quinta-feira, junho 09, 2011

Sessão sobre transgénicos decorreu apenas entre técnicos e cientistas



"Prudência". Foi esta a razão apresentada por unanimidade, numa sessão de esclarecimento realizada segunda-feira à noite na freguesia dos Altares, ilha Terceira, para rejeitar a utilização de produtos transgénicos (OGM) na agricultura açoriana.A sessão foi preparada pela Gê-Questa (associação ambientalista) e pela Bioazórica (associação de produtores biológicos) e destinava-se a lavradores dos Altares, freguesia para a qual foram anunciadas experiências com milho transgénico.Porém, nem um único lavrador apareceu na sessão, apesar do aparato mobilizado, que incluiu peritos em ambiente e agricultura e os professores da Universidade dos Açores Félix Rodrigues (especialista em ambiente) e Paulo Borges (especialista em insetos).Estes dois professores, bem como os restantes intervenientes no debate que se gerou, foram unânimes em considerar que o conhecimento científico atual sobre OGM-Organismos Geneticamente Modificados não permite concluir por ausência de perigo para a flora, a fauna e a própria saúde humana. É esta escassez de conhecimento que justifica a adoção do chamado "princípio de prudência", segundo referiram tanto Félix Rodrigues como Paulo Borges.O aumento provável de resistência por parte de insetos e a própria resistência dos humanos à ação dos antibióticos são, porém, linhas de investigação que estão em curso à escala mundial, associadas à utilização de transgénicos e que foram destacadas por Paulo Borges.Tanto Borges como Rodrigues, que se declararam pessoalmente contra os OGM na atual fase do conhecimento, avisaram para o perigo de serem utilizadas alegadas razões contra os transgénicos que não estão suficientemente provadas, podendo descredibilizar a argumentação. Insistiram, como alternativa, em duas teclas: conhecimento insuficiente e obrigação de usar de prudência face ao desconhecimento científico.Paulo Borges adiantou mesmo que as experiências previstas para os Açores (sendo que já estão a decorrer experiências em S. Miguel) nunca deveriam ter sido autorizadas sem estudos prévios, "com supervisão científica independente", aplicados ao caso específico dos Açores e pagos por quem se propõe fornecer as sementes.
IDENTIFICAÇÃO



Vítor Medina, da Gê-Questa, informou que as sementes transgénicas propostas a dois agricultores dos Altares são da multinacional Pioneer, que é representada na Terceira pela UNICOL, uma união de cooperativas ligada ao leite e aos laticínios. Adiantou que, ao contrário do que foi anunciado pelo Governo Regional (que fez deslocar uma missão técnica aos Altares), um dos agricultores decidiu avançar com a sementeira, o que deverá acontecer dentro de dias.O responsável pelo Desenvolvimento Agrário já disse ao DI que, por agora, a Região nada mais pode fazer, além da sensibilização, uma vez que as sementes foram introduzidas legalmente na ilha Terceira e as áreas propostas para semear cumprem a lei vigente. Joaquim Pires, além de envolver os seus técnicos na sensibilização contra os OGM, já tinha apelado pessoalmente aos agricultores para não se envolverem nessas práticas, por serem contrárias aos interesses dos Açores.O Governo Regional enviou, entretanto, um pedido à União Europeia para que os Açores sejam considerados região livre de transgénicos. São invocados dois argumentos centrais, que têm a ver com a limitação quantitativa de terra em ilhas (sendo que os OGM exigem zonas significativas de terra sem cultivo) e a imagem que os Açores querem vender para a indústria do turismo e que se baseia numa região de natureza pura e livre de contaminação ou sequer produtos duvidosos.
Turista de cabelos em pé
Turistas, sobretudo de nacionalidade alemã, ocuparam os lugares que estavam destinados aos lavradores na sessão de esclarecimento sobre OGM que decorreu segunda-feira à noite nos Altares.Verónica, uma alemã de Munique que fala mal português, considerou-se estupefacta com a possibilidade de os Açores virem a alojar organismos geneticamente modificados. "Isso iria pôr em causa a credibilidade das campanhas na comunicação social da Europa sobre os Açores (disse "Azores") como região de natureza pura", avisou.A turista garantiu que donde vem (Alemanha) e nos países europeus que conhece, a razão para vir aos Açores é a natureza. É por isso que notícias sobre a existência de transgénicos nas ilhas podem ser um forte golpe no turismo regional, segundo referiu a turista.



(in Diário Insular)