sábado, novembro 03, 2007

Capelinhos foi ilustrado e poetizado em livro

Todo o vulcão é espantoso, dependendo da distância e do tempo a que nos encontramos.
Cinquenta anos têm os Capelinhos. Há cinquenta anos morreram os Capelos.
“Vulcão Aberto” de António Silveira e Maria do Céu Brito, prefaciado pelo Professor Doutor Victor Hugo Forjaz, do Departamento de Geociências da Universidade dos Açores, analisa, pela imagem, pela poesia e pela paixão os 50 anos de um jovem vulcão. É ciência, é arte, é poesia e inegavelmente registo e história.
O livro apresentado pelo Professor Félix Rodrigues, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, durante a semana Cultural "Outono Vivo", na Praia da Vitória, Ilha Terceira-Açores, é uma obra transdisciplinar.
Diz Maria do Céu Brito: “Explosões violentas, jactos de cinza, nuvens de vapor negro, efervescente; repuxos, correntes de lava e deslizamentos de terras, alteraram a geologia da ilha - soterraram as casas e os solos produtivos; destruíram as culturas, as plantas, as árvores e os pastos dos animais; envenenaram as águas, as aves e os peixes. A atmosfera de cinza e de enxofre; os constantes abalos de terra; o mar aceso com descargas eléctricas transformaram a ilha numa paisagem negra e desoladora”. Mas não é disto que o livro trata.
Este ódio é, neste livro, seguido de uma transformação em amor:
O fogo aqui não arde sem se ver,
A não ser,
Por paixão.
O fogo aqui não queima sem razão,
A não ser,
Para se o temer.
A cinza dos Capelinhos que já foi ar,
Depois de massacrar,
É descrita como querendo retornar,
A exalar,
No mesmo lugar,
O aroma da vida.
Perdida.
António Silveira, retrata a face do vulcão como se de um jovem açoriano se tratasse. Regista as cinzas dos Capelinhos ainda impregnadas de bombas vulcânicas como acne na face de um adolescente. Aí, a vida rebenta, explode, agarra-se, respira, transcende-se.
Os autores procuraram olhar a vida nos pequenos musgos e líquenes que nos enfeitam a solidão de ilhéus, depois do local ter sido impregnado com a morte. O Vulcanismo sempre terrificou homens e outros animais (e, sabe quem?, até as plantas que alguns dizem ter “falar” próprio … ), afirma o Prof. Vítor Hugo Forjaz no prefácio.
Os Capelinhos nesta obra quase que são transparentes na essência, quase que são omnipotentes na sobrevivência, como a violência viva, ou a memória de uma ilha, brilhantemente retratada, com palavras cortantes, ilustrada, com encostas recortadas, areias espalhadas e odor a maresia, entre real e fantasia.
“Vulcão Aberto” é uma biblioteca inteira de emoções. Lê-se tantas vezes quantas a nossa necessidade de entender a paisagem e os sentimentos que os Capelinhos nos despertam.
(In Diário Insular)

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