Regras do Jogo
Hoje proponho-vos dois temas para reflexão: um sobre o desporto, outro sobre a multipolaridade da Universidade dos Açores. O objectivo é chamar a atenção para a definição de “regras de jogo” que promovam o desenvolvimento das pessoas e dos sítios; muito mais do que tentar intervir e criar sistemas e obras insustentáveis.Repensar o desporto nos AçoresO mote para repensar o modelo desportivo da Região é dado numa entrevista publicada na União de ontem (www.auniao.com) feita pelo jornalista Renato Gonçalves a Carlos Couto, assessor do Instituto do Desporto de Portugal. Os factos que o Carlos Couto aponta são os enormes falhanços do futebol profissional nos Açores, com grande gasto para os contribuintes, com inimagináveis desilusões para os adeptos, com desvio de fundos de outras actividades promissoras e com a criação de enormes passivos nos clubes de futebol que embarcaram na ilusão de vitórias pagas com o dinheiro que não lhes pertencia. O erro só é grave porque é persistente. De facto, nada haveria a apontar se fosse possível corrigir os erros crassos da política seguida.Carlos Couto apresenta várias soluções e também aponta o exemplo relativamente bem-sucedido da Madeira. Como sei muito pouco de política de desporto, gostaria de trazer para a reflexão o exemplo dos Jogos Paraolímpicos realizados na China, onde Sara Duarte foi a 5ª classificada no concurso individual de equitação numa prova que decorreu em Hong Kong. Em entrevista que é possível ver na internet, (depois de buscarmos o nome “Sara Duarte” e Olimpíadas no Google) é possível retirar algumas frases importantes da campeã: “O cavalo tem muita força que complementa a força que não temos, mas não conseguimos controlar o cavalo só pela força”; e “Em cada ano temos um objectivo e cada objectivo é um sonho a atingir”. Quem me informou do sucesso de Sara Duarte foi quem criou o cavalo com que Sara concorreu e que lhe foi oferecido pelo criador. Curiosamente o cavalo é proveniente da Ilha Terceira, mas não creio que a comunicação social tenha dado conta do facto apesar de algumas mensagens que reenviei a partir daquelas que me foram enviadas a partir da euforia vivida de Hong Kong. O que acontece nas paraolimpíadas é que cada jogador concorre com um determinado nível de desempenho, sendo esse nível tido em conta na classificação final. Uma espécie de handicap que é correntemente usado no golfe e que permite a cada jogador tentar superar-se a si próprio ao mesmo tempo que concorre com os outros. Porque não fazer o mesmo no desporto regional, incluindo o próprio futebol, afectando a cada clube handicap resultado dos seus desempenhos anteriores e dos jogadores que tem na equipa? Certamente haveria o envolvimento de muito mais atletas e não seria necessário fazer muito desporto para justificar com dinheiro público os aviões da SATA.
Multipolaridade da Universidade
Também ninguém referiu o enorme sucesso conseguido este ano pela Universidade dos Açores ao conseguir preencher grande parte das vagas que foram abertas. Quando as notícias são boas deixam de ser notícias! No entanto, o mais impressionante deste desempenho é que o Campus de Angra do Heroísmo conta com um terço das entradas apesar de ter muito menos de um terço dos meios humanos e materiais da Universidade. E se prestarmos um pouco de atenção aos resultados reparamos que facilmente o Campus de Angra do Heroísmo poderia aumentar o número de alunos se lhe permitissem realizar as propostas sempre negadas de um curso da área das humanidades, de um curso na área da economia e gestão e de um curso na área do desporto. E estes foram os cursos que haveria capacidade de ministrar e alunos suficientes para encherem as vagas mínimas necessárias. Mas muito mais poderia ser feito. Por exemplo, um curso em teatro, para o que existe uma apetência natural nesta ilha, que concentra mais de mil representações e mil artistas em quatro dias de carnaval. O problema é que não se criam regras de jogo claras para que cada pessoa e cada terra sejam levados a dar o máximo que podem dar para servir os outros. Os do desporto preferem importar regras externas que são totalmente ineficazes ao nível regional. Muitos da Universidade continuam a acreditar, espantosamente, que a mente das pessoas é proporcional à dimensão das terras onde residem, em vez de proporem regras de jogo que promovam as mentes em todas as terras. Que pena!
Tomaz Dentinho - Professor do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores.(In Açoriano Oriental)
Etiquetas: opinião, Tomaz Dentinho, Tripolaridade
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home