sexta-feira, maio 15, 2009

A lentilha

Joaquim Leça
Este texto foi publicado no dia 3 de Maio de 2009, na revista "Mais" do Diário de Notícias. A lentilha pertence à família das leguminosas, sendo "parente" próxima de culturas como o feijão, a fava, a ervilha, o grão de bico, entre outras. Trata-se de uma planta de ciclo anual, cultivada em sequeiro e que pode atingir 25 a 40 centímetros de altura. Ao fim de quatro meses, procede-se à sua apanha, aproveitando-se as pequenas vagens com duas sementes achatadas, em forma de lente, de cor verde, laranja, vermelha, castanha ou preta, consoante a variedade. As folhas e os caules são usados na alimentação animal. Originária do Médio Oriente, a lentilha faz parte da dieta humana desde data remota. Tradicionalmente, a Índia, o Paquistão, o Bangladesh, o Nepal, o Sri Lanka e outros países vizinhos, cujas populações são na sua maioria vegetarianas, consomem estas sementes, por serem ricas em proteínas. Nos nossos dias, esta leguminosa está espalhada por todos os continentes, destacando-se por ordem decrescente de produção, a Índia, o Canadá (principal exportador mundial) e a Turquia. O "Elucidário Madeirense" do Pe. Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses, refere que a lentilha era “frequentemente cultivada no Porto Santo” e também no Caniçal. Noutros tempos, no Natal madeirense e porto-santense, faziam-se "searinhas" de trigo e desta leguminosa para ornamentar a lapinha. Actualmente, é ainda cultivada na "ilha dourada", embora em pequenas quantidades, quando comparada com o passado. A sementeira realiza-se no final de Janeiro, início de Fevereiro e a colheita em Maio. Assim, tira-se proveito dos meses de Inverno, para que as chuvas possam irrigá-la e, os meses da Primavera, com temperatura e exposição solar favoráveis, contribuem para o seu crescimento e maturação. A secagem das sementes é efectuada ao sol, na eira, por forma que o teor de humidade diminua e desse modo, se aumente o tempo de conservação destas. A lentilha do Porto Santo é pequena, de cor avermelhada e com um sabor característico, sendo cozinhada de diversas maneiras, numa deliciosa sopa com carne de porco e migalhas de bolo de cevada ou acompanhada por umas fatias deste, cozida só por si ou com arroz. Em súmula, esta leguminosa ímpar que está associada à gastronomia porto-santense de outrora e de agora, deveria constar nas ementas dos hotéis e restaurantes locais. Ao fazerem isso, estariam a preservar e a estimular uma parte da agricultura daquela ilha, proporcionando aos visitantes mais uma experiência única de aromas e sabores.
(In Agricultando)

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