A produção de trigo nos Açores: impactos sócio-económicos e ambientais
Embora o trigo tenha sido uma das culturas mais fortes no arquipélago durante a primeira metade do século XX e o preço deste cereal tenha praticamente duplicado no espaço de menos de um ano, a possibilidade da produção ser retomada nos Açores está colocada de parte.
De acordo com o secretário regional da Agricultura e Florestas, Noé Rodrigues, mesmo tendo em conta que o preço do alqueire (perto de 14 quilos) de trigo subiu de pouco mais de cinco dólares em Junho de 2007, para 10,33 dólares na passada quarta-feira, os Açores não conseguiriam ser competitivos face a outras regiões do globo.
“Estamos a falar de uma cultura que já não se pratica nos Açores há perto de quatro décadas. A cultura do trigo exige uma forte mecanização e deve ser extensiva, necessitando de grandes porções de terreno, o que, no arquipélago, devido às nossas condições geográficas, de relevo, não existe”, avança, acrescentando que as condições climatéricas da Região não são as ideais para a produção deste cereal.
Apesar de salientar que não existem, nos Açores, quaisquer regras que impeçam uma agricultor de optar pela produção de trigo, Noé Rodrigues não a recomenda. “A cultura de trigo nos Açores foi importante numa época de subsistência, em que existiam dificuldades nos transportes e toda uma outra série de condicionalismos. Creio que, mesmo tendo em conta a subida de preços, não conseguiríamos ser competitivos. Não acredito que fosse uma cultura rentável para o agricultor”.
A opinião é partilhada pelo professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, Jorge Pinheiro, especialista em solos.
“É preciso ter em conta que não estão em causa apenas os custos de produção, mas também os de colheita, por exemplo, o que exige o recurso a tecnologia avançada e extremamente dispendiosa. Não creio que actualmente, mesmo com a evolução do mercado, essa fosse uma boa opção, porque implicaria um investimento muito grande, sem uma grande rentabilidade”, considera.
Jorge Pinheiro afirma que existem “algumas áreas” no arquipélago que possuem extensão suficiente para a produção de trigo, mas avisa que isso implicaria sacrificar outras produções que, entretanto, são desenvolvidas nesses terrenos. “Estamos a falar sobretudo da vaca e do milho, que é um importante complemento à produção de leite. Seria necessário que essas produções fossem eliminadas para que o trigo pudesse ser cultivado nessas áreas, o que não me parece razoável”, reitera.
Outro aspecto contra é o impacte ambiental que a produção de trigo poderia ter sobre os solos dos Açores. José Matos, também professor da Universidade dos Açores, salienta o facto de grande parte do solo ser íngreme, o que implicaria grandes arroteias. “Sabemos que a produção de trigo foi abandonada nos Açores há várias décadas porque os solos deixaram de ser férteis, o que tem a ver exactamente com esta questão da erosão”, lembra.
O trigo foi, durante séculos, uma das culturas agrícolas com maior peso no arquipélago. Durante o século XVI, o trigo produzido na Região era exportado em grande quantidade para abastecer as guarnições portuguesas no norte de África.
AUMENTO DO PÃO
Face ao disparar do valor do trigo parece ser inevitável a subida do preço do pão e de outros alimentos que tem o cereal na sua composição. Em Portugal, o preço do pão deve aumentar já este mês.
O valor recorde de 10,33 dólares por alqueire de trigo na bolsa de Chicago nos Estados Unidos da América, está relacionado com a quebra significativa dos stocks do Canadá, o segundo maior exportador a nível mundial. Entretanto, também o milho registou um aumento de 1,3 na bolsa de Chicago.
Tendo em conta este cenário, o professor da Universidade dos Açores, Jorge Pinheiro, alerta para o impacte negativo que a consequente subida do preço das rações terá no rendimento dos agricultores, sobretudo no sector do leite: “A indústria e as grandes superfícies continuam a ter grandes lucros, mas os produtores vêm os seus rendimentos desequilibrados”.
De acordo com o secretário regional da Agricultura e Florestas, Noé Rodrigues, mesmo tendo em conta que o preço do alqueire (perto de 14 quilos) de trigo subiu de pouco mais de cinco dólares em Junho de 2007, para 10,33 dólares na passada quarta-feira, os Açores não conseguiriam ser competitivos face a outras regiões do globo.
“Estamos a falar de uma cultura que já não se pratica nos Açores há perto de quatro décadas. A cultura do trigo exige uma forte mecanização e deve ser extensiva, necessitando de grandes porções de terreno, o que, no arquipélago, devido às nossas condições geográficas, de relevo, não existe”, avança, acrescentando que as condições climatéricas da Região não são as ideais para a produção deste cereal.
Apesar de salientar que não existem, nos Açores, quaisquer regras que impeçam uma agricultor de optar pela produção de trigo, Noé Rodrigues não a recomenda. “A cultura de trigo nos Açores foi importante numa época de subsistência, em que existiam dificuldades nos transportes e toda uma outra série de condicionalismos. Creio que, mesmo tendo em conta a subida de preços, não conseguiríamos ser competitivos. Não acredito que fosse uma cultura rentável para o agricultor”.
A opinião é partilhada pelo professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, Jorge Pinheiro, especialista em solos.
“É preciso ter em conta que não estão em causa apenas os custos de produção, mas também os de colheita, por exemplo, o que exige o recurso a tecnologia avançada e extremamente dispendiosa. Não creio que actualmente, mesmo com a evolução do mercado, essa fosse uma boa opção, porque implicaria um investimento muito grande, sem uma grande rentabilidade”, considera.
Jorge Pinheiro afirma que existem “algumas áreas” no arquipélago que possuem extensão suficiente para a produção de trigo, mas avisa que isso implicaria sacrificar outras produções que, entretanto, são desenvolvidas nesses terrenos. “Estamos a falar sobretudo da vaca e do milho, que é um importante complemento à produção de leite. Seria necessário que essas produções fossem eliminadas para que o trigo pudesse ser cultivado nessas áreas, o que não me parece razoável”, reitera.
Outro aspecto contra é o impacte ambiental que a produção de trigo poderia ter sobre os solos dos Açores. José Matos, também professor da Universidade dos Açores, salienta o facto de grande parte do solo ser íngreme, o que implicaria grandes arroteias. “Sabemos que a produção de trigo foi abandonada nos Açores há várias décadas porque os solos deixaram de ser férteis, o que tem a ver exactamente com esta questão da erosão”, lembra.
O trigo foi, durante séculos, uma das culturas agrícolas com maior peso no arquipélago. Durante o século XVI, o trigo produzido na Região era exportado em grande quantidade para abastecer as guarnições portuguesas no norte de África.
AUMENTO DO PÃO
Face ao disparar do valor do trigo parece ser inevitável a subida do preço do pão e de outros alimentos que tem o cereal na sua composição. Em Portugal, o preço do pão deve aumentar já este mês.
O valor recorde de 10,33 dólares por alqueire de trigo na bolsa de Chicago nos Estados Unidos da América, está relacionado com a quebra significativa dos stocks do Canadá, o segundo maior exportador a nível mundial. Entretanto, também o milho registou um aumento de 1,3 na bolsa de Chicago.
Tendo em conta este cenário, o professor da Universidade dos Açores, Jorge Pinheiro, alerta para o impacte negativo que a consequente subida do preço das rações terá no rendimento dos agricultores, sobretudo no sector do leite: “A indústria e as grandes superfícies continuam a ter grandes lucros, mas os produtores vêm os seus rendimentos desequilibrados”.
(In Diário Insular)
Etiquetas: agricultura, Jorge Pinheiro, Produtos Açorianos
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