segunda-feira, junho 20, 2011

As térmitas e os esquadrões T

Félix Rodrigues (Opinião)


Foi gratificante verificar a adesão de jovens e seniores do nosso Município à iniciativa dirigida e coordenada pela Professora Ana Arroz no âmbito da comunicação de risco sobre a infestação de térmitas na cidade de Angra do Heroísmo.
Verifica-se que há uma certa propensão dos Terceirenses para “as marchas”, para o “vestir a camisola” e para o associativismo, e isso é algo que deve ser promovido por todos, especialmente no que concerne à resolução dos nossos problemas comuns.
O mais difícil parece ser sempre o começar. Depois de algo estar em marcha verificamos que normalmente anda por si só, porque alguém percebeu e se identificou com a causa, e só desiste, quando lhe faltam as forças.
Um amigo que perdi recentemente dizia “Já ninguém quer trabalhar de graça em prol dos outros”. Pois é, há coisas que não podem ser compradas nem vendidas, como as causas ou as razões pelas quais as pessoas se movimentam. Parece existir na sociedade actual falta de causas para que todos, de um modo ou outro, nos possamos movimentar.
As causas levam a iniciativas ou missões. Esperam-se que essas iniciativas e missões não tenham fins lucrativos, visando sempre, o bem comum.
Todas as iniciativas, onde se pensa nas pessoas como peça fundamental para a resolução de um problema, respeitando as suas opiniões, ideias e colaboração, podem ser sempre muito bem aproveitadas.
Por vezes as palestras e formações tem menos resultados práticos do que um genuíno apoio a uma causa pública que ainda nem percebida ou interiorizada foi, principalmente quando se pretende ter uma acção pública ampla e generalizada.
Na defesa das causas os caminhos são muitas vezes solitários, mas não nos devemos esquecer que tanto é solitário o caminho do primeiro como o do derradeiro.
A equipa do SOS Térmitas, está ciente de que o “controlo das térmitas no nosso Arquipélago deve resultar de uma acção concertada entre os cidadãos, as empresas de desinfestação, vários sectores do governo, autarquias locais e investigadores”. Só com “a ajuda dos cidadãos é possível enfrentar um risco com manifestos impactos negativos ao nível da conservação do património e dos bens pessoais”. “Só com a ajuda de todos será possível ir corrigindo as crenças erróneas sobre as térmitas e o seu controle”.
Pelo pouco que me foi possível perceber, parece que toda a gente já ouviu falar do problema das térmitas e dos seus impactos, mas são poucos os que na prática conseguem identificar uma térmita ou perceber como se controla a praga. O site do SOS Térmitas (http://sostermitas.angra.uac.pt/) é uma ajuda preciosa para quem se quiser informar sobre esse problema.
Esse problema não é virtual e o pânico para muitos é bem real, leia-se por exemplo o depoimento de uma pessoa com a casa infestada por térmitas:
“Estou a ser expulsa da minha casa lentamente. Agora, com o estado em que está o sótão, já tirámos tudo das falsas. Está a ver isso aí tudo amontoado na sala? Era de lá. Não tenho outro sítio. E também já não deixo as minhas filhas dormirem no seu quarto. Tenho medo que lhes caia em cima alguma coisa. Não sei o que hei-de fazer, não tenho possibilidades de mandar refazer isto tudo, não tenho... mas já não tenho descanso!”.
Os Esquadrões T, tal como foram constituídos no âmbito do projecto de investigação aqui referido, tem tudo para se afirmar como um movimento associativo dado que integra pessoas da comunidade onde se insere e nasce para dar respostas às dificuldades encontradas no combate a um problema que não é mais do que “um terramoto silencioso”, alicerçando-se em valores como a solidariedade, a fraternidade, a cidadania e o trabalho voluntário.
É da vontade de reduzir o desespero de uns que aparecem as causas dos outros.

(In A União)