segunda-feira, julho 28, 2008

Relações E.U.A.-Açores em debate

PONTA DELGADA - O primeiro fórum bianual com o mesmo nome de Franklin Delano Roosevelt consolidou os laços que já existiam entre Portugal e os Estados Unidos. O I Fórum Transatlântico Franklin D. Roosevelt sobre "As relações transatlânticas na opinião pública europeia e americana," realizado a semana passada em Ponta Delgada, São Miguel, marcou o 90º aniversário da escala do então subsecretário de Estado da Marinha norte-americana, Franklin Roosevelt, aos Açores para inspeccionar as tropas americanas na base naval de Ponta Delgada, no dia 16 de Julho de 1918, na sua viagem rumo à Europa. Alguns anos mais tarde, tornar-se-ia o 32º presidente dos Estados Unidos, a cumprir mandatos entre 1933 e 1945. Para celebrar a sua estadia nos Açores, assim como o relevante papel assumido pelo Presidente Roosevelt na política internacional do século XX e a sua particular atenção às questões geopolíticas suscitadas pela posição geográfica do arquipélago açoriano, o Governo Regional dos Açores juntamente com a Fundação Luso-Americana (FLAD) organizaram um fó-rum de discussão para a abordagem de temas relacionados com as relações transatlânticas entre Portugal e os EUA. "Pretendemos organizar o fórum de dois em dois anos, variando a cidade nos Açores e talvez haja a oportunidade de fazer junto das comunidades luso-descendentes," adiantou Mário Mesquita, membro do conselho executivo da FLAD e coordenador da comissão organizadora do fórum, ao O Jornal. "O propósito é colocar os Açores no mapa da reflexão estratégica a nível internacional. Também foi uma oportunidade de ligar a existência do fórum a essa passagem de Frabklin Roosevelt [pelos Açores]." Políticos, académicos, representantes diplomáticos, líderes comunitários e especialistas participaram no fó-rum para compartilhar as suas opiniões e percepções sobre as relações transatlânticas. O Senator Estatal Marc R. Pacheco (D-Taunton) foi seleccionado entre várias individualidades americanas para discursar no fórum, que promoveu o diálogo entre governantes de modo a realçar as fortes ligações económicas, culturais e históricas entre os Açores e Massachusetts. "Tivemos a oportunidade, durante as pausas, para falarmos uns com os outros sobre os problemas relacionados com a segurança nacional, mudanças no aquecimento global e as relações entre os Açores e os Estados Unidos," afirmou Pacheco, que foi entrevistado para a recente publicação da revista da FLAD, "Paralelo." "Abordei os três elementos da relação transatlântica." Pacheco sentiu-se deveras honrado por ter sido convidado para participar no colóquio, realizado na terra do seus trisavós, e trocar ideias sobre o futuro das relações transatlânticas. "Há uma imigração muito limitada entre os Açores e os Estados Unidos neste momento," frisou o Senador. "Existem mais oportunidades, mais actividade nos Açores e muito mais turismo... [o arquipélago] está a expandir-se, o que são boas notícias, mas o desafio é manter as relações que tivemos no século passado. Para continuar a imigração, temos de desenvolver laços transatlânticos. Existe um mundo para além das nossas fronteiras. Os mais jovens de Portugal e de outros países podem residir aqui e terem um melhor conhecimento do nosso sistema." O Senador, que participou numa mesa redonda sobre o tema "O Futuro das Relações Transatlânticas," também salientou outros tópicos. "Os congressistas e políticos que representam largas comunidades de portugueses aumentaram o seu poder político," expressou. "Antes, eles eram uma minoria, mas agora esses políticos estão numa posição de grande poder e influência, podendo fazer mudanças." Também realçou o facto de Portugal e os Estados Unidos poderem fazer uma diferença se juntarem forças para combater um inimigo mundial: o aquecimento global. "Temos um inimigo identificável e não é apenas o terrorismo, mas as mudanças no clima mundial. Podem lidar com a situação de ambos os lados do Atlântico. A ciência e a pesquisa podem ser o elo de ligação. Portugal está muito mais à frente dos Estados Unidos. A UMass Dartmouth tem estado a trabalhar com a Universidade dos Açores. Todos nós fazemos parte do problema e todos nós fazemos parte da solução," acrescentou. João Pacheco, de East Providence e membro do Conselho das Comunidades Portuguesas, participou numa mesa redonda que abordou o tema "A Comunidade Luso-Americana e as Relações entre Portugal, os Açores e os Estados Unidos." Na sessão de abertura discursaram, Rui Machete, presidente da FLAD, Jorge Rosa de Medeiros, Vice-Reitor da Universidade dos Açores e Carlos César, Presidente do Governo Regional dos Açores. Segundo o Senador Pacheco, o antigo Presidente da República, Mário Soares, que proferiu na palestra "As Relações Transatlânticas numa Perspectiva Futura," admitiu o seu apoio a Barack Obama nas eleições, confessando-se 'obamamaníaco.' Durante a sessão de encerramento, o secretário regional da Presidência, Vasco Cordeiro, considerou que o fórum constituiu o "confirmar das expectativas" em torno do "reforço da acção da FLAD, no que diz respeito à discussão de temáticas relacionadas com os Açores." "A protecção ambiental, a investigação científica ligada ao mar ou matérias relacionadas com o aproveitamento das energias renováveis e a possibilidade de desenvolver parcerias com a Universidade dos Açores, são exemplos que podem ser aproveitados para fomentar o debate entre os dois lados do Atlântico," disse. A FLAD irá publicar um livro bilingue com as conclusões e o balanço final do órum, segundo Mesquita. "O colóquio foi pluralista," salientou o coordenador do fórum. "Uma das coisas que esteve mais presente foi a actual fase dos EUA, onde se espera uma mudança na política externa. Há pessoas que têm expectativas, outras são mais prudentes." Os principais objectivos foram concretizados no primeiro fórum?, perguntou O Jornal a Mário Mesquita. "Acho que não sou eu que devo avaliar, mas posso responder que sim, foi um sucesso. Em 2010 o fórum será, em princípio, realizado na Terceira," adiantou.

(In O Jornal)

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