre os jovens, sobretudo os licenciados. Mas vamos por partes.
Desde a década 90 que é quase unanimemente aceite que o empreeendedorismo é um dos principais motores da economia, sendo fulcral no processo de rejuvenescimento tecnológico – é o surgimento de novas empresas, ávidas de bater a concorrência, que estimula a criação de melhores soluções.
Da mesma forma, desde 1997 que está identificada a relação entre o empreeendedorismo e o nível de desenvolvimento local ou regional. Ou seja, uma certa localidade tem maior tendência a desenvolver-se quantos mais habitantes empreendedores tiver. Por outro lado, a criação de um negócio é uma porta que se abre – muitas vezes a única – para os grupos económica e socialmente marginalizados (nomeadamente as mulheres e as minorias) conseguirem o sucesso e independência financeiros.
Feita a contextualização teórica, convém ainda salientar que, entre 18 países da União Europeia, Portugal tem uma das melhores taxas de empreeendedorismo. Aliás, os nove em cada 100 indivíduos que criaram o seu próprio negócio em 2007 representam uma duplicação da taxa registada apenas três anos antes, em 2004.
Falhas por resolver
Perante a pertinência do tema, uma professora e investigadora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto quis saber o que pensam os universitários portugueses deste tema, afinal de contas, uma nova geração que teoricamente será a bem mais colocada de sempre para passar das palavras aos actos e ‘fazer pela vida’, como o povo costuma dizer.
E as conclusões gerais não são muito animadoras. Aversão ao risco, baixa criatividade e pouca familiaridade com o processo de criação de novos negócios são alguns dos factores que inibem a criação de novas empresas entre os estudantes portugueses. Apesar de 70% dos 4413 inquiridos em todo o país se mostrarem atraídos pela ideia de poderem abrir o seu próprio negócio e 35% terem intenções de o fazer, as taxas de empreendedorismo efectivo são muito baixas.
Apenas 6,4% dos alunos chegaram mesmo a fundar uma ou mais empresas, enquanto pouco mais de 11% já começaram a dar os primeiros passos para o fazer.
Ou seja, mais de 80% dos estudantes nunca esteve envolvido de qualquer forma neste processo. Mais preocupante será o facto de poucos compreenderem o tipo de assuntos com que um empreendedor é confrontado quando leva uma ideia para o mercado. Diz a autora do estudo que a criação de planos e conceitos de negócios, quais as técnicas que ajudam a perceber o que o mercado necessita, ou mesmo como financiar legalmente um novo conceito de negócios (o conhecido micro-crédito, que até valeu um Nobel da Paz ao seu fundador, é um exemplo) são questões tabu para os jovens.
Além disso, cerca de 16% dos alunos não mostram capacidade para identificar um modelo exemplar de uma pessoa empreendedora ou de uma empresa nacional ou internacional de destaque. Aqueles que o fizeram elegeram Belmiro de Azevedo em Portugal e Bill Gates no Mundo. Refira-se, por último, que as áreas de economia e gestão, seguidas do direito e das ciências sociais, são aquelas em que os estudantes mais se lançam no mercado por sua conta.
Açorianos até têm vontade
Se as falhas apontadas anteriormente pertencem a uma avaliação global que se aplica a todo o país, não deixa de ser verdade que o estudo citado permite uma análise regional deste tema. E aí as coisas pioram para os Açores. Como referido inicialmente, a Universidade dos Açores é a terceira com menor número de estudantes a criarem o seu próprio negócio.
Apenas 2,2% dos alunos que responderam ao inquérito o fizeram. Uma percentagem que fica apenas à frente da Escola Superior Artística do Porto e da Universidade da Beira do Interior, mas distante da média nacional (6,4%) ou do resultado conseguido por regiões de peso semelhante ao dos Açores, como a Madeira (3,3%), Évora (6,3%) ou Bragança (7,9%).
Quando a pergunta passa a ser se, apesar de ainda não ter criado o seu negócio, o estudante já deu algum passo para concretizar esse objectivo, a classificação é ainda pior. Aqui as ilhas saltam para o último lugar, com os mesmos 2,2% - ou seja, por um lado, é positivo que todos aqueles que optam por este caminho consigam concretizá-lo; por outro, é negativo que mais ninguém esteja a tentar juntar-se-lhes.
A percentagem em causa fica longe dos 11,6% de média nacional e, uma vez mais, distante das comparações antes feitas: Madeira (12%), Évora (14,1%) e Bragança (7,9%). Logo, seguindo o princípio enunciado por Malecki em 1997, estas três regiões têm fortes possibilidades de se desenvolverem mais e mais depressa do que os Açores. É que mesmo ao nível das intenções (gostaria de ter o seu próprio negócio?) os universitários que andam por Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta ficam atrás da média: 31,1% contra 35%. Apenas sete instituições são menos ‘aventureiras’ do que a açoriana.
Mas o problema até poderá nem ser ‘humano’, por assim dizer. Tendo em conta a morada permanente dos alunos (o sítio de onde são e não onde estudam), os Açores até surgem a meio da tabela, com 35,1% dos estudantes originários das nove ilhas a revelarem intenções empreendedoras. Percentagem que fica atrás de Algarve (41,1%), Alentejo (40,5%) e Norte (36,3%), mas acima da média nacional (35%) e de regiões como Lisboa (34,1%), Centro (32%) e Madeira (31,5%).
Se bem que depois os açorianos sejam, das sete regiões, os que efectivamente criam menos empresas ou tenham sequer iniciado o processo e depois desistido.
(In João Moniz - A UNião)
Conclusão: entre 33 estabelecimentos do ensino superior em Portugal, a Universidade dos Açores é a terceira com o menor número de alunos a criarem o seu próprio emprego. A questão parece irrelevante, mas, na verdade, assume importância preponderante, sobretudo em tempos dominados pela crise económica em que o desemprego abunda entre os jovens, sobretudo os licenciados. Mas vamos por partes.
Desde a década 90 que é quase unanimemente aceite que o empreeendedorismo é um dos principais motores da economia, sendo fulcral no processo de rejuvenescimento tecnológico – é o surgimento de novas empresas, ávidas de bater a concorrência, que estimula a criação de melhores soluções.
Da mesma forma, desde 1997 que está identificada a relação entre o empreeendedorismo e o nível de desenvolvimento local ou regional. Ou seja, uma certa localidade tem maior tendência a desenvolver-se quantos mais habitantes empreendedores tiver. Por outro lado, a criação de um negócio é uma porta que se abre – muitas vezes a única – para os grupos económica e socialmente marginalizados (nomeadamente as mulheres e as minorias) conseguirem o sucesso e independência financeiros.
Feita a contextualização teórica, convém ainda salientar que, entre 18 países da União Europeia, Portugal tem uma das melhores taxas de empreeendedorismo. Aliás, os nove em cada 100 indivíduos que criaram o seu próprio negócio em 2007 representam uma duplicação da taxa registada apenas três anos antes, em 2004.
Falhas por resolver
Perante a pertinência do tema, uma professora e investigadora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto quis saber o que pensam os universitários portugueses deste tema, afinal de contas, uma nova geração que teoricamente será a bem mais colocada de sempre para passar das palavras aos actos e ‘fazer pela vida’, como o povo costuma dizer.
E as conclusões gerais não são muito animadoras. Aversão ao risco, baixa criatividade e pouca familiaridade com o processo de criação de novos negócios são alguns dos factores que inibem a criação de novas empresas entre os estudantes portugueses. Apesar de 70% dos 4413 inquiridos em todo o país se mostrarem atraídos pela ideia de poderem abrir o seu próprio negócio e 35% terem intenções de o fazer, as taxas de empreendedorismo efectivo são muito baixas.
Apenas 6,4% dos alunos chegaram mesmo a fundar uma ou mais empresas, enquanto pouco mais de 11% já começaram a dar os primeiros passos para o fazer.
Ou seja, mais de 80% dos estudantes nunca esteve envolvido de qualquer forma neste processo. Mais preocupante será o facto de poucos compreenderem o tipo de assuntos com que um empreendedor é confrontado quando leva uma ideia para o mercado. Diz a autora do estudo que a criação de planos e conceitos de negócios, quais as técnicas que ajudam a perceber o que o mercado necessita, ou mesmo como financiar legalmente um novo conceito de negócios (o conhecido micro-crédito, que até valeu um Nobel da Paz ao seu fundador, é um exemplo) são questões tabu para os jovens.
Além disso, cerca de 16% dos alunos não mostram capacidade para identificar um modelo exemplar de uma pessoa empreendedora ou de uma empresa nacional ou internacional de destaque. Aqueles que o fizeram elegeram Belmiro de Azevedo em Portugal e Bill Gates no Mundo. Refira-se, por último, que as áreas de economia e gestão, seguidas do direito e das ciências sociais, são aquelas em que os estudantes mais se lançam no mercado por sua conta.
Açorianos até têm vontade
Se as falhas apontadas anteriormente pertencem a uma avaliação global que se aplica a todo o país, não deixa de ser verdade que o estudo citado permite uma análise regional deste tema. E aí as coisas pioram para os Açores. Como referido inicialmente, a Universidade dos Açores é a terceira com menor número de estudantes a criarem o seu próprio negócio.
Apenas 2,2% dos alunos que responderam ao inquérito o fizeram. Uma percentagem que fica apenas à frente da Escola Superior Artística do Porto e da Universidade da Beira do Interior, mas distante da média nacional (6,4%) ou do resultado conseguido por regiões de peso semelhante ao dos Açores, como a Madeira (3,3%), Évora (6,3%) ou Bragança (7,9%).
Quando a pergunta passa a ser se, apesar de ainda não ter criado o seu negócio, o estudante já deu algum passo para concretizar esse objectivo, a classificação é ainda pior. Aqui as ilhas saltam para o último lugar, com os mesmos 2,2% - ou seja, por um lado, é positivo que todos aqueles que optam por este caminho consigam concretizá-lo; por outro, é negativo que mais ninguém esteja a tentar juntar-se-lhes.
A percentagem em causa fica longe dos 11,6% de média nacional e, uma vez mais, distante das comparações antes feitas: Madeira (12%), Évora (14,1%) e Bragança (7,9%). Logo, seguindo o princípio enunciado por Malecki em 1997, estas três regiões têm fortes possibilidades de se desenvolverem mais e mais depressa do que os Açores. É que mesmo ao nível das intenções (gostaria de ter o seu próprio negócio?) os universitários que andam por Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta ficam atrás da média: 31,1% contra 35%. Apenas sete instituições são menos ‘aventureiras’ do que a açoriana.
Mas o problema até poderá nem ser ‘humano’, por assim dizer. Tendo em conta a morada permanente dos alunos (o sítio de onde são e não onde estudam), os Açores até surgem a meio da tabela, com 35,1% dos estudantes originários das nove ilhas a revelarem intenções empreendedoras. Percentagem que fica atrás de Algarve (41,1%), Alentejo (40,5%) e Norte (36,3%), mas acima da média nacional (35%) e de regiões como Lisboa (34,1%), Centro (32%) e Madeira (31,5%).
Se bem que depois os açorianos sejam, das sete regiões, os que efectivamente criam menos empresas ou tenham sequer iniciado o processo e depois desistido.
(In João Moniz - A UNião)
Etiquetas: Alunos, empreendedorismo, Ensino superior, estudo
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