segunda-feira, março 03, 2008

Leite IGP

Os efeitos da crise energética na produção de leite foi um dos assuntos realçados na sua comunicação apresentada ontem no âmbito das Jornadas Agrícolas da Praia da Vitória.

Como é que a lavoura açoriana se deve preparar para ultrapassar as dificuldades?

Estamos a atravessar um período de instabilidade económica em termos gerais que também tem reflexos na produção leiteira. Desde 2002 que venho alertando para a necessidade dos Açores fazerem uma opção por um modelo mais sustentado, porque está a haver um certo exagero na utilização de cereais importados. A realidade do último ano ultrapassou as minhas piores expectativas. A correlação entre os custos de alguns factores de produção, como são o caso dos cereais e adubos, com a energia fizeram depender, ainda mais, a produção leiteira do preço do barril de petróleo. Por outro lado, tem havido um decréscimo da produção de leite nos mercados mundiais e uma maior procura de consumo por parte de mercados emergentes como a China e a Índia. Este é um quadro que não parece ser conjuntural, tem raízes profundas que obrigam os produtores da Região a tomar medidas o quanto antes.

FIM DAS QUOTAS

A liberalização da produção de leite na Europa que deverá culminar com o fim das quotas até 2015 é outro aspecto que a lavoura açoriana ainda não se preparou?

A liberalização na produção de leite na Europa é inevitável porque existe uma maior procura e já não se justificam medidas proteccionistas como as quotas leiteiras e os subsídios. Mas, apesar de tudo, a forma de produzir leite nos Açores continua a ser competitiva quando comparada com outros locais onde são utilizados meios muito mais intensivos e baseados nos cereais importados.

Vamos assistir a uma redistribuição da produção leiteira a nível mundial e os Açores têm que estar preparados para assumir um maior peso nesse aspecto no que se refere ao se peso em Portugal.

Com a liberalização os produtores mais pequenos vão ficar pelo caminho?

Isso já está a acontecer nos Açores há algum tempo uma vez que o número de produtores de leite tem tido um decréscimo acentuado, sobretudo, nas ilhas mais pequenas e não há jovens a entrar para o sector. Terminou a sua comunicação com um comentário que designou como “pequena provocação”. Defende que também o leite deve ser um produto com Indicação Geográfica Protegida (IGP).

Quais as razões o levam a defender essa posição?

Se tivermos em conta que existe uma certificação para a carne com a Indicação Geográfica Protegida (IGP) não entendo porque razão não há também o selo “Leite dos Açores” se o sector dos lacticínios da Região tem uma dimensão muito superior ao da carne?

Julgo que essa situação de o leite não ser certificado não faz qualquer sentido…Produtores e industriais andam em conflito sobre o preço do leite.

O valor praticado nos Açores é baixo?

Os preços do leite pago ao produtor deriva de vários factores que não iguais em todas as regiões produtoras. Sendo assim existe alguma dificuldade em comparar os valores pagos nos Açores com os dos continente e na Europa porque a estrutura de custos de produção e a dimensão das explorações são diferentes.Por outro lado o leite não é transformado nos mesmos produtos, havendo uns que têm uma valorização superior a outros no mercado. Felizmente cerca de 90 por cento do leite produzido nos Açores é transformado em leite em pó e queijo, que têm maior valor.É natural que o preço do leite nos Açores seja paga por um valor diferente do que acontece noutros locais. É necessário fazer uma avaliação sobre qual deve ser o preço justo tendo em conta os factores referidos. Julgo que a diferença entre o preço na Região e no continente não deve ir muito além do valor dos transportes. Os produtores também terão que ter em conta que não podem matar a “galinha dos ovos de ouro” e devem ter em conta as diferentes vertentes que devem ser ponderadas no preço do leite.

(In Diário Insular)

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