Dinheiro? – dizem que não há…
Luís Fagundes Duarte
O reitor da Universidade dos Açores faz aquilo que se espera que faça o reitor de qualquer Universidade: que a governe, internamente, e que a promova e defenda, externamente. É nesse sentido que eu interpreto algumas das suas afirmações que vieram recentemente a público – por mor da sacrossanta situação económica da instituição. De resto, é sobretudo por questões de alegada falta de financiamento – e não tanto por iniciativas de cariz científico ou de intervenção na sociedade, como seria de esperar, apesar de haver algumas e muito meritórias… – que mais temos ouvido falar da nossa universidade. Por exemplo, no artigo “Universidade. Reitor aponta o dedo a Lisboa”, publicado no Diário Insular de quarta-feira passada, as frases acerca da Universidade dos Açores que mais saltam aos olhos são acusações ao Governo da República, que seria responsável por “uma falta de 2,7 milhões de euros” nas contas da Universidade, e ao Governo dos Açores, responsável pela “transformação de serviços da secretaria regional da Educação e Ciência em agências de contra-informação”, e pela “descapitalização científica e financeira” da instituição, através da criação de institutos e outras entidades. Haverá, certamente, quem diga – que não eu, salvo seja! – que o sr. reitor endossa aquela verdade, muito generalizada, de que quando as coisas correm mal – a culpa é dos outros. E quando esses “outros” são um governo da República reformista, e portanto causador de algum mal-estar nos sectores mais conservadores da sociedade (“conservadores”, por não quererem mudanças que lhes mexam com a rotina), ou um Governo Regional em vésperas de eleições (e um piscar de olhos à oposição sempre pode funcionar como uma conta a prazo, não é?…) – vem mesmo a calhar… Claro que, em matéria de falta de dinheiros, ninguém poderá apontar o dedo à excelência da gestão da nossa Universidade. Vejamos:De acordo com os dados que conheço, os documentos preparatórios do Orçamento do Estado para 2009 prevêem, para a Universidade dos Açores, um aumento de 11% relativamente a 2008 – muito acima, como se pode ver, dos aumentos que terão as grandes universidades portuguesas, responsáveis pela maior parte da produção científica no nosso país, como sejam as do Porto, Coimbra, Lisboa, Técnica de Lisboa, e Minho (todas com aumentos de 2%), ou a Nova de Lisboa (com 6%). Queixa-se o sr. Reitor de que o Governo da República não lhe dá dinheiro, e que, não contente com isso, o Governo dos Açores lhe anda a fazer contra-informação e a roubar-lhe o capital científico e financeiro. O que me faz pensar, coçando a cabeça: se um aumento de 11% não é dinheiro, o que será isso de ser vítima da contra-informação ou do roubo de capital científico e financeiro?É que eu ainda me lembro, nos meus tempos de Director Regional da Cultura, de ter proposto à Universidade dos Açores a realização dos grandes projectos, que então lançávamos, de Inventário do Património Cultural dos Açores e de elaboração de uma História dos Açores para as escolas e para o público em geral – todos eles devidamente dotados financeiramente. As respostas que então tivemos foram: para o Inventário, nenhuma; e para a História, que era difícil, que não havia disponibilidade… Pelo que, como diria a Tia Guilhermina: – Pois!
(In Dário Insular)Etiquetas: Luís Fagundes Duarte, opinião, Política
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