terça-feira, junho 10, 2008

Na rota do vinho Calatayud

Aquando da sua estada na Universidade de Saragoça através do ERASMUS, em Abril pp, o Professor Catedrático Juan Cacho proporcionou à Professora Teresa Lima, docente na Universidade dos Açores, e co-fundadora e Grã-Escanção da Confraria do Vinho de Verdelho dos Biscoitos, uma visita à Região Vitivinícola de Calatayud.
É uma terra muito interessante com uma arquitectura soberba, marcada pela influência das culturas que balizaram a sua história e marcaram um estilo de vida próprio. Os povos iberos, romanos muçulmanos, judeus e cristãos marcaram profundamente toda a Província de Saragoça e neste caso Calatayud. A arte mudéjar de raiz islâmica foi aplicada durante muitos séculos depois do domínio árabe em templos e conventos cristãos e em edifícios civis. Ela está muito presente em Calatayud.


A paisagem maravilhosa da província de Saragoça é muito marcada pela cultura da vinha.
Na Denominação de Origem Controlada de Calatayud, a altitude das vinhas entre os 550 m e 880 m, sobre o nível do mar, condicionam uma cultura com um índice de pragas e doenças muito baixo, o que exige menos tratamentos e obtendo-se uvas muito naturais.
O rigor do clima, a escassa pluviosidade e as grandes diferenças de temperatura entre a noite e o dia na época da maturação, diminuem a produção e consequentemente aumenta a qualidade da uva vindimada. A maturação da uva processa-se de um modo muito lento, o que permite produzir vinhos sem excesso de álcool e com uma acidez muito equilibrada. Os solos da Comarca de Calatayud, com alto conteúdo em rochas calcárias, são formados por materiais pedregosos, rolados, procedentes das serras próximas, acompanhadas muitas vezes por argilas avermelhadas. A variedade predominante é a “Garnacha tinta” seguida da “Macabeo branca”. Outras variedades são cultivadas mas em menor proporção, nomeadamente tempranillo, garnacha branca, chardonnay, cabernet sauvignon, merlot, entre outras.
O Enólogo Manuel Castro fez-nos degustar dois vinhos: “Albada”, branco, elaborado com 100% da variedade Macabeo, e o “Albada Calatayud Superior”, tinto, elaborado também com 100 % da casta Garnacha.
Esta última variedade que produz vinhos excelentes é originária da Província de Saragoça.
O nome “Albada” é alusivo às canções que cantavam os agricultores ao amanhecer.
Esta adega produz também brancos, rosés e tintos com a marca “Cruz de Piedra”. Este nome deve-se às cruzes que existem nos vinhedos desta região que marcavam o Caminho de Santiago.
Todos estes vinhos são produzidos com uma tecnologia moderna, mas mantendo a tradição e sabedoria dos seus antepassados. São vinhos muito frutados, equilibrados e persistentes.
Após esta visita, os dois professores foram almoçar à cidade de Calatayud, ao restaurante da “Hospedaria Mesón de La Dolores”. A “Hospedaria Mesón de La Dolores” constitui um marco histórico ímpar, no centro de Calatayud. Dolores foi uma extraordinária mulher que viveu no séc. XIX, e como tal, sujeita às leis da vida, com os seus altos e baixos, com suas grandezas e fragilidades. O facto de viver numa época conflituosa, cheia de ressentimentos colectivos e de intransigências fez com que a sua própria vida fosse mediatizada pela ambição do pai e de um marido que disputaram a sua herança. O povo difamou-a, acusando-a de ter um amante. Com esta ligação anónima, que se alargou a todos os âmbitos, começou-se a forjar a fama da Dolores. É extraordinária a quantidade riquíssima e variada de património cultural em torno desta lendária personagem. Segundo Antonio Sánchez Portero, o seu número ultrapassa as duzentas obras e algumas de grande qualidade, nomeadamente composições musicais, filmes, teatros, novelas.
Durante o almoço neste ambiente mítico, a variedade Garnacha tinta bem como a tecnologia do “Albada Calatayud Superior” foram verdadeiramente apreciadas.
(In Bagos D'Uva)

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