sexta-feira, agosto 01, 2008

Investigador defende fim dos “numerus clausus”

A existência de “numerus clausus”, que limita as admissões ao ensino superior, é uma das causas apontadas pelo investigador universitário José Manuel Mendes para o abandono e insucesso escolar naquele nível, defendendo por isso o seu fim."Sou favorável ao fim dos 'numerus clausus', é um sistema injusto. Há alunos com média de 18 que não entram em Medicina e acabam por ir para cursos para os quais não estão motivados", disse hoje o investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. José Manuel Mendes coordena um estudo de análise ao sucesso e insucesso escolar no ensino superior, baseado em inquéritos e entrevistas a cerca de dois mil alunos e sustentado numa nova fórmula matemática e também na análise qualitativa do percurso dos alunos.Os dados, ainda preliminares, divulgados ontem pelo “Jornal de Notícias”, cifram a taxa média de abandono nas universidades públicas em 2005/2006 em cerca de 12 por cento. Os números divergem dos apresentados pela tutela, cuja taxa de insucesso escolar se situa nos 30 por cento, diz José Manuel Mendes."O Governo utiliza a fórmula da OCDE, a chamada taxa de sobrevivência. Entram 50 alunos, vão ver quantos saem e não levam em conta as mudanças de curso e de faculdade, responsáveis por grandes flutuações", frisou. O investigador do CES volta a apontar o caso de Medicina, "onde entram muitos alunos a meio" do seu percurso escolar e resulta "em mais estudantes a sair do que aqueles que entraram". "Saem de Medicina Dentária ou de Biologia, mas para continuarem o seu percurso formativo, não saíram do sistema de ensino. Com esta taxa de sobrevivência o Governo está a empolar os resultados", afirma.Piores dados nos AçoresOs dados estatísticos do estudo colocam a Universidade dos Açores como aquela que, de entre as instituições de ensino público, registou maior taxa de abandono em 2005/2006, ultrapassando os 15 por cento. Pelo contrário, as universidades do Porto, Técnica de Lisboa, Minho e Aveiro registaram em 2006 as menores taxas, dados explicados por José Manuel Mendes com factores demográficos, económicos e de oferta de cursos."Nos Açores os alunos muitas vezes não estão na sua primeira opção, mas sim na terceira, quarta ou quinta. Devido aos 'numerus clausus' não estão no curso que pretendem", sustenta. Já no caso do Porto, Minho e Aveiro José Manuel Mendes aponta a "grande bacia de recrutamento demográfico" existente naquelas regiões, alunos "de topo" que procuram, por exemplo, as áreas das engenharias "e ali se fixam". "Nos Açores há muitos alunos com estratégias de mobilidade, tentam transferências e mudanças de curso", frisou.Segundo o investigador, a análise do abandono escolar no ensino superior "depende muito do tipo de aluno e dos cursos que as universidades oferecem". "Se formos analisar por cursos há disparidades enormes", referiu.Os dados finais do estudo coordenado pelo CES deverão ser conhecidos em Novembro, durante um colóquio internacional sobre o tema, onde serão apresentados outros estudos, um dos quais, da responsabilidade da Universidade do Porto e do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE) analisa os perfis de estudantes.
(In Público)

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