domingo, junho 12, 2011

Térmitas não vão sair do quotidiano das ilhas



Ana Arroz coordena o Plano de Comunicação de Risco sobre térmitas nos Açores. Repara-se para perceber como lidam os açorianos com a praga, que já afeta seis ilhas e causa estragos de monta sobretudo nas principais cidades. Nesta longa entrevista, a professora universitária explica que as térmitas vieram para ficar.
Está em curso uma campanha de sensibilização para o problema das térmitas nos Açores. Quais os contornos essenciais dessa campanha,?
A campanha "SOS Térmitas: Unidos na Prevenção" decorre dos resultados de pesquisas anteriores desenvolvidas no âmbito das ciências sociais, para compreender como é que as pessoas pensam e lidam com este problema, o que acham da forma como está a ser gerido, em quem depositam mais confiança e que necessidades apontam nesta matéria.
Esses resultados evidenciaram como objetivos prioritários para a Comunicação de Risco, consolidar a consciência social do problema, reforçar a confiança nas instâncias públicas que o gerem e envolver os cidadãos em práticas concretas de gestão de risco. Dirigindo-se à população das freguesias delimitadas como áreas de risco pelo atual enquadramento legal - público-alvo privilegiado - esta Campanha integra dois momentos: o primeiro, centra-se na adoção de uma prática muito simples de prevenção e controlo, a montagem de uma armadilha oferecida pelos municípios; o segundo, incide na divulgação dos resultados obtidos no esforço conjunto que a sociedade civil empreender, contabilizando o número de armadilhas montadas e entregues nas Juntas de Freguesia e estimando o número de térmitas capturadas.
Em face dos objetivos desta Campanha, a sua calendarização obedece essencialmente às térmitas, isto é, ela acontece durante os meses em que as térmitas ganham asas e se dedicam ao estabelecimento de novas colónias, fazendo alastrar a infestação. Daí desenrolar-se de maio a outubro.

Durante a campanha vão ser distribuídas armadilhas por correio. Caso sejam mesmo utilizadas, que impacto poderão ter na redução e no controlo efetivos da praga?
Controlar a praga implica provocar alterações na forma como cada um de nós lida com esta infestação no quotidiano. Quando compra uma casa como é que se assegura de que não leva por acréscimo um monte de problemas? Quando herda um móvel como é que se assegura de que não leva térmitas para casa? Quando a térmita ganha asa como é que protege a sua casa? À medida que passarmos a incorporar práticas de prevenção estaremos aprender a enfrentá-la. Se cada um de nós adquirir o hábito de todos os anos, por esta altura, montar armadilhas para capturar o máximo de "casais" de térmitas, que voam para estabelecer novas famílias, estaremos claramente a contribuir para controlar o problema.
Uma vez que cada armadilha pode evitar a criação de cerca de 400 novas colónias, chegando cada colónia a comportar, em média, 200 térmitas, é fácil fazer as contas ao impacto que um gesto tão simples de cada um de nós poderá ter ... ou não ter... neste processo!
Ao montar uma armadilha e ir entregá-la na Junta de Freguesia aprende-se uma prática de prevenção que permite a cada cidadão ser mais autónomo, vigilante e participativo no controlo de um problema de todos nós.
Esta captura coletiva possibilita ainda traçar um retrato da extensão da infestação em cada freguesia que é fundamental para a tomada de decisão sobre as estratégias a acionar Por isso é que é mesmo muito importante que se devolvam as armadilhas, mesmo sem que nada tenham capturado.

Este fim de semana inicia-se também uma ação de voluntariado para prestar auxílio aos moradores das zonas infestadas. Em que consiste essa iniciativa?
De facto, ontem, um conjunto de voluntários de todas as idades - os Esquadrões-T - começaram a visitar porta-a-porta domicílios das freguesias delimitadas como zonas potencialmente infestadas por térmitas, para ajudar a montar as armadilhas que os moradores receberam pelos CTT e dar conselhos práticos de prevenção e de controlo. Esta iniciativa, coordenada pela equipa de Comunicação de Risco da Universidade dos Açores, contou com a preciosa colaboração de parceiros como a Academia da Terceira Idade, o Serviço de Voluntariado da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, a Cáritas e de muitos cidadãos, de todas as idades, que vão disponibilizar os seus tempos livres para servir a comunidade.
Este ano a rede de voluntários Esquadrões-T apenas estará disponível em Angra do Heroísmo, uma vez que não dispúnhamos de infraestruturas para poder generalizá-la. Mas, depois de ensaiada, esperamos que nos próximos anos seja possível alargar esta rede a todas as freguesias infestadas nas diferentes Ilhas.
Uma vez que os Esquadrões-T representam simbolicamente o empenho da sociedade civil no controlo da infestação, esperamos que a adesão dos cidadãos não tenha sido expressiva apenas ontem, na Sé e em São Pedro, mas que se volte a verificar nas tardes dos dias 18 e 19, uma vez que no próximo fim de semana serão visitadas outras freguesias: Santa Luzia, Conceição e São Bento. Novos dias de intervenção poderão vir a ser marcados em função da adesão verificada e das necessidades sociais detetadas
Quem estiver interessado em participar ainda vai a tempo, podendo inscrever-se através do e-mail esquadrões.t@gmail.com ou simplesmente aparecer na Praça Velha pelas 14.00h no próximo fim de semana, onde antes de partirmos para as nossas jornadas, são prestados todos os esclarecimentos necessários.
Para além disto, este ano o Dia dos Açores é também um "Dia T" em que a Universidade se abre à comunidade entre as 9.30h e as 21.30h, disponibilizando atendimento personalizado aos cidadãos no esclarecimento das suas dúvidas, demonstrando práticas de prevenção e controlo, exibindo indícios e exemplares de térmitas para dar resposta às principais necessidades de informação que os Esquadrões-T identificaram junto das populações.
Os funcionários das juntas da freguesia vão ser sensibilizados para apoiarem as populações no que toca ao problema das térmitas. Que obrigação efetiva terão eles para apoiarem quem se dirigir à junta por desconfiar de uma "formiga" que tenha em casa?
Ora aí está uma excelente questão. Não se devem criar falsas expectativas relativamente ao papel que os funcionários das Juntas de Freguesia desempenham nesta Campanha. Embora desempenhando um papel crucial na articulação entre o Cidadão, o Município e a Universidade compete-lhes tão-somente apoiar o processo de receção e entrega de armadilhas procedendo ao seu registo e encaminhamento para a Universidade a fim de serem devidamente contabilizadas as térmitas capturadas.
É claro que, tendo um contacto privilegiado com a população, é para nós muito importante que se encontrem habilitados a esclarecer eventuais dúvidas quanto ao andamento a dar a caso específico relativamente a facetas do problema tão distintas quanto a identificação ou a dizimação das térmitas, a prevenção, a reconstrução, etc. Mas isso não significa que lhes compita, por exemplo, proceder à identificação da espécie. A qualidade do atendimento e o seu caráter proativo serão portanto a pedra-de-toque a investir na formação, uma vez que, todos estamos atualmente a ensaiar práticas de lidar com o problema que transcendem neste domínio as nossas obrigações efetivas
Desde que começou a deteção de térmitas nos Açores e até hoje, quantas espécies foram detetadas, onde, qual a sua real perigosidade e quais são as proveniências prováveis?
A equipa liderada pelo meu colega, Prof. Paulo Borges, descobriu até à data quatro espécies de térmitas, ocorrendo nas ilhas Terceira, Faial, Pico, São Jorge, São Miguel e Santa Maria. No entanto, das térmitas encontradas, a térmita de madeira seca e as duas térmitas subterrâneas provocam muito mais prejuízos do que a térmita de madeira viva. Esta Campanha foi concebida para lidar, especificamente, com a térmita de madeira seca, por ser aquela que maior risco comporta para a saúde e segurança pública, ao fragilizar gravosamente as estruturas das habitações numa região fustigada por atividade sísmica. Mas é claro que a consciencialização social para o problema e as práticas de prevenção e controlo que começarem a ser adotadas pelos cidadãos irão seguramente ajudar a incorporar uma cultura de prevenção necessária para lidar com as restantes infestações. No entanto, terão de ser realizadas outras campanhas direcionadas para as térmitas de madeira subterrânea, uma vez que os períodos de enxameamento, as práticas de prevenção e até os apoios aos cidadãos são distintos.
Como compreende, informações mais específicas acerca da ecologia das térmitas e das suas formas de extermínio terão de ser dirigidas especificamente ao meu colega e à sua equipa.

Até onde já vai a destruição causada por térmitas nos Açores e quais são os casos mais graves identificados até hoje?
Com base nos relatórios disponíveis apresentados no final do ano transato pela equipa do Prof. Paulo Borges, temos casos muito sérios de infestação por térmitas de madeira seca em Angra do Heroísmo e em Ponta Delgada. Quanto às térmitas subterrâneas, a situação é grave no Bairro de Santa Rita na Praia da Vitória e desconhece-se o que se passa na Horta.
No entanto, as pesquisas realizadas pela equipa liderada pelo Paulo Borges estão longe de traçar uma panorâmica geral dos Açores nesta matéria, uma vez que ainda não foram monitorizadas todas as ilhas do Arquipélago e que se desconhece a situação em muitos locais das ilhas já visitadas. Há a este nível muito a fazer e trata-se de um trabalho de monitorização que terá de ser obviamente realizado com continuidade, de modo a acompanharmos o evoluir da situação.
Garantir continuidade terá de ser o princípio subjacente a toda e qualquer lógica de atuação de modo a reduzir os potenciais danos da infestação. A sua gravidade decorre, por outro lado, tanto do modo como a praga atua como da nossa vulnerabilidade social ao risco, pelo que se justifica investir na informação pública e na comunicação de risco, uma vez que não se consolidam novas práticas de enfrentar a infestação nem novas culturas "precaucionistas" de perspetivar um problema como este em meia dúzia de meses de intervenção.
Controlar uma infestação com as características desta implica ir semeando a transformação para uma sociedade mais participativa, responsável e solidária. Neste sentido, esta Campanha representa apenas um primeiro esforço de ação concertada, um teste para avaliarmos a vontade e capacidade de reação das populações, cujos resultados depois de refletidos, deverão orientar as próximas campanhas e intervenções.

Qual o ponto da situação sobre o tratamento de casas infestadas com térmitas nos Açores? Já existem tratamentos recomendáveis e eficazes e empresas capazes de aplicarem esses tratamentos? O mercado já está a funcionar?
Atualmente, os únicos tratamentos disponíveis ainda são os tratamentos químicos com inseticidas Como sabe, foram recentemente testadas com sucesso duas técnicas que usam temperaturas elevadas para matar térmitas, mas não existem ainda empresas na Região credenciadas para aplicar esta tecnologia. Espera-se que esta situação seja ultrapassada rapidamente, e que ainda este ano pelo menos uma empresa seja credenciada para utilizar técnicas de temperatura.

Há algumas expectativas de declarar os Açores, um dia no futuro, livres de térmitas, ou temos este problema para sempre? Porquê?
Com base no conhecimento atual será impossível erradicar as térmitas dos Açores. Aliás, existe mesmo o risco de serem descobertas novas espécies de térmitas não só trazidas com o transporte de mercadorias, mas até porque podem já cá estar e não terem sido ainda detetadas
Mas o facto da erradicação do problema ser praticamente impossível não significa que não valha a pena fazer nada para lidar com ele. A finalidade de todos nós deverá ser mantê-lo sob controlo. E para isso, será necessário acionar uma estratégia de combate integrado, em que todos nós temos um papel a desempenhar. Para que daqui a 20 anos a situação possa estar controlada terá de ser toda implementada a legislação, realizada muita monitorização, viabilizada mais tecnologia de desinfestação e preparadas muito mais campanhas de sensibilização e prevenção pública, mas o mais importante é que se consiga acionar um sistema de gestão sensível às diferentes necessidades em jogo, focado:
• no encaminhamento dos cidadãos para a resolução do problema, para além dos apoios financeiros;
• na oferta de informação acerca dos serviços e recursos relativos à identificação; reconstrução, transporte de bens, materiais alternativos de construção, etc.;
• na disponibilização de formação aos setores da construção civil e do comércio e indústria transformadora de madeiras, para apenas dar uns exemplos;
• na articulação de funções e informações entre serviços públicos existentes, etc.
Poderia continuar a enumerar necessidades sociais relevantes... Mas refletir sobre o papel de cada um de nós nesse sistema de gestão e percebermos o que competirá à sociedade civil neste processo representa o desafio mais interessante que importa à equipa de Comunicação de Risco mediar entre todos os interesses em presença.
(In DI XL)

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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Obrigado.

5:13 da tarde  
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12:35 da manhã  

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