Fátima continua a revelar coisas que eram secretas para nós
Tomaz Dentinho
Estive em Fátima nos primeiros dias do mês de Maio num retiro do Movimento Comunhão e Libertação. No ambiente de Fátima é mais fácil rezar. Na circunstância de um retiro é mais fácil pensar. E foi entre o rezar e o pensar que passei aqueles três dias de sol, de peregrinos e de Nossa Senhora. Se repararmos na multidão de pessoas diferentes que por ali passaram naqueles dias é manifesto que o sentido religioso está presente em todos homens. E quando por vezes estamos mais distraídos ou mais medrosos, há sempre alguma coisa bem real que nos remete para o mistério. No mistério somos de facto um só. Basta olhar para o lado, ou nem sequer olhar mais sentir que a perplexidade face ao mistério é partilhada por todos os que estão à nossa volta. Esse sentimento parece mais presente naqueles lugares de peregrinação mas a razão dá-nos a certeza de que essa mesma unidade misteriosa com todos os homens se verifica em todos os tempos e todos os lugares.
É nessa inevitabilidade de partilha e união misteriosa que é sentida a necessidade de perdão e comunhão; e espantosamente de libertação. O momento para a decisão da confissão, que se segue a tempos mais ou menos longos de angústia e arrependimento, é sempre repentino, como se a busca de perdão e de comunhão fosse ajudada pela Graça. O problema é que estamos longe dos tempos, dos espaços e das predisposições onde essa Graça é mais fácil de entender. Não dá jeito aqui e agora, e assim vamo-nos privando da alegria imensa e certa que a liberdade traz. É por isso que são importantes os silêncios e as caminhadas a que a Igreja vai chamando de retiros e peregrinações.
Neste retiro que vos falo houve três aulas de apresentação e uma aula para responder a dúvidas. Pelo meio houve espaço para pensar, para rezar e também para conversar. E nunca destoa um pastel de nata num daqueles cafezinhos que foram surgindo em Fátima a acompanhar sistematicamente o aumento dos peregrinos e a redução da sua sazonalidade. A primeira aula foi sobre a Circunstância. E o recado resume-se ao facto de que “as circunstâncias pelas quais Deus nos faz passar são factores essenciais e não secundários na nossa vocação”. E justificou dizendo que “se o Cristianismo é o anúncio de que o Mistério encarnou, então a circunstância é um factor crucial do testemunho de Deus. E concretiza que “a crise, o terramoto, as mais diversas formas de dor, e as leis que deixaram de defender o bem” são parte inolvidável dessa circunstância de que não podemos e não devemos fugir. Mas dá-nos esperança dizendo - num perfeccionismo de linguagem de raiz italiana - que a vida não é uma tragédia que faz acabar o tudo no nada; pelo contrário a vida é dramática porque é a relação entre o nosso eu e o tu de Deus. Deus que, paradoxalmente, nos chama através da circunstância. Só assim se entende a dor e o sofrimento: pelo espectáculo da Ressurreição depois de uma semana de Paixão; pela maravilha do amor que surge da circunstância de um terramoto; pela alegria mais corriqueira de uma boa nota depois do esforço do estudo. “Comovemo-nos e, por isso, movemo-nos”, também ouvi dizer por lá.
A segunda aula teve que ver com a clarificação de que o Cristianismo não se restringe a uma ética do bem e do mal, ficando para a ciência a definição do verdadeiro e do falso. Essa visão do iluminismo restringe o Cristianismo ao sentido religioso presente em todos os homens, e ofusca a visão de Cristo na realidade da nossa circunstância. In extremis anula a incarnação de Nosso Senhor, impede-nos ver o testemunho de Deus no mundo e distrai-nos da sede de infinito de cada homem com a sua circunstância. Como é que caímos neste engano de separar o bem da verdade quando são os factos que nos comovem são os que movem o coração que tem sede de infinito?
A terceira aula foi sobre como a obediência ao coração nos transforma em co-criadores. Não há dúvida de que Fátima continua a revelar coisas que eram secretas para nós!
É nessa inevitabilidade de partilha e união misteriosa que é sentida a necessidade de perdão e comunhão; e espantosamente de libertação. O momento para a decisão da confissão, que se segue a tempos mais ou menos longos de angústia e arrependimento, é sempre repentino, como se a busca de perdão e de comunhão fosse ajudada pela Graça. O problema é que estamos longe dos tempos, dos espaços e das predisposições onde essa Graça é mais fácil de entender. Não dá jeito aqui e agora, e assim vamo-nos privando da alegria imensa e certa que a liberdade traz. É por isso que são importantes os silêncios e as caminhadas a que a Igreja vai chamando de retiros e peregrinações.
Neste retiro que vos falo houve três aulas de apresentação e uma aula para responder a dúvidas. Pelo meio houve espaço para pensar, para rezar e também para conversar. E nunca destoa um pastel de nata num daqueles cafezinhos que foram surgindo em Fátima a acompanhar sistematicamente o aumento dos peregrinos e a redução da sua sazonalidade. A primeira aula foi sobre a Circunstância. E o recado resume-se ao facto de que “as circunstâncias pelas quais Deus nos faz passar são factores essenciais e não secundários na nossa vocação”. E justificou dizendo que “se o Cristianismo é o anúncio de que o Mistério encarnou, então a circunstância é um factor crucial do testemunho de Deus. E concretiza que “a crise, o terramoto, as mais diversas formas de dor, e as leis que deixaram de defender o bem” são parte inolvidável dessa circunstância de que não podemos e não devemos fugir. Mas dá-nos esperança dizendo - num perfeccionismo de linguagem de raiz italiana - que a vida não é uma tragédia que faz acabar o tudo no nada; pelo contrário a vida é dramática porque é a relação entre o nosso eu e o tu de Deus. Deus que, paradoxalmente, nos chama através da circunstância. Só assim se entende a dor e o sofrimento: pelo espectáculo da Ressurreição depois de uma semana de Paixão; pela maravilha do amor que surge da circunstância de um terramoto; pela alegria mais corriqueira de uma boa nota depois do esforço do estudo. “Comovemo-nos e, por isso, movemo-nos”, também ouvi dizer por lá.
A segunda aula teve que ver com a clarificação de que o Cristianismo não se restringe a uma ética do bem e do mal, ficando para a ciência a definição do verdadeiro e do falso. Essa visão do iluminismo restringe o Cristianismo ao sentido religioso presente em todos os homens, e ofusca a visão de Cristo na realidade da nossa circunstância. In extremis anula a incarnação de Nosso Senhor, impede-nos ver o testemunho de Deus no mundo e distrai-nos da sede de infinito de cada homem com a sua circunstância. Como é que caímos neste engano de separar o bem da verdade quando são os factos que nos comovem são os que movem o coração que tem sede de infinito?
A terceira aula foi sobre como a obediência ao coração nos transforma em co-criadores. Não há dúvida de que Fátima continua a revelar coisas que eram secretas para nós!
(in A União)
Etiquetas: opinião, religião, Tomaz Dentinho
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