segunda-feira, abril 04, 2011

De repente, há produtos que adquirem valor agregado

Félix Rodrigues (Opinião)
Há quem siga todos os dias as oportunidades de negócios através das Bolsas de Valores, mas poucos são os que acompanham diariamente critérios que possam valorizar os seus produtos ou apostem na inovação ou investigação científica. O valor acrescentado de um produto é constituído pelos salários, juros e lucros, isto é, os rendimentos dos factores produtivos utilizados ou acrescentados à produção pela empresa, sector de actividade ou País, mas depende também da inovação e conhecimento, e muitas vezes, da marca, ou seja, do seu valor agregado.Ninguém desconhece o facto de que estamos em crise profunda, e para ultrapassá-la há que pagar o que devemos, produzir mais e ter boas ideias. Uma boa ideia é algo que se deve apresentar exequível, com elevada possibilidade de comercialização, tornando-se assim geradora de riqueza. À apresentação e sistematização da ideia, segue-se normalmente, numa gestão empresarial criteriosa, a elaboração de um plano de negócios, procedimento que permitirá avaliar a viabilidade do empreendimento. Assim sendo, a viabilidade de um produto depende dos mercados, e estes nem sempre estão disponíveis para o adquirirem, a não ser que algo mude drástica e repentinamente. De repente, um produto ou uma marca valoriza-se por passar a ter a preferência dos mercados. Quem tiver ideias e capacidade de acção imediata, terá lucros, mesmo que o produto da sua empresa até um dado momento não tivesse grande reconhecimento dos mercados.Vem isso a propósito da crise e dos acidentes dos vários reactores nucleares do complexo de Fukushima Daiichi: uma grande catástrofe com efeitos globais, classificada recentemente como de nível 6, aproximando-se rapidamente do nível máximo (nível 7) até agora atribuído apenas ao acidente nuclear de Chernobyl. As consequências a nível local (Japão) dos incidentes e acidentes nucleares de Fukushima Daiichi são enormes, com contaminação radioactiva das águas de consumo e do mar e de toda a cadeia alimentar. O Japão, por razões não desejáveis, passou a ser um mercado por excelência para produtos alimentares não contaminados com isótopos radioactivos. Infelizmente, muitas vezes as desgraças de uns podem tornar-se as oportunidades de outros.Os japoneses procurarão nos mercados internacionais, carne, peixe, leite, fruta e produtos hortícolas não contaminados. Nós, temo-los.Toda a costa Oeste dos Estados Unidos (especialmente de San Luís Obispo a Mendocino) e do Canadá está a receber deposição de Césio 137 e estrôncio 90, que entrará na cadeia alimentar, desvalorizando desse modo as produções locais. Essas regiões apresentarão maior tendência para procurar no mercado internacional produtos alimentares com baixos níveis de radioactividade. Nós temo-los.O Iodo 131 (isótopo libertado nos acidentes nucleares no Japão) tem um período de meia-vida de cerca de 8 dias, o que quer dizer que passado um ano, as regiões mais atingidas terão níveis normais de actividade desse isótopo, mas o mesmo não se passa com o Césio 137, cujo período de meia vida é de cerca de 30 anos, ou seja, os níveis ambientais no Japão, por exemplo, atingir-se-ão daqui a várias décadas.No Hemisfério Norte, a Região dos Açores será das zonas do globo com menor deposição de Césio 137 e estrôncio 90 ao nível do solo, mesmo que o acidente de Fukushima Daiichi atinja a gravidade de Chernobyl (essa classificação dependerá da quantidade de isótopos radioactivos efectivamente emitidos para a atmosfera ou para os oceanos, pois há medições que são ditas e contraditas pelas autoridades japoneses). Esta é uma boa oportunidade para convencermos os nossos amigos americanos instalados na base das Lajes a consumirem os nossos produtos. É também uma oportunidade para entrarmos nos mercados japonês e norte americano, mas para isso há que certificar aquilo que produzimos, medindo a radioactividade nos produtos que exportamos ou consumimos. Se não virmos oportunidades como esta, certamente outros a enxergarão.O leite açoriano e a carne açoriana são ricos em CLA (ácido linoleico conjugado), porque as nossas vacas se alimentam essencialmente de pastagem, fazendo com que esses produtos contenham até 4 vezes mais CLA do que os produtos derivados de vacas que se alimentam a ração. Há vários estudos que afirmam que o CLA possui propriedades anti-cancerígenas. Assim sendo, prevê-se que um leite rico em CLA e sem contaminação radioactiva, tenha toda a aceitação dos mercados Japonês e Norte-Americano. Para o vender bem, haverá que lhe criar uma designação de origem e indicar nas embalagens a sua composição. Esta é uma ideia, que de repente, poderia dar origem a um bom plano de negócios numa região em crise.

(In DI XL)