A Festa das Cigarras
Tomaz Dentinho
Já demos por isso. Os eleitores açorianos são um bocadinho “maria vai com as outras”. Quando o PSD está no poder votam PSD até que o chefe se vá embora, não vá o diabo tecê-las. Quando o PS Governa o melhor é não levantar muitas ondas e manter as coisas como estão, também até o chefe se ir embora; “sabemos onde estamos, não sabemos para onde vamos”, é isso que expressam alguns com um ar meio esguio e matreiro de quem há muito tempo optou por ser discreto e umbilical em vez de ser inteligente e ousado como os que partiram para o outro lado do mar.
No entanto nos Açores a terra e o mar também votam quando as gentes parecem ter esquecido de onde são, e preferem voar aos sons dos ventos de fora que trazem mais fortuna momentânea. Se a América dizia que era assim então para quê dizer o contrário. Se, agora, a Europa diz que é assado que remédio nos resta se não acatar o que dizem de Bruxelas e ainda pagam? O problema, ou a sorte, é que o mar e a terra não se calam sobretudo neste ponto particularmente sensível do Planeta.
Em Angra do Heroísmo lembraram-se de que eram os maiores e os melhores a organizar e celebrar festas e festividades. E como havia um dinheirinho europeu de semente, vá de organizar mais festas e festivais com nome de cultura, fazer barulho à fartazana, acabar com o porto que justificou a cidade para fazer bares e restaurantes de anti-civilização, e descurar aquilo que é a base de qualquer cidade insular: o abastecimento de água e o porto que, desde há cinco séculos, iam estruturando o desenho urbano desta cidade que escolhemos para viver.
Esqueceram-se, os seguidores da Cigarra, que a cidade começa nos cumes das Serras do Morião, do Pico Alto e de Santa Bárbara e termina nos termos das rotas que demandam Angra, do outro lado do mar. E, de repente, a água deixou de correr nos tubos e passou a faltar nos reservatórios. De, repente, a cidade ficou vazia porque quinhentos empregos foram mudando para o novo porto construído na Praia, ficando Angra como armazém para barcos de recreio. De repente – “virá que eu vi” – o governo subsidiado do exterior deixará de ter dinheiro para pagar os funcionários regionais da cidade que, in extremis, se transformará no Topo da Ilha Terceira, cheio de história e de ruína, sem água e sem porto, sem vocação e sem sentido. Aconteceu a outras cidades que foram importantes, nessas ilhas aí para fora – como dizia um sabedor micaelense. Sobretudo quando se esqueceram do saber da água que lhes dava raízes e do porto que lhes dava sentido. Tudo no meio de muita festa e de muita obra de fachada dos últimos dias.
Mas as ilhas relativamente pequenas têm felizmente estes alertas ambientais, mesmo quando as gentes se esquecem das raízes que têm e do sentido para que foram criados. E é assim que quem se vai encarregar de derrotar o poder estabelecido não é uma oposição que pouco tem de diferente mas sim a falta de água, a degradação da paisagem, a degradação da cultura e a anulação do porto.
Quando percebermos que não temos água porque deixámos fazer rebentamentos em pedreiras, porque não pagámos a alguns lavradores para produzirem água em vez de produzirem leite e carne, porque não cuidámos com o peso dos camiões das obras a pisar condutas, porque não tivemos coragem de controlar a procura através do preço, porque vivemos à conta das obras de outros tempos, porque chamámos um supostos peritos de fora para palrar na comunicação social, porque anunciámos restituições de verbas sem resolver o problemas. Quando percebermos isso tudo, dizia, nem teremos força para culpar alguém. A culpa é nossa – formigas discretas e umbilicais - que nos deixámos enredar na Festa das Cigarras.
No entanto nos Açores a terra e o mar também votam quando as gentes parecem ter esquecido de onde são, e preferem voar aos sons dos ventos de fora que trazem mais fortuna momentânea. Se a América dizia que era assim então para quê dizer o contrário. Se, agora, a Europa diz que é assado que remédio nos resta se não acatar o que dizem de Bruxelas e ainda pagam? O problema, ou a sorte, é que o mar e a terra não se calam sobretudo neste ponto particularmente sensível do Planeta.
Em Angra do Heroísmo lembraram-se de que eram os maiores e os melhores a organizar e celebrar festas e festividades. E como havia um dinheirinho europeu de semente, vá de organizar mais festas e festivais com nome de cultura, fazer barulho à fartazana, acabar com o porto que justificou a cidade para fazer bares e restaurantes de anti-civilização, e descurar aquilo que é a base de qualquer cidade insular: o abastecimento de água e o porto que, desde há cinco séculos, iam estruturando o desenho urbano desta cidade que escolhemos para viver.
Esqueceram-se, os seguidores da Cigarra, que a cidade começa nos cumes das Serras do Morião, do Pico Alto e de Santa Bárbara e termina nos termos das rotas que demandam Angra, do outro lado do mar. E, de repente, a água deixou de correr nos tubos e passou a faltar nos reservatórios. De, repente, a cidade ficou vazia porque quinhentos empregos foram mudando para o novo porto construído na Praia, ficando Angra como armazém para barcos de recreio. De repente – “virá que eu vi” – o governo subsidiado do exterior deixará de ter dinheiro para pagar os funcionários regionais da cidade que, in extremis, se transformará no Topo da Ilha Terceira, cheio de história e de ruína, sem água e sem porto, sem vocação e sem sentido. Aconteceu a outras cidades que foram importantes, nessas ilhas aí para fora – como dizia um sabedor micaelense. Sobretudo quando se esqueceram do saber da água que lhes dava raízes e do porto que lhes dava sentido. Tudo no meio de muita festa e de muita obra de fachada dos últimos dias.
Mas as ilhas relativamente pequenas têm felizmente estes alertas ambientais, mesmo quando as gentes se esquecem das raízes que têm e do sentido para que foram criados. E é assim que quem se vai encarregar de derrotar o poder estabelecido não é uma oposição que pouco tem de diferente mas sim a falta de água, a degradação da paisagem, a degradação da cultura e a anulação do porto.
Quando percebermos que não temos água porque deixámos fazer rebentamentos em pedreiras, porque não pagámos a alguns lavradores para produzirem água em vez de produzirem leite e carne, porque não cuidámos com o peso dos camiões das obras a pisar condutas, porque não tivemos coragem de controlar a procura através do preço, porque vivemos à conta das obras de outros tempos, porque chamámos um supostos peritos de fora para palrar na comunicação social, porque anunciámos restituições de verbas sem resolver o problemas. Quando percebermos isso tudo, dizia, nem teremos força para culpar alguém. A culpa é nossa – formigas discretas e umbilicais - que nos deixámos enredar na Festa das Cigarras.
(In A União)
Etiquetas: opinião, Política, recursos hídricos, Tomaz Dentinho
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