terça-feira, novembro 25, 2008

ANGRA Equipamentos culturais e lugares

Francisco Maduro-Dias

O assunto não é novo, mas merece ser tratado outra vez, na sequência do desmoronamento de parte da muralha da fortaleza de S. Sebastião, do estado a que chegou – como se ainda fosse possível chegar muito mais adiante... – o antigo Hospital Militar da Boa Nova, do que aconteceu à torre de balões meteorológicos do Observatório José Agostinho, do que se passa com salas como a Recreio e o Teatro Angrense, do que nos prometem com a nova Biblioteca, do que aconteceu com o afastamento do ex-conservatório, da lenta aproximação do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores do centro histórico da cidade, das ruínas – ainda – dos antigos conventos das concepcionistas e dos capuchos, e por aí fora.
E perguntam porque é que a cidade – esta e as outras, porque não é só esta – se desertificam, perdem habitantes, ficam estranhas à noite!
É especial a responsabilidade que temos relativamente a Angra do Heroísmo, enquanto lugar do Mundo onde o Património Cultural deve se especialmente protegido como recurso não renovável e património a usar em benefício do desenvolvimento sustentável da comunidade humana que aqui habita ou nos visita.E essa responsabilidade deve fazer pensar no que se tem feito e não se tem feito em prol de um desenvolvimento harmónico dos equipamentos culturais.
Em tempos escrevi que era interessante notar a forma como, nos tempos idos de há uns dois ou três séculos, quem orientava e vivia nesta cidade colocou os edifícios “âncora” devidamente espalhados, para abraçarem a cidade, serem acedidos confortavelmente, não complicarem a vida uns aos outros e serem complementares quando necessário.
Se a gente vir os Impérios do Espírito Santo estão assim, espalhados mas com a lógica das comunidades que servem, se a gente olhar para as igrejas, capelas e ermidas é o mesmo; se a gente pensar nos diversos assentos do poder de então temos um na Praça Velha (a Câmara), outro no Corpo Santo (o Provedor das Armadas), outro ao cimo da Rua Direita (o Capitão do Donatário) outro no Monte Brasil (os militares), outro a meio da Rua da Sé (a Catedral).
A nobreza fazia o mesmo. Basta ver os solares e casas grandes de família, desde o Corpo Santo até S. Pedro e arredores e vê-los, convenientemente distribuídos por essas ruas para, não fazendo sombra uns aos outros, aproveitarem o espaço total.
Nós, nestes tempos de agora, parece que nos divertimos a preencher os espaços ditos disponíveis ao calhas, conforme a oportunidade e a possibilidade, afastando até equipamentos e funções absolutamente necessárias numa cidade que depende estruturalmente disso.
Não é o mesmo ter uma biblioteca descentrada ou alinhada com o Centro Cultural e o Bailão, aproveitando sinergias e criando centralidades novas;Não é o mesmo esperar por ter a Boa Nova na perspectiva de mais um museu – espaço de custos – ou uma fundação que tenha custos mas dinamize benefícios;Não é o mesmo ter o Observatório Meteorológico ali em cima e o Observatório de Ambiente cá em baixo, cada um puxando por si (e Deus por todos);Não é o mesmo ter o Centro Cultural sozinho a produzir e a disponibilizar, ou ter Recreio, Fanfarra, Alpendre, apenas para falar em alguns dos mais antigos, a colaborarem na dinamização da sua e nossa cidade.Não é o mesmo aceitar a lentidão da Universidade em aproximar-se ou tomar em mãos a necessidade, urgente, de a entrosar com a cidade, com mais residências (belo exemplo o da Rua do Morrão) ou gabinetes de trabalho e outros “metidos” no tecido urbano.E, depois, há a questão da divulgação e do atravancamento de actividades umas por cima das outras, velha de trinta anos, gerando e considerando públicos de costas voltadas, quando poderiam apoiar-se mutuamente (visitantes e habitantes).
Angra precisa de se completar no construído; evitar mais derrocadas como a do Castelinho e garantir que o tecido urbano edificado corresponde a uma vida urbana com pés e cabeça.
(In DI-Revista)

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