sábado, novembro 01, 2008

Videoconferência foi um avanço importante no ensino

José Azevedo*

A escrita foi a primeira tecnologia de ensino à distância. Desde que há livros, que as pessoas podem aprender sem serem pessoalmente ensinadas por outras. Existem, no entanto, componentes do ensino que são mais difíceis na ausência de interacção com um professor e esta sempre esteve presente em formas de ensino à distância, como os cursos por correspondência ou a Tele-Escola. Mas se o ensino à distância antecede a generalização das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), acrescentam estas algo de novo ou constituem, pelo contrário, uma forma nova de fazer a mesma coisa? Penso que as TICs, através do e-learning, trouxeram, de facto, uma alteração radical ao ensino à distância, e por duas razões principais. As actividades de aprendizagem podem ser muito mais diversificadas: para além dos textos, o som, as imagens e o vídeo podem ser mobilizadas de uma forma criativa e de bom efeito pedagógico. O estudante tem a oportunidade de interagir com os conteúdos, pode trabalhar em rede com colegas e formadores, pode expressar-se de outras formas para além da escrita. Mobiliza assim as várias dimensões do processo cognitivo, da memorização à aplicação e à criação. Por outro lado, a interacção com o professor, que se viu ser importante em muitos contextos, tornou-se mais rápida, mais fácil e, sobretudo, mais completa. Existe hoje, de facto, ao dispor dos educadores, uma panóplia de ferramentas que permite praticamente anular o efeito da distância: os estudantes podem trabalhar online sobre um mesmo documento através, por exemplo, de um wiki; podem trocar impressões escritas através de fóruns de discussão electrónicos, os quais podem, ainda, servir para esclarecer dúvidas e programar actividades; podem expressar-se através de blogues, abrindo-se deste modo também ao diálogo com o mundo real. Mas o avanço mais importante na tecnologia aplicada à educação é o da videoconferência. Esta pode ser baseada em equipamentos dedicados, embora o preço destes os coloque apenas ao alcance de utilizadores institucionais. Este tipo de videoconferência implica a deslocação dos estudantes para salas especiais de onde se faz a transmissão, mas possibilita ter aulas interactivas com participantes separados geograficamente. A democratização da videoconferência, no entanto, está a ser feita pelos sistemas de desktop, que permitem transformar qualquer computador pessoal num sistema de comunicação com áudio e vídeo. Das funcionalidades mais limitadas da comunicação pessoa a pessoa de aplicações como o MSN ou o Skype passou-se à criação de salas virtuais, onde várias pessoas podem ver-se e falar umas com as outras. Estas salas têm ainda o equipamento normal numa sala real, como um quadro branco, onde os participantes podem escrever, e o equivalente a um projector de vídeo, no qual podem passar apresentações ou fazer a partilha de ecrã. Estas salas podem, também, ser usadas para trabalhos de grupo, eliminando a necessidade da presença física dos colegas e rentabilizando o tempo de todos. A utilização deste tipo de tecnologias é de particular relevância numa região insular como os Açores, sobretudo no actual contexto de aprendizagem ao longo da vida. Requer-se hoje de uma universidade a formação inicial de um público jovem e com maior mobilidade, mas que também atenda à reconversão/actualização profissional de um público trabalhador e aos interesses culturais do público sénior. Ora estas últimas classes de estudantes têm menor mobilidade e menor disponibilidade de tempo. O e-learning constitui a única forma de proporcionar formação que seja independente da localização geográfica dos estudantes e que permita a estes uma maior flexibilidade na gestão do seu tempo de estudo. A Universidade dos Açores preparou-se para este desafio através de um conjunto de investimentos onde avulta o projecto "Universidade Digital", possuindo hoje uma infra-estrutura tecnológica capaz de suportar os projectos mais arrojados. Dotada de um sistema de gestão da aprendizagem integrado com a área académica e de várias salas de videoconferência espalhadas por três ilhas, é possível já hoje leccionar vários cursos à distância, particularmente ao nível de pós-gradua- ção. O futuro próximo trará mais desenvolvimentos a este nível, prevendo-se, para breve, por exemplo, o arranque do ensino à distância a nível das licenciaturas.
Mais informação em http://www.uac.pt

*Pró Reitor para Tecnologia e Ensino da Universidade dos Açores

(In Expresso das Nove)

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