sexta-feira, abril 10, 2009

Uma geração afortunada

Duarte Freitas
Pertenço a uma geração com sorte.
Aqueles que tem hoje entre os 30 os 45 anos tiveram condições como nenhuns outros ao longo da história dos Açores.
Fomos os primeiros a aceder massivamente ao ensino superior e fomos aqueles para quem havia emprego garantido.
Do tempo em que não havia electricidade, rede pública de abastecimento de água, estradas, unidades hospitalares, portos e aeroportos, resta uma vaga memória.
No início da última década do Século passado, começou ser possível finalizar estudos secundários na generalidade das nossas ilhas.
Com a criação da Universidade dos Açores, a Região começa a formar os seus próprios técnicos e a facilitar a concretização do ensino superior a milhares de açorianos, elevando as habilitações e fornecendo quadros para a administração e para o tecido económico regional.
Padrões elevados de higiene e conforto das habitações alastram desde a década de oitenta e a generalidade dos indicadores de bem-estar da sociedade açoriana estão num nível muito próximo das regiões desenvolvidas.
Por outro lado, esta geração afortunada de que falo teve emprego assegurado, o que actualmente é uma miragem para os jovens. Isto é, esta geração que cresceu com a autonomia, já não sofreu as agruras da falta de condições económicas e sociais dos inícios da década de setenta do Século passado e não sofre agora, no inicio do Século XXI, as agruras da busca do primeiro emprego e da precariedade laboral.
Temos vivido com uma rede de segurança proporcionada pelo Orçamento de Estado e pelo Orçamento Comunitário, que tem garantido a circulação de elevados montantes, basculados através do Orçamento Regional.
Nada disto está mal ou é preocupante só por si, não só porque não se prevê que estas receitas externas possam desaparecer de repente, mas também porque a sua lógica tem a ver com a compensação de custos acrescidos e com a potenciação de investimento visando melhorar as condições de coesão.
O que me preocupa é que os elevados montantes gastos não tenham tido o efeito desejado na nossa aproximação aos níveis médios de riqueza da União Europeia.
Com os avultados montantes financeiros que temos tido ao nosso dispor é fácil fazer obra. Basta encomendar projectos e mandar executar.
Contudo, se não resolvermos o problema de criação efectiva de riqueza e de fixação das populações podemos correr riscos de voltar a um período de emigração ou, pelo menos, de acentuada migração interna e despovoamento de muitas parcelas da nossa Região.
Infelizmente, a falta de estratégia e a escassez de visão, faz com que, frequentemente, o objectivo político de um determinado investimento quase se esgote na sua inauguração.
A nossa felicidade não deve estar apenas nos elevados montantes externos que conseguimos captar para os nossos orçamentos, mas sim na riqueza que conseguirmos criar para depender cada vez menos destes.
(In A União)

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