sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Recursos Energéticos dos Açores

Anuncia-se para 2010 a redução, nos Açores, da dependência em relação aos combustíveis fósseis em cerca de 30 por cento (Mário Alves, DI, 2008.02.26), por via de novas aplicações (não especificadas) com base no hidrogénio. Este combustível, bem como outras energias ditas alternativas, é acarinhado nas linhas de investigação apoiadas pela Direcção Regional da Ciência e Tecnologia? Com a aprovação do Plano Integrado para a Ciência e Tecnologia, em Junho de 2005, o Governo dos Açores definiu um conjunto de programas, eixos e medidas onde estabelece uma estratégia de investimentos orientada para o desenvolvimento sustentável da Região. Uma estratégia que parte do princípio de que a investigação científica e a inovação são pilares essenciais para o aumento da riqueza e a melhoria do bem-estar social. É nosso entendimento que para termos um sistema científico e tecnológico regional suficientemente sólido é necessário, numa primeira fase, apostar em infra-estruturas e melhorar a rede de equipamentos. Só assim poderemos atrair investigadores e aumentar a nossa massa crítica em áreas e domínios científicos prioritários quer para a Região, quer, num contexto mais geral, para o avanço da própria Ciência. As energias alternativas fazem parte do universo das disciplinas onde os Açores já deram provas de grande competência e corresponde, naturalmente, a uma das linhas prioritárias que merece apoio da Direcção Regional da Ciência e Tecnologia.
Face às potencialidades naturais e ao tipo de sociedade que somos e às suas necessidades, com que combustíveis conviveremos mais no nosso futuro?
Naturalmente que a energia geotérmica é uma riqueza que temos de continuar a explorar e desenvolver, mas como facilmente se compreenderá, por razões de ordem geológica, não apresenta idêntico potencial em todas as ilhas. A aposta tem de manter-se numa combinação de recursos, mas estou certo que ainda há muito para conhecer para além do que hoje se discute. Os Açores têm muitos recursos por avaliar, nomeadamente no ambiente marinho, e o potencial, por exemplo, ao nível dos biocombustíveis deve ser convenientemente analisado. Está em curso um enorme debate sobre o “pico do petróleo”, o fim (por esgotamento) da capacidade dos combustíveis fósseis para sustentarem as sociedades industrializadas e o mundo pós-petróleo.
Parece-lhe que esse debate tem sido suficientemente acompanhado e bem entendido entre nós?
Não creio. O debate sobre o petróleo, em particular, e os combustíveis, em geral, sendo global, tem uma dimensão multidisciplinar e abrange interesses muito diversos que escapam ao fundamento científico. Na generalidade, os investigadores nem sempre se preocupam em comunicar, o debate científico continua a estar longe dos holofotes da comunicação social e a percepção da generalidade das pessoas relativamente às grandes questões que dominam o pensamento científico e as acções de investigação está muito longe do desejável. Esta é, aliás, uma outra área onde é necessário continuar a investir com o objectivo de se materializar uma verdadeira Sociedade do Conhecimento.

(In Diário Insular)

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