A singularidade dos Campos Fumarólicos Açorianos, do ponto de vista turístico
Félix Rodrigues (Opinião)
Os campos fumarólicos vulcânicos possuem um potencial atrator turístico enorme nas regiões onde os encontramos. Por exemplo, o mais conhecido a nível mundial é o do Parque Nacional Yellowstone, nos Estados Unidos, com cerca de três milhões de visitantes ao ano. Também com enorme poder atrator, o Teide, na ilha de Tenerife nas Canárias é visitado por cerca de três milhões de pessoas por ano e o Vulcão Pinatubo nas Filipinas atrai cerca de 2,45 milhões de pessoas por ano. Por aqui se verifica que essas manifestações, estarem localizadas num continente ou num ilha não parecer ser o aspecto que mais os potencia do ponto de vista turístico, todavia, não podemos isolá-las por completo de outros factores que contribuem pela procura desses destinos.
As furnas (campos fumarólicos) correspondem a um fenómeno de vulcanismo secundário, onde ocorre a emissão de gases para a superfície terrestre, através de um sistema de fissuras.
Tanto o campo fumarólico das Furnas em São Miguel, como o Campo fumarólico das Furnas do Enxofre na ilha Terceira, são ícones turísticos dos Açores, cuja interpretação científica ajuda a criar valor acrescentado a essas paisagens, mas onde as emoções desencadeadas por esses espaços, também são uma mais valia. Nesses campos fumarólicos a ciência está por todo o lado, encontrando-se numa multiplicidade de lugares, de cores, sons e aromas, traduzindo-se numa verdadeira sinfonia para os sentidos. Atrevo-me a dizer que os campos fumarólicos açorianos são em termos paisagísticos dos mais bonitos do mundo, mas talvez menos imponentes do que uns quantos. Locais menos desenvolvidos, mais isolados, mais distantes entre outros factores, como Sol de Mañana na Bolívia, El Tatio, no Chile, Morne Trois Piton na Dominica, Katmai National Park no Alasca ou o Parque Virunga no Ruanda atraem anualmente cerca de 60 000, 100 000, 15 000 e 10 000 visitantes por ano, respectivamente.
Apesar de à partida considerarmos as Furnas em São Miguel mais atractivas, em termos de paisagem do que as da Terceira, elas não são concorrentes, mas sim complementares.
A paisagem cria-se, recria-se e produz serviços económicos e ambientais.
Na actualidade há diferentes procuras turísticas, mesmo no campo do turismo da natureza, turismo ecológico ou turismo rural.
A paisagem da freguesia das Furnas por exemplo, encerra a “vivência idílica do mundo rural”, numa simbiose quase perfeita entre a cautela aspirada pelo ser humano e a braveza da natureza. É uma paisagem impar no contexto internacional. É uma paisagem que tende a captar, de acordo com vários investigadores, pessoas com conhecimentos médios/elevados e posses razoáveis. Assim, uma aposta nas redes de comunicação/informação nesse povoado, tem a capacidade de atrair massa crítica, criando novas possibilidades de emprego para a população local.
Por seu turno, a paisagem da Lagoa das Furnas com um campo fumarólico nas suas margens, é singular, mas só possível de manter com a qualidade desejável se houver regulamentação adequada e intervenção tecnológica. Trata-se pois de uma paisagem onde a “Tecnocracia ambiental” terá que estar sempre presente: condicionando usos do solo, tratando as águas, restringindo acessos. Assim, o valor estratégico turístico desse sítio só pode ser mantido com investimento público. Uma forma de rentabilizar esse investimento público, criando emprego, é através da cobrança de ingressos cujas verbas podem ser canalizadas para a aplicação de técnicas que melhorem sucessivamente a qualidade da paisagem.
O campo fumarólico das Furnas do Enxofre na ilha Terceira, tem as características dos locais que alguns investigadores afirmam estar na moda, classificando a tendência como “Moda do Selvagem”. Esse ambiente constitui uma paisagem onde a agricultura está praticamente ausente, os elementos de carácter antropogénico são inexistentes, com excepção dos carreiros em madeira construídos para conduzir os excursionistas. É um espaço que carece de interpretação, dado que não tem à partida elementos que produzam estupefacção, quando comparado com as Furnas de São Miguel. O espanto nesse local desponta aquando da compreensão dos elementos da paisagem. Faz sentido que aí exista um guia interprete da natureza, sendo também possível criar por essa via, postos de trabalho, que não tem que ser forçosamente governamentais.
Se não soubermos aproveitar as nossas singularidades turísticas, como é o caso dos campos fumarólicos açorianos, será muito difícil atingirmos a sustentabilidade socio-económica e ambiental.
A singularidade dos campos fumarólicos não se deve somente às emissões vulcânicas, deve-se também a um conjunto de factores peculiares, como a qualidade ambiental que os rodeia, espelhada na qualidade do ar, níveis reduzidos de ruído, ao qual se associa uma luz temperada que os ilumina. Os nossos campos fumarólicos, mais uma vez se afirmam no contexto mundial, pela singularidade, singularidade essa que lhe atribui valor acrescentado do ponto de vista turístico.
Nas furnas é possível encontrar um vasto conjunto de líquenes que aí vivem, e só aí vivem, porque os níveis de dióxido de enxofre e ácido sulfídrico são reduzidos, indiciando excelente qualidade do ar desses ambientes. Tal é possível porque esses gases facilmente são transformados em partículas em ambientes húmidos. O risco de intoxicação aquando da sua visitação, quando comparado com o de outros locais do globo com actividade vulcânica superficial, é muito reduzido.
O cheiro dos compostos de enxofre das furnas açorianas mantêm-se na memória olfactiva de quem as visita.
O cheiro na freguesia das Furnas é completamente diferente dos odores que se detectam na Lagoa das Furnas ou nas Furnas do Enxofre, estes últimos resultam da mistura de compostos de enxofre com compostos orgânicos voláteis da vegetação pristina, concedendo, através dos aromas, identidade à paisagem.
O ambiente acústico também é diferenciador das paisagens: na vila, sentem-se os rumores dos homens, na lagoa o esvoaçar dos pássaros, o ramalhar das árvores, o rufar quase imperceptível das águas, enquanto que nas Furnas do Enxofre, se sente, na maioria das vezes, a ausência completa de som, como que numa singularidade espaço-tempo de um universo sonoro. Quanto stress poderá ser aí aliviado? Quanta paz de espírito pode ser aí conquistada?
O vapor de água esbranquiçado contrasta na vila com o casario branco, com o verde azulado das águas, na Lagoa, e nas Furnas do Enxofre, com o verde fluorescente da vegetação endémica. Até no solo, as manchas são diferentes nos três lugares, pela calçada, pelos diferentes estados de oxidação do ferro, ora ferroso ora férrico, pelos cristais amarelos ou esbranquiçados de enxofre que se formam nas bocarras abertas da terra, ou pelas algas e cianobactérias albergadas no vapor de água ou nas águas quentes.
Todos os dias a paisagem nas fumarolas é mutante, quanto mais não seja pelo céu.
Se houver memória emotiva, captada pelos cinco sentidos nessas paisagens, o sexto deles, traduzir-se-á pelo insight ou crença de que é possível ter desenvolvimento e emprego por detrás dessas singularidades.
Nesta época de crise, temos que ser criativos, temos que rentabilizar o que é possível rentabilizar, temos que criar emprego em torno daquilo que temos, do que somos capazes de proteger e do que somos capazes de imaginar.
O conjunto de campos fumarólicos distribuído nas várias ilhas não é um “handicap”, mas uma mais valia: quando se conhece um deles, há vontade de conhecer os outros. Tendo isso em mente, exige-se o planeamento de um roteiro, um markting apropriado para o conjunto, um trabalho conexo entre ilhas e municípios, um pensar os Açores como o conjunto de nove ilhas que de facto é.
As furnas (campos fumarólicos) correspondem a um fenómeno de vulcanismo secundário, onde ocorre a emissão de gases para a superfície terrestre, através de um sistema de fissuras.
Tanto o campo fumarólico das Furnas em São Miguel, como o Campo fumarólico das Furnas do Enxofre na ilha Terceira, são ícones turísticos dos Açores, cuja interpretação científica ajuda a criar valor acrescentado a essas paisagens, mas onde as emoções desencadeadas por esses espaços, também são uma mais valia. Nesses campos fumarólicos a ciência está por todo o lado, encontrando-se numa multiplicidade de lugares, de cores, sons e aromas, traduzindo-se numa verdadeira sinfonia para os sentidos. Atrevo-me a dizer que os campos fumarólicos açorianos são em termos paisagísticos dos mais bonitos do mundo, mas talvez menos imponentes do que uns quantos. Locais menos desenvolvidos, mais isolados, mais distantes entre outros factores, como Sol de Mañana na Bolívia, El Tatio, no Chile, Morne Trois Piton na Dominica, Katmai National Park no Alasca ou o Parque Virunga no Ruanda atraem anualmente cerca de 60 000, 100 000, 15 000 e 10 000 visitantes por ano, respectivamente.
Apesar de à partida considerarmos as Furnas em São Miguel mais atractivas, em termos de paisagem do que as da Terceira, elas não são concorrentes, mas sim complementares.
A paisagem cria-se, recria-se e produz serviços económicos e ambientais.
Na actualidade há diferentes procuras turísticas, mesmo no campo do turismo da natureza, turismo ecológico ou turismo rural.
A paisagem da freguesia das Furnas por exemplo, encerra a “vivência idílica do mundo rural”, numa simbiose quase perfeita entre a cautela aspirada pelo ser humano e a braveza da natureza. É uma paisagem impar no contexto internacional. É uma paisagem que tende a captar, de acordo com vários investigadores, pessoas com conhecimentos médios/elevados e posses razoáveis. Assim, uma aposta nas redes de comunicação/informação nesse povoado, tem a capacidade de atrair massa crítica, criando novas possibilidades de emprego para a população local.
Por seu turno, a paisagem da Lagoa das Furnas com um campo fumarólico nas suas margens, é singular, mas só possível de manter com a qualidade desejável se houver regulamentação adequada e intervenção tecnológica. Trata-se pois de uma paisagem onde a “Tecnocracia ambiental” terá que estar sempre presente: condicionando usos do solo, tratando as águas, restringindo acessos. Assim, o valor estratégico turístico desse sítio só pode ser mantido com investimento público. Uma forma de rentabilizar esse investimento público, criando emprego, é através da cobrança de ingressos cujas verbas podem ser canalizadas para a aplicação de técnicas que melhorem sucessivamente a qualidade da paisagem.
O campo fumarólico das Furnas do Enxofre na ilha Terceira, tem as características dos locais que alguns investigadores afirmam estar na moda, classificando a tendência como “Moda do Selvagem”. Esse ambiente constitui uma paisagem onde a agricultura está praticamente ausente, os elementos de carácter antropogénico são inexistentes, com excepção dos carreiros em madeira construídos para conduzir os excursionistas. É um espaço que carece de interpretação, dado que não tem à partida elementos que produzam estupefacção, quando comparado com as Furnas de São Miguel. O espanto nesse local desponta aquando da compreensão dos elementos da paisagem. Faz sentido que aí exista um guia interprete da natureza, sendo também possível criar por essa via, postos de trabalho, que não tem que ser forçosamente governamentais.
Se não soubermos aproveitar as nossas singularidades turísticas, como é o caso dos campos fumarólicos açorianos, será muito difícil atingirmos a sustentabilidade socio-económica e ambiental.
A singularidade dos campos fumarólicos não se deve somente às emissões vulcânicas, deve-se também a um conjunto de factores peculiares, como a qualidade ambiental que os rodeia, espelhada na qualidade do ar, níveis reduzidos de ruído, ao qual se associa uma luz temperada que os ilumina. Os nossos campos fumarólicos, mais uma vez se afirmam no contexto mundial, pela singularidade, singularidade essa que lhe atribui valor acrescentado do ponto de vista turístico.
Nas furnas é possível encontrar um vasto conjunto de líquenes que aí vivem, e só aí vivem, porque os níveis de dióxido de enxofre e ácido sulfídrico são reduzidos, indiciando excelente qualidade do ar desses ambientes. Tal é possível porque esses gases facilmente são transformados em partículas em ambientes húmidos. O risco de intoxicação aquando da sua visitação, quando comparado com o de outros locais do globo com actividade vulcânica superficial, é muito reduzido.
O cheiro dos compostos de enxofre das furnas açorianas mantêm-se na memória olfactiva de quem as visita.
O cheiro na freguesia das Furnas é completamente diferente dos odores que se detectam na Lagoa das Furnas ou nas Furnas do Enxofre, estes últimos resultam da mistura de compostos de enxofre com compostos orgânicos voláteis da vegetação pristina, concedendo, através dos aromas, identidade à paisagem.
O ambiente acústico também é diferenciador das paisagens: na vila, sentem-se os rumores dos homens, na lagoa o esvoaçar dos pássaros, o ramalhar das árvores, o rufar quase imperceptível das águas, enquanto que nas Furnas do Enxofre, se sente, na maioria das vezes, a ausência completa de som, como que numa singularidade espaço-tempo de um universo sonoro. Quanto stress poderá ser aí aliviado? Quanta paz de espírito pode ser aí conquistada?
O vapor de água esbranquiçado contrasta na vila com o casario branco, com o verde azulado das águas, na Lagoa, e nas Furnas do Enxofre, com o verde fluorescente da vegetação endémica. Até no solo, as manchas são diferentes nos três lugares, pela calçada, pelos diferentes estados de oxidação do ferro, ora ferroso ora férrico, pelos cristais amarelos ou esbranquiçados de enxofre que se formam nas bocarras abertas da terra, ou pelas algas e cianobactérias albergadas no vapor de água ou nas águas quentes.
Todos os dias a paisagem nas fumarolas é mutante, quanto mais não seja pelo céu.
Se houver memória emotiva, captada pelos cinco sentidos nessas paisagens, o sexto deles, traduzir-se-á pelo insight ou crença de que é possível ter desenvolvimento e emprego por detrás dessas singularidades.
Nesta época de crise, temos que ser criativos, temos que rentabilizar o que é possível rentabilizar, temos que criar emprego em torno daquilo que temos, do que somos capazes de proteger e do que somos capazes de imaginar.
O conjunto de campos fumarólicos distribuído nas várias ilhas não é um “handicap”, mas uma mais valia: quando se conhece um deles, há vontade de conhecer os outros. Tendo isso em mente, exige-se o planeamento de um roteiro, um markting apropriado para o conjunto, um trabalho conexo entre ilhas e municípios, um pensar os Açores como o conjunto de nove ilhas que de facto é.
(In A União)
2 Comments:
tiffany and co, christian louboutin shoes, polo ralph lauren outlet, coach purses, nike free, longchamp handbags, coach factory outlet, louis vuitton outlet, tiffany and co, louis vuitton, gucci outlet, kate spade handbags, louis vuitton outlet, true religion jeans, tory burch outlet, kate spade outlet, prada handbags, air max, michael kors outlet, chanel handbags, burberry outlet, ray ban sunglasses, oakley sunglasses, burberry outlet, prada outlet, nike shoes, michael kors outlet, longchamp outlet, louis vuitton handbags, ray ban sunglasses, coach outlet, jordan shoes, michael kors outlet, louboutin outlet, michael kors outlet, polo ralph lauren outlet, air max, michael kors outlet, michael kors outlet, coach outlet store online, louis vuitton outlet stores, oakley sunglasses cheap, oakley sunglasses, true religion jeans, louboutin, longchamp handbags, louboutin
hollister, herve leger, canada goose, insanity workout, nfl jerseys, canada goose, soccer jerseys, north face outlet, p90x, ugg, uggs outlet, canada goose, marc jacobs, new balance shoes, ugg pas cher, canada goose outlet, ferragamo shoes, canada goose uk, celine handbags, jimmy choo outlet, abercrombie and fitch, reebok outlet, mac cosmetics, longchamp, wedding dresses, ugg boots, beats by dre, mcm handbags, asics running shoes, ghd, giuseppe zanotti, babyliss pro, soccer shoes, canada goose jackets, ugg boots, ugg australia, lululemon outlet, birkin bag, mont blanc, north face jackets, nike huarache, nike roshe run, bottega veneta, chi flat iron, rolex watches, instyler, vans shoes, valentino shoes
Enviar um comentário
<< Home