quinta-feira, junho 16, 2011

“Não é sensato fazer experiências de produção de milho transgénico na ilha de São Miguel...”

O investigador e ambientalista açoriano, Félix Rodrigues, afirmou que “não é sensato” o governo dos Açores ter permitido que se semeasse 18 alqueires de milho transgénico na ilha de São Miguel. “Não é sensato na medida em que é antagónico. Não podemos ter o melhor de dois mundos. Um que é a produção de organismos geneticamente modificados que, hipoteticamente, aumenta as produções; e outro, uma região livre de transgénicos”, afirma o director do curso de Ambiente da Universidade dos Açores. “Quando temos uma Região que aposta no ambiente e no ecoturismo como imagem de marca, a produção de organismos geneticamente modificados nos Açores é algo que põe em causa esta imagem que queremos passar”, realça

Correio dos Açores - Não concorda com os investigadores da Universidade dos Açores que dizem que não há problema com OGMs nos Açores?
Félix Rodrigues (Director do Curso de Ambiente da Universidade dos Açores) - Não posso concordar nem discordar porque não há dados suficientes para apurarmos os efeitos a longo prazo. No entanto, o princípio que se coloca aqui tem a ver um pouco com a precaução e outro é a construção de uma imagem de marca.
A opção por produzir organismos geneticamente modificados tem impactos que podem ser extremamente negativos do ponto de vista turístico. Nós sabemos que, na Europa, as pessoas têm dificuldade em aceitar a introdução de organismos geneticamente modificados no mercado. Por outro lado, exige-se cada vez mais que haja uma informação a nível dos rótulos de tudo o que são organismos geneticamente modificados. Isto quer dizer que a introdução nos Açores tem impactos, pelo menos, ao nível da rotulagem dos produtos.
Como é que o mercado se vai portar a nível mundial relativamente à aceitação dos produtos? O que sabemos é que o mercado europeu está renitente e o americano nem tanto. Em termos de comércio, pode haver aí impactos negativos.
E, sem sombra de dúvida, a imagem de natureza intacta que passamos para o turista fica manchada perante o cultivo de organismos geneticamente modificados.

Está a fazer passar a mensagem de que uma Região que tem ‘Dolphin Save’ no mar (preservação dos golfinhos na pesca do atum) não faz sentido ter OGMs em terra…
Não faz sentido nenhum. Uma Região que diz que tem uma rica biodiversidade não faz sentido introduzir organismos geneticamente modificados. Até porque não há uma grande produção que compense economicamente tal perspectiva. Quer queiramos, quer não, esta designação está muito conotada negativamente a nível Europa.

Vamos ver este problema na óptica do produtor. Por exemplo, milho geneticamente modificado pode adaptar-se melhor às características do clima dos Açores e dar altas produções…
São os impactos a longo prazo e o desconhecimento que temos destes impactos. Para ter uma ideia, sabemos que se podem fazer enxertos de famílias diferentes. Podemos enxertar num marmeleiro, uma macieira e ela dar maçãs. O que estamos aqui a fazer com os organismos geneticamente modificados é um pouco alterar a alma da planta, que é introduzir um gene que pode ser de um insecto no interior do milho. E, portanto, é milho com o gene de um insecto. Isso não é normal e, por isso, não sabemos quais as consequências que isto tem, efectivamente, em termos de saúde pública, as alergias que isso pode desencadear. Há um desconhecimento muito grande em torno desta matéria.
Por outro lado, aquilo que se coloca nem é bem em termos ambientais. Não é bem o termo ambiental que se pode colocar aqui. O que aqui se coloca é, do ponto de vista de uma Região que pretende ser sustentável e que, inclusivamente, vende a imagem de uma natureza pura e intacta. Ora, a produção de organismos geneticamente modificados nesta Região é um contra-senso, uma falta de lógica. As duas coisas são incompatíveis.

Mesmo que se justifique economicamente ter milho adaptado às características do clima?
Este milho é tão adaptado às características do clima como o outro. A única coisa que faz é que combate mais facilmente os insectos.

Há milho que resiste à seca…
Há milho geneticamente modificado que pode resistir mais à seca. Mas as alterações, mesmo no caso do milho, ocorrem mais para o ataque às pragas e que tem vantagens, de facto, do ponto de vista da utilização de químico. Mas, por outro lado, também altera o ecossistema natural. Sendo assim, há aqui um desconhecimento enorme acerca desta questão.

Concorda, portanto, que o governo dos Açores desenvolva esforços para considerar os Açores região limpa de OGMs…
Na medida em que definimos como estratégia de desenvolvimento, como um dos grandes vectores o turismo, faz todo o sentido que assim seja. Se, pelo contrário, invertermos a lógica do desenvolvimento centrada apenas na monocultura da vaca, pois aí até é fácil desde que seja isso que queiramos. Um organismo geneticamente modificado vegetal ser ingerido por um animal que, por sua vez, está na origem de carnes e leites, mais dia menos dia tudo isso é considerado geneticamente modificado com impactos imprevisíveis do ponto de vista económico.
O que estou a dizer é que é um risco avançarmos para uma coisa sem definirmos, em concreto, qual o mundo que nós queremos. Não podemos ter o melhor dos dois mundos. Isso tem a ver com as nossas apostas como sociedade.
Se a aposta é turismo vejo com muitos bons olhos considerarmos os Açores como região livre de organismos geneticamente modificados.

“Não podemos ficar reféns
De dois a três produtores”

Como sabe, há colegas seus na Universidade dos Açores que consideram que não viria mal ao mundo que se produza organismos geneticamente modificados nos Açores…
Eles estão a ver esta questão do ponto de vista da produção. E deste ponto de vista, quando definimos que não vem mal ao mundo, está-se a admitir que o conhecimento que temos é perfeito e isso não é verdade.
Por um lado, podemos ter alguns problemas, mas também diminuímos a quantidade de insecticida que usamos. Por isso, é difícil equacionar esta questão com argumentos exclusivamente científicos. Até porque estes argumentos são ambíguos. Tanto pode dar para um lado como pode dar para o outro.
Daí que, do meu ponto de vista, a tónica não deve ser colocada nos argumentos científicos. Deve ser colocada em termos das estratégias que se pretende. Esta é uma decisão que todos nós devemos tomar. Daí que a decisão tem carácter um pouco político e não propriamente tão científico quanto isso. A questão que se coloca é que perdemos do ponto de vista turístico se produzirmos OGMs? O que é que ganhamos em termos de produtividade, do ponto de vista agro-alimentar? E, neste balanço, temos de saber posicionar-nos. Há muita dúvida…

Tendencialmente, está inclinado para o lado do turismo…
Do ponto de vista turístico, os Açores têm potencialidades enormes. E isso torna-nos muito menos vulneráveis a uma só cultura e a uma grande actividade económica. Isto quer dizer que, quando há crise num determinado sector – e se for no sector agro-pecuário – temos muita dificuldade, depois, em nos suportar economicamente. Daí que me parece mais seguro apostar em mais valências.
Havendo nos Açores potencialidades turísticas, não podemos desperdiçar este outro trunfo que temos, equilibrando devidamente as coisas.
Relativamente à actualidade, os OGMs não vão trazer grande acréscimo económico. No entanto, pode beneficiar um ou outro produtor, sem sombra de dúvida. Não posso dizer que não. Mas não podemos, como sociedade, ficar reféns da decisão individual de dois ou três produtores. Por isso entender que deve ser tomada uma decisão colectiva.

Pode generalizar-se a produção de OGMs nos Açores?
Não há uma tomada de posição colectiva relativamente a isso e, quando assim é, passa a haver tomadas de posição individuais em que cada qual, não tendo qualquer restrição e não havendo uma regulamentação que impeça a sua produção, toma as suas posições consoante a compreensão que tem do fenómeno.

A Região poderá ter legislação própria que a torne livre de OGMs…
A Europa tem legislação apropriada e até uma legislação complexa e exigente para a produção de OGMs. Implica haver estudos, acompanhamentos, um conjunto de regras que são difíceis de acompanhar e de monitorizar. O que acontece é que estas regras estão a ser cumpridas. Mas, no entanto, esta decisão de atribuir licença para a produção, tem de passar necessariamente pelas questões de decisão política e governamental.

Milho transgénico em S. Miguel
“não é uma questão pacífica”

Antes de se semear 18 alqueires de milho geneticamente modificado em São Miguel, dever-se-ia ter feito estudos e ter gerado um debate na opinião pública?
A produção de OGMs é incompatível como a produção biológica. Por outro lado, é preciso no raio de 2,5 quilómetros não pode haver produção biológica. Como é que eu, sendo dono de um serrado, posso tomar a decisão de produzir OGMs se posso impedir a produção biológica de um vizinho. Por isso a gestão do problema não é assim tão pacífica. Ao tomarmos a decisão de produzir OGMs, implica que vamos condicionar em muito aquilo que se chama a produção biológica. Devemos ou não fazê-lo? Mas uma vez entendo que está é uma questão de decisão política porque se deixarmos à decisão de cada um, quem decidir produzir OGM tem mais poder em termos de alteração desta situação de quem decide não produzir porque quem decide não produzir deixa de ter alternativa e fica designado como sendo produtor não biológico. Há aqui um conjunto de factores que não são fáceis de perceber quais são os impactos imediatos que tem e até que ponto a liberdade de uns não choca com a liberdade de outros.

Não foi sensato...

Não foi uma decisão sensata semear 18 alqueires de milho geneticamente modificado em São Miguel?
Não acho que seja sensato quando se diz que se quer consagrar os Açores uma região livre de OGMs. Não é nada sensato. Não é sensato na medida em que é antagónico. Como dizia há pouco, não podemos ter o melhor de dois mundos.
Um que é a produção de OGM que, hipoteticamente, aumenta a produção e outro uma região livre de transgénicos. Ou temos uma coisa ou temos outra. As duas é que são incompatíveis. E esta decisão tem impactos a vários níveis. É preciso saber qual o impacto que estamos interessados em suportar.

(In João Paz -Correio dos Açores)

4 Comments:

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