terça-feira, março 18, 2008

Parati

Estou em Parati, a uns quilómetros a Sul do Rio de Janeiro, junto à costa. “Para ti”, “Pára-te” ou um nome qualquer índio, a verdade é que este é um dos locais mais maravilhosos do mundo que conheço. Talvez parecido com Korshua na Croácia mas para melhor e mais português, o que é uma enorme vantagem.
Como vos disse ontem, num relato filosófico, chegámos a São Paulo por volta das quatro horas e conseguimos estar na estrada com um carro alugado a álcool já passava das seis da noite. Indicaram-nos que o caminho para São José dos Campos era mais rápido pela auto-estrada “Ayrton Senna” pois a “Dutra” tem muito trânsito de camiões onde pagam menos portagem. Jantámos e dormimos naquela cidade que tem um milhão de habitantes e fica a cerca de 100 quilómetros a norte de São Paulo; é lá que se fazem os automóveis da General Motors e também os aviões de marca brasileira O Brasil é grande, verde, simpático e maravilhoso, é essa a primeira impressão.
Dia treze acordámos cedo e dirigimo-nos para a costa para chegar a Parati passando por Ubatuba; tinha sido essa a indicação boa que nos tinham dado. Chegámos às dez e meia mas ainda a tempo de apanharmos um dos barcos fantásticos que nos levam a passear pelas ilhas em redor ao som de boa música brasileira tocada ao vivo. São cinco horas de maravilha. “Abençoado por Deus e bonito por natureza!”.
Até me deu para sonhar no quinto império. A ver se vos explico o meu sonho que, não só é realizável, mas também parte de dois dados bem reais. O primeiro dado é que o Brasil é um país fantástico que importa exportar para muitos cantos do mundo. O segundo dado é que o Brasil foi possível porque Alcácer Quibir nos fez espanhóis por algum tempo na Europa, mas nós transformámos o que era espanhol em brasileiro na América. De facto não conseguimos unir a Península a nosso favor, de Sagres a Guadarrama, mas conseguimos fazer isso mesmo à escala do Continente Sul-americano, de Natal à Rondónia. De alguma forma sofremos pelos brasileiros já que era essa a nossa obrigação de pais, mas que de outras vezes nos esquecemos de desempenhar.
Será que podemos tirar ilações para o terceiro milénio a partir destes dados seminais? Vejamos, fazemos parte da Europa e corremos riscos sérios de, por essa via, ser integrados em Espanha. Porque não aproveitamos as lições da ocupação filipina para que, com desígnio, abrasileirarmos os espaços hispânicos, anglo-saxónicos e franceses por esse mundo fora como outrora fizemos no sertão brasileiro que era espanhol por direito? Pode ser pensável, mas temos que assumir que os portugueses de agora são fundamentalmente Velhos do Restelo e que precisamos de lusófonos mais arrojados para a importante missão que temos pela frente. Para isso há que, primeiro, trazer muito mais brasileiros e outros lusófonos para Portugal para que se introduzam numa atitude de serviço por essa Europa fora. Depois, quando esses povos começarem a ter medo, os lusófonos europeus serão certamente empurrados para a América, para África, para a Oceania e até para a Índia e para a China, quando estes países orientais e civilizados reencontrarem a enorme vantagem de misturar o arroz com o feijão, acompanhado de vinho, com de boa música e bons poemas, o que só a língua portuguesa permite sem serem preciso os efeitos especiais das caras bonitas de Hollywood, o drama do dizer espanhol ou o francês em tom sussurrado e feminino. Até o mundo árabe pode se redimindo com um punhado de guineenses e árabes brasileiros.
Podem dizer que isto é de loucos mas não é por acaso que os Espanhóis estão a criar dificuldades aos brasileiros no aeroporto de Madrid, no trânsito que fazem para Lisboa para aproveitarem os voos mais baratos da Ibéria. Para além do mais até a chuva que cai lá fora, por detrás das janelas e portas que conhecemos, é bonita no som, na água e no aconchego sem frio que se cria deste lado. Porque não dá-lo a todo o mundo a começar nas favelas do Rio.
(Prof. Tomaz Dentinho In A União)

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