sexta-feira, setembro 26, 2008

Eleições Regionais dos Açores

Já conseguiu encontrar alguma ideia a “passear por aí” na pré-campanha eleitoral?
Não tenho prestado muita atenção. Mas a verdade é que não detectei, por enquanto, qualquer ideia. Não me lembro de qualquer ideia, sobretudo vinda do lado dos grandes partidos. Tenho lido os jornais e se houvesse alguma ideia, por exemplo, sobre a sustentabilidade do desenvolvimento da regional, teria notado. Nem nos transportes, nem na educação – que tem de dar um salto muito grande –, nem da saúde, que é um dos maiores sorvedouros do orçamento regional. Também não noto qualquer ideia sobre o turismo, nem poderia ajudar a travar a desertificação das ilhas pequenas. Muito menos há qualquer ideia para enfrentar a crise que estalou lá fora e que vai estalar também cá dentro…
O nosso modelo entrou em colapso?
O modelo encontrado para as ilhas maiores, baseado no leite e no turismo, não se adapta às ilhas mais pequenas. Essa adaptação tem de ser feita. Quer procurando outros segmentos, quer modificando a política de transporte, que poderá também passar por aviões mais pequenos e ligações directas. Aqui no Pico, onde me encontro de momento, o incremente do turismo que aconteceu com o início dos transportes marítimos foi um flop. Os custos são maiores nas ilhas pequenas, há um monopólio das empresas de hotelaria, transporte e aluguer de automóveis. Este problema só foi resolvido e apenas parcialmente, em S. Miguel, mas mesmo assim com base em charters subsidiados. Já deveria ter sido dado o passo da liberalização. Note-se também que o modelo de oferta turística baseado em grandes hotéis não se ajusta às ilhas pequenas e anula a iniciativa local, impedindo, por exemplo, o turismo ligado ao aluguer de casas.
Tem algumas expectativas ligadas com o acto eleitoral de 19 de Outubro?
Não tenho expectativas. Estas eleições são semelhantes às angolanas, porque o partido que está no governo domina a vinda do dinheiro de fora e portanto domina também os mecanismos do poder. Há um enviesamento da democracia. Se quem estiver no poder tiver visão, consegue desenvolver essa visão, caso contrário está apenas a esgotar um recurso. Nos Açores não há visão da parte de quem está no poder. O crescimento não se deveu à produtividade, a transferências públicas vindas do exterior. Quando essas receitas começarem a diminuir, não haverá turismo suficiente, o leite estará entregue a interesses externos à região e o mar entregue aos espanhóis. E a TAP não deixa que se crie centralidade nos aeroportos dos Açores, que poderia ser induzida pela liberalização das rotas aéreas transatlânticas.
E o povo suporta tudo isso em paz e sossego?
O povo emigra quando pode. Uns ficam lá fora depois de estudarem e outros escolhem viver na América e no Canadá. É por isso que não há a resolva dos desempregados. E os miseráveis não se revoltam - estão dependentes do rendimento mínimo e de outros apoios. Pode ser que este novo modelo eleitoral garanta a eleição de deputados dos pequenos partidos que possam dar voz às novas gerações dependentes dos estagiares L e outras porcarias. Esta gente vai fazer, um dia destes, um novo 25 de Abril em Portugal.
(In Diário Insular)

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