sábado, maio 17, 2008

Enfermagem tem que se adaptar às novas realidades

Perante os desafios e as novas realidades que resultam das constantes mudanças do mundo, Graça Machado, presidente da assembleia regional da Ordem dos Enfermeiros (OE), defendeu ontem que também a “enfermagem tem de se adaptar às novas realidades”.
A ideia foi expressa na conferência “A Enfermagem na Sociedade Actual”, por ocasião das quintas Jornadas de Enfermagem do Hospital de Santo Espírito de Angra do Heroísmo (HSEAH), que decorrem de 15 a 17 de Maio, no auditório da Escola Superior de Enfermagem.“As pessoas estão mais conscientes dos seus direitos e deveres, das suas necessidades, procuram muito mais o hospital e os serviços de saúde e, portanto, os enfermeiros têm de estar preparados para lidar com estas novas realidades”, considera. Associado a isso está também o facto de hoje em dia os utentes permanecerem pouco tempo nos hospitais, o que no entender da enfermeira vem reclamar “cuidados continuados”. “Enquanto antigamente as pessoas eram internadas e só saiam do hospital quando estavam bem, agora só são internadas para fazer uma intervenção cirúrgica e têm alta muito precoce. Logo nos domicílios ainda precisam dos cuidados de enfermagem e o enfermeiro tem de estar preparado para isso. Trata-se de uma adaptação que está a começar a ser feita com a criação dos ‘cuidados continuados’, e que será colocada em prática em vários sítios por onde o doente vai passando”, explica Graça Machado. Outra matéria apresentada na comunicação da enfermeira relaciona-se com o ensino. A OE, segundo afirma, defende um novo modelo de desenvolvimento profissional dado que as realidades de agora diferem daquelas vigentes há duas décadas atrás.“Os estudantes não têm oportunidade de praticar durante a sua fase de formação inicial das técnicas de enfermagem. Assim que chegam às instituições a realidade é que são largados no meio do trabalho muito rapidamente”. Ainda que existam em Portugal mais de meia centena de escolas de enfermagem, Graça Machado considera que o número de profissionais neste sector “não é demasiado alto”, dado que “as necessidades continuam a ser bastantes”. “Existe possibilidade de empregar todos os formados, a questão é que há muita formação em simultâneo. Enquanto houve muitos anos com pouca formação, de um momento para o outro aumentou. Se tivesse sido um processo gradual hoje em dia as coisas estariam mais facilitadas em termos de mercado de trabalho”, conclui. Trabalhos de investigação mantidos na “gaveta”No final da primeira conferência “Enfermagem na Sociedade Actual”, marcada para o dia de abertura das quintas Jornadas de Enfermagem do HSEAH, Graça Machado deixou aos profissionais de saúde alguns pontos para reflexão, entre eles sobre os trabalhos de investigação realizados pelos enfermeiros. Segundo disse, ao invés de os resultados serem aplicados na prática quotidiana permanecem no meio académico. “Os enfermeiros têm feito grande esforço de formação, com custos familiares e económicos. No entanto não têm grande incentivo por parte das organizações, dado que estas como não consideram que eles têm necessidade de fazer doutoramentos não pegam naqueles resultados para investir na prática do dia a dia”, justifica. Já no que concerne ao modelo “enfermeiro de família”, Graça Machado considera que “não seriam precisas mudanças nas estruturas dos centros de saúde para que os enfermeiros pudessem se organizar”, acrescentando que de acordo com o número existente de enfermeiros, uma vez organizados, “poderiam dar resposta a esse modelo”. Formação “banalizada” Manuel Ávila, presidente das Jornadas, teme pela “banalização” da formação. Uma temática que está no centro das atenções das quintas Jornadas.“A formação é neste momento uma temática pertinente dado que existe uma certa desorganização criada há cerca de quatro anos com a proliferação das escolas particulares. Preocupa-me como enfermeiro o excesso de oferta formativa, pois poderá banalizar a formação”, considera. Este aspecto, segundo Manuel Ávila, leva ao excesso de quadros, embora esta não seja uma situação única do sector da enfermagem mas de uma série de licenciaturas. As quintas Jornadas de Enfermagem do HSEAH que começaram ontem e terminam amanhã, no auditório da Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, trouxeram à reflexão e ao debate, para além do tema principal “Enfermagem na Sociedade Actual”, os sub-títulos “O Desafio da Formação” e “O Compromisso de uma prática segura e de qualidade”.
A iniciativa que encerra amanhã, sábado, terá como última conferência, pelas 12h30, “O Enfermeiro e o exercício da Cidadania”, da enfermeira Ana Sara Brito, presidente da mesa da assembleia nacional da Ordem dos Enfermeiros e Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa.
Sónia Bettencourt


(In A União)

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