quarta-feira, junho 01, 2011

Agricultores da Terceira preocupados com produção de milho transgénico



Os produtores agrícolas da Terceira dizem-se preocupados com as alegadas experiências de produção de milho geneticamente modificado que estarão a decorrer em duas explorações da ilha. As suspeitas já existiam e são agora assumidas por Avelino Ormonde, produtor de agricultura biológica, em declarações à Agência Lusa e à Antena 1. "Suspeitamos de que duas explorações agrícolas do norte da ilha Terceira foram seduzidas para uma experiência que condenamos, uma vez que o nosso objetivo é fazer dos Açores uma região livre de organismos geneticamente modificados", frisou Avelino Ormonde. O produtor alega que não há provas científicas que garantam a segurança dessas produções geneticamente modificadas para a saúde humana e animal. O especialista local em agricultura biológica adverte ainda para a possibilidade de polinização de outros milhos. O risco é especialmente grande nos Açores. "Como somos uma terra rica em ventos, ventos cruzados também, nada pode garantir que não vá polinizar o milho que algum amigo nossa tenha que seja proveniente de uma descendência familiar já longínqua que tenha preservado aquele cultivar de milho até aos dias de hoje", frisou. Já os especialistas da Universidade dos Açores rejeitam cenários de perigo. Artur Machado, especialista da UAç ligado a experiências com transgénicos na Alemanha, sustenta, por exemplo, que o perigo de polinização só ocorreria nalgum reservatório com germoplasmas, o que não existe nos Açores. Artur Machado rejeita ainda a alegada perigosidade da introdução de um inseticida nas espécies que estarão a ser experimentadas nos Açores. Por seu turno, Paulo Monjardino, também especialista da academia açoriana, recorda que todos os dias são servidas "centenas de milhões" de refeições com produtos transgénicos "e nunca ninguém conseguiu estabelecer uma relação entre o consumo dessas refeições e problemas de saúde humana". Os dois professores da UAç não veem perigo na introdução de milho transgénico nos Açores, mas advertem que não conhecem qualquer experiência que eventualmente esteja a decorrer na Região. Estas questões foram analisadas a noite passada numa reunião de produtores agrícolas. PETIÇÃO As preocupações com as alegadas experiências com milho transgénico nos Açores e a necessidade de declarar os Açores como região livre de cultivo de variedades de organismos geneticamente modificados, fez avançar uma petição online que conta já com 1029 signatários. O primeiro signatário da petição, que pode ser assinada no endereço http://www.peticaopublica.com/?pi=P2011N9685, é Diogo Caetano, presidente da direção da Associação Amigos dos Açores, sendo o segundo signatário Orlando Guerreiro, presidente da Gê-Questa. No documento os subscritores recordam que os Açores primam pela sua singularidade no contexto nacional e internacional no que respeita às práticas da atividade agrícola e que as características dos solos fazem do arquipélago uma zona rica em agricultura tradicional que se destaca pela qualidade dos produtos regionais certificados. Por outro lado e entre outros aspetos, adiantam, a introdução e o cultivo de organismos geneticamente modificados são frequentemente contestados como colocando sérias ameaças para a saúde pública, o ambiente e o desenvolvimento da agricultura tradicional, e ainda há "falta de estudos científicos por parte de entidades de reconhecida competência técnica que comprovem a não existência de riscos para a saúde pública relativamente ao cultivo e consumo de organismos geneticamente modificados". REQUERIMENTO Em outubro do ano passado o grupo parlamentar do PSD na Assembleia Legislativa Regional questionou o Governo Regional sobre a sua posição quanto à questão das culturas transgénicas. No entanto, de acordo com o deputado social-democrata António Ventura, até agora não terá sido recebida qualquer resposta.No requerimento enviado ao executivo regional, o PSD/Açores lembra que "a temática dos transgénicos tem levantado inúmeras dúvidas e diversos receios por parte de várias associações e, isoladamente, de muitos cidadãos que desconfiam destes organismos, principalmente dos seus efeitos nocivos na saúde e nos ecossistemas naturais" e que "a própria comunidade científica alerta para os perigos de uma gestão descuidada na utilização destes organismos".



(In Diário Insular)