domingo, fevereiro 03, 2008

Monitorização da infestação das térmitas

A situação das térmitas, uma praga que ataca as estruturas de madeira das habitações, continua a não ter uma monitorização adequada. Quem reafirma é Paulo Borges, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, que vai finalmente ser recebido, no dia 22 de Fevereiro, por técnicos da Secretaria Regional do Ambiente, para discutir a gestão da madeira infestada por estes germes, de modo a que seja produzida legislação para intervir adequadamente no tratamento destas madeiras. Paulo Borges confessa ao Diário dos Açores que acredita que esta situação vai ser resolvida a médio-prazo, sublinhando que "nós vamos explicar os métodos para tratar das madeiras contaminadas, de acordo com cada espécie". O investigador explica que para madeira infestada com a térmita subterrânea, que é o maior problema, o método será queimar a madeira. Para a madeira com a térmita seca, o método consistirá em alagar a madeira."Em termos legislativos, cabe à Secretaria Regional do Ambiente decidir o que fazer, por exemplo, se caberá às câmaras tratar desta situação", salienta Paulo Borges. Recorde-se que existem três espécies de térmitas nos Açores, designadamente: a térmita de madeira húmida europeia, térmita de madeira seca das Índias Ocidentais e a térmita subterrânea europeia. Estas duas últimas são as que têm provocado maiores estragos nas cidades de Angra do Heroísmo, Ponta Delgada e Horta. De acordo com o investigador, prevê-se que nas próximas décadas possam igualmente ocorrer noutras partes do arquipélago, se persistir na Região, uma lacuna em termos de acções agressivas no combate à praga. Paulo Borges lembra, por exemplo, que o avanço da técnica de Fumigação "está em impasse nos Açores". Considerada como sendo uma técnica de combate eficaz internacionalmente, Paulo Borges ressalva, todavia, que "as regras actualmente em vigor na União Europeia tornam praticamente inviável a sua aplicação nos Açores, dado que o intervalo de segurança estabelecido entre habitações é de 10 m". De acordo com o investigador, a "grande proximidade entre edifícios nos centros das cidades açorianas inviabiliza a sua aplicação por agora". Por outro lado, a "Universidade dos Açores encontra-se a testar a viabilidade da alteração do perímetro de segurança de 10 m ou a eventual utilização de uma outra técnica de extermínio por Temperatura". Segundo o investigador, em relação à térmita subterrânea na Horta, "nós apresentamos uma proposta para erradicar, mas não obtivemos resposta do Governo Regional". Paulo Borges sustenta que, em colaboração com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, a Universidade dos Açores pretende controlar e tentar erradicar esta praga na cidade da Horta, através da injecção de um insecticida (Termidor), no solo.Desde 2006 que não existem dadosOs últimos dados referentes às térmitas datam de 2006, quando o Governo Regional encomendou um estudo à Universidade dos Açores para analisar a situação, um investimento que custou, na altura, 90 mil euros. Resultou deste estudo um relatório detalhado e um livro que foi publicado em Outubro de 2007. O certo é que desde 2006 ninguém sabe dizer como é que a praga está actualmente."Nada está a ser feito para acompanhar a evolução da praga nos Açores", denuncia, adiantando que "neste momento o que vemos apenas é um esforço político em apoiar as pessoas afectadas pela praga e na gestão dos resíduos afectados".Paulo Borges concorda com o avanço de medidas que protegem as pessoas, mas opina que "deve haver um combate eficaz passando também por uma sensibilização educacional". Neste campo, o investigador aponta algumas soluções. "Deve haver parcerias e aprofundar a cooperação entre investigadores, instâncias políticas de tomada de decisão, tecido empresarial e proprietários das habitações afectadas", ressalvou. Para os industriais, a solução passava por "intervir com uma acção junto das empresas de madeira para serem alertadas" e, "por último, fazer "uma acção junto dos agentes que controlam nas alfândegas o transporte deste tipo de mercadorias, no sentido de haver mais vistoria, mas para isso teria de haver pessoas formadas para detectarem os germes".Paulo Borges entende que para estas acções passarem da teoria à prática, terá de haver um "impulso político". Por sua vez, a monitorização, de acordo com Paulo Borges, terá de ser feita pelo CITA, pelo Laboratório Regional de Engenharia Civil ou pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.Paulo Borges apela à sociedade para mostrar mais interesse em ver esta situação controlada. "Se as pessoas não reivindicam os seus direitos, os políticos farão sempre pelo mínimo", disse. Recorde-se que recentemente foi aprovada por unanimidade, no Parlamento Regional, a proposta do CDS-PP Açores que altera a legislação em vigor de apoios a conceder a sinistrados pela infestação das térmitas.

(In Diário dos Açores)

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