segunda-feira, abril 07, 2008

Biotecnologia dá frutos na Região

O Centro de Biotecnologia dos Açores (CBA) vai produzir 100 mil plantas para a reflorestação da Lagoa das Furnas em São Miguel, no âmbito de um projecto do Governo Regional que pretende combater a eutrofização da lagoa com a criação de zonas tampão onde a influência da prática agrícola seja reduzida.
Essas zonas tampão exigem uma grande quantidade de plantas, difícil de conseguir na região, pelo que a opção foi recorrer a métodos biotecnológicos para resolver a questão.
O CBA, localizado no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, desenvolveu “uma tecnologia de ponta que serve para produzir plantas mas que também poderá servir para suportar a floricultura e para muitas outras coisas com interesse comercial”, diz Artur Machado, o director do Centro.

O processo de produção das plantas começa com a recolha de material vegetal, de onde, em laboratório, com condições acéticas, são extraídas um conjunto de células da planta dadora que são depois “desinfectadas” para que se possa iniciar o processo de produção. Este processo começa com a introdução de culturas e depois com a propagação das mesmas, processo que tem um prazo temporal diferenciado consoante quantidade de plantas que se pretende (conseguir quatro plantas a partir de uma leva mês e meio, por exemplo).
Depois disso, o passo seguinte é o enraizamento da planta e só depois abandonam o laboratório para uma estufa, para o processo de aclimatação – que dura cerca de 15 dias – sendo depois transportadas para o local onde serão plantadas definitivamente.
Segundo Artur Machado, esta nova tecnologia traz novidades ao nível do número de plantas que se conseguem produzir e em relação ao processo utilizado.
Este método é fruto de um trabalho de vários anos desenvolvido no Centro de Biotecnologia, em que o processo científico teve que ser adaptado às diferentes condições de cultura de cada espécie e todos os processos de produção em massa foram testados até se chegar a este ponto.
As plantas usadas nesta reflorestação são todas endémicas dos Açores (uva da serra, ginja do mato, pau branco e cedro) e, de acordo, com o director do CBA “ algumas são passíveis de domesticação e no futuro serem plantas com importância agronómica, como por exemplo, a uva da serra, que tem um fruto com muitos antioxidantes e vitaminas, que poderá ter interesse comercial.”
“Este é o exemplo típico do que a tecnologia significa para uma região”, conclui Artur Machado.
Promover a investigação
O Centro de Tecnologia dos Açores existe desde 2004 com o objectivo de promover a investigação nas áreas da biotecnologia, “em que a região e o país tinham um défice”, afirma Artur Machado. Reconhecido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia como uma Unidade de Investigação e Desenvolvimento Nacional, o CBA tem uma grande quantidade de cooperações a nível nacional e internacional, e Artur Machado classifica-o mesmo como sendo “um dos melhores centros a nível internacional”.
Actualmente com 18 pessoas, onde se incluem investigadores estrangeiros, o CBA desenvolve trabalhos na área da biotecnologia alimentar, animal e vegetal, que vão desde a reprodução assistida em equinos, a investigação de genes envolvidos na qualidade do leite, ou a participação no programa Germobanco, uma parceria entre universidades e organizações agrícolas da Mscaronésia, que visou preservar a biodiversidade da região.
Renato Gonçalves
(In A União)

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