quinta-feira, maio 26, 2011

O PS de Berto Messias garante a descontaminação da Praia!?

Félix Rodrigues (Opinião)

Fico pasmado, quando vejo escrito, pelo líder da bancada socialista na Assembleia Legislativa Regional as razões pelas quais ele e o seu partido entendem que não deve haver uma comissão de acompanhamento de descontaminação de solos e água no Concelho da Praia da Vitória, onde ele vive, com técnicos socialistas e não só, nos moldes propostos por toda a oposição. Para uns isso são politiquices, para outros revela isolamento do PS, obstinação, medo, falta de diálogo e outras coisas mais que poderia aventar ou inventar. Mas afinal tudo o que diz respeito à nossa vida comum não é política?O que é muito estranho é que o senhor Secretário da Presidência, André Bradford, tenha dito que tomou conhecimento de que os solos da Praia da Vitória poderiam estar contaminados apenas em 2008 na sequência das notícias publicadas pelo DI sobre o assunto, e não queira agora ouvir quem o informou do problema, porque, segundo ele, não é pessoa credível. É interessante também perceber que depois da audição do LNEC, que foi dizer, curiosamente a Ponta Delgada e não à Praia da Vitória, o que sempre disse e relatou-o, que existia contaminação de solos, aquífero suspenso e aquífero basal, com potenciais riscos associados, já não parecer ser importante no acompanhamento do processo de descontaminação. Será que deixou de ser credível? Agora o PS já fala em credibilidade e nível nacional e internacional. A nível regional já sabemos que para o PS tal coisa não existe, a nível nacional começa a ter dúvidas. Neste contexto, proponho desde já, que o partido socialista procure uma instituição credenciada e credível a nível extra-planetário, por exemplo "Os amigos de Marte". O mais caricato é que, a defesa da solução de acompanhamento apresentada pelo PS, em alternativa à proposta da oposição, é feita por uma deputada de São Miguel e um deputado da Ribeirinha, quando estavam presentes dois deputados cidadãos do Concelho da Praia da Vitória.É difícil de perceber porque razão este enredo da contaminação da Praia da Vitória deve ser discutido em Ponta Delgada e as alternativas de comissão defendidas por São Miguel quando existem Praienses presentes na bancada socialista!?Comummente vemos nos programas socialistas, a promessa de ouvir e receber contributos da população, principalmente ao nível das questões sociais e questões relacionadas com o desenvolvimento. Será que ouvem?Berto Messias, líder da bancada socialista afirmou, noutro contexto, o do emprego jovem, que as organizações político-partidárias devem estar próximas dos seus cidadãos. Noutro contexto, o das autarquias locais, defende que "A proximidade às populações é crucial para uma actividade política consciente dos reais problemas e das verdadeiras necessidades das nossas comunidades". Retornando à juventude, esse mesmo líder afiança: "Mesmo assim, é necessário introduzir novos paradigmas nas formas de fazer política e de transmitir a mensagem dos políticos para aumentar a participação dos jovens e a proximidade entre eleitores e eleitos reduzindo, assim, as altas taxas de abstenção que ainda existem".Como eleitor que sou, mesmo não votando no senhor Berto Messias, concordo com esses princípios, mas na prática já percebi que este nunca me representaria. Felizmente tenho alguém que o faz.Não cabe aos eleitos, mediante sufrágio universal, directo e secreto, de harmonia com o princípio da representação proporcional e por círculos eleitorais de ilha, representar a sua ilha e o seu Concelho, estabelecendo assim uma proximidade entre eleito e eleitor? Não deve o cidadão aproximar-se do seu eleito, no mínimo com reflexões "sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os sectores da sociedade podem cooperar no estudo de soluções para os problemas sócio-ambientais"? Cito apenas regras eleitorais e princípios da Agenda 21.Não deveria ser o senhor Berto Messias a defender as soluções para a sua terra, independentemente de concordarmos ou não com elas, pela proximidade que tem dessa realidade? Vamos ver a falta de lógica em torno dos distintos episódios desta novela sobre as contaminações da Praia:Facto: Os mensageiros foram ridicularizados e chamados de irresponsáveis. Argumento do PS: Partidarismo e populismo. Isso não é científico.Facto: O poluidor (Os Americanos) admite. Argumento do PS: O poluidor não é credível é preciso fazer mais um estudo por uma instituição credenciada e credível. Isso não é lógico nem científico.Facto: Depois de se ler o segundo relatório, o do LNEC, toda a oposição lê que há poluição fora da Base das Lajes e que o aquífero basal está poluído. Argumento do PS: Partidarismo, populismo, alarmismo e erro de leitura. Facto: A oposição propõe uma Comissão de Inquérito. Reacção: O PS chumba. Argumento do PS: Partidarismo, populismo. Passa-se então para uma comissão parlamentar maioritariamente socialista, ouvindo-se apenas o Governo, a Praia Ambiente e o LNEC.Até aqui alguém nota um esforço do PS para ouvir alguém? Se se concorda só se pode estar a pensar nos Camaradas e no LNEC, valha-nos ao menos essa última Instituição, porque o Povo, que na surdina se pronunciou, e as diversas instituições regionais não ligadas ao poder político, não foram ouvidas.Facto: O LNEC reafirma que há poluição do aquífero basal e que isso é a grande conclusão do seu estudo. Argumento do PS- O LNEC veio dizer o que sempre dissemos.Exclamei na altura: Que bom, até que enfim estamos todos de acordo! Vamos lá descontaminar.Facto: Recentemente a oposição faz perguntas relativamente as quais é importante ter respostas, nomeadamente: "O que é uma descontaminação completa no entender do partido socialista?". Ninguém responde. "Quanto custa a descontaminação?". Ninguém responde. "Quando se inicia a descontaminação?". Ninguém responde.Afinal senhor Berto Messias, quando afirma no seu artigo de opinião que "..é tempo de avançar com o processo de descontaminação para evitar problemas no futuro", quando é esse futuro ou esse tempo? Como é que teremos problemas no futuro, se diz não haver qualquer risco no presente? O que é para si a reabilitação de zonas identificadas no relatório do LNEC? Recuperar a confiança ou a consideração pública em quê, se diz não desconfiar de nada e que o que há por aí é ruído de fundo?Parabéns à Praia Ambiente. Já começou com o processo de monitorização da água de consumo.Desconcertante é o acompanhamento que PS e Berto Messias propõem para a descontaminação: Governo Regional e Conselho Regional para o Desenvolvimento Sustentável, se o relacionarmos com a defesa que o líder da bancada socialista faz da política de proximidade. Uma autêntica incoerência. Tenho a impressão que não sabe o que é a Agenda 21. Se sabe, não propõe para essa comissão um grupo de cidadãos do seu Concelho, tal como está subjacente a uma lógica de Agenda 21 Local. A Agenda 21 tem várias esferas de acção: Local, Regional, Nacional e Global. A Agenda 21 é apenas um programa de acção que se constitui numa tentativa de promover, à escala global, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando os métodos de protecção ambiental, justiça social e eficiência económica. É essa a lógica que está subjacente ao Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável.Diz-se no plano regional de desenvolvimento sustentável dos Açores que "de acordo com os princípios definidos na Agenda 21, procura-se enquadrar a leitura dos dados numa escala de proximidade, de forma a divisar estratégias de resolução dos problemas identificados com base numa análise directa e local das questões que afectam o dia-a-dia das populações.". O problema da Praia da Vitória não tem nada a ver com o dia-a-dia dos praienses?Ora, o senhor Berto Messias e o PS não propõem o acompanhamento por um grupo da Agenda 21 da Praia da Vitória, mas sim pelo Conselho Regional. Não tenho nada contra o Conselho Regional, mas isso não tem nada a ver com proximidade aos cidadãos. Esse conselho é apenas um órgão criado no âmbito da Agenda 21 Regional, ou seja um órgão consultivo de referência. Se tivesse lido o plano de desenvolvimento sustentável dos Açores veria que aí se refere que para além da auscultação do Conselho Regional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CRADS) se deve ouvir um painel multidisciplinar de personalidades no que diz respeito às temáticas sócio-económicas e ambientais. O Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável é um órgão para ser auscultado e não para ser informado ou acompanhar seja o que for.Senhor Berto Messias, qual é a coerência da sua proposta e do seu partido? De facto apresentou alternativa, mas essa alternativa não é minimamente coerente com aquilo que diz, misturando alhos com bugalhos. Essa é uma solução de quem não é capaz de dialogar. Esse assunto é sério de mais para que o senhor o trate sem ponderação e responsabilidade.

(In Diário Insular)