segunda-feira, maio 02, 2011

A educação na primeira pessoa.

Emiliana Silva (Opinião)
Onde estão os professores como Manuela Toste, Manuela Rodrigues, Luísa Andrade e João Bretão?
Tenho a convicção que a educação dos cidadãos é fundamental para o desenvolvimento das sociedades.
Não queria ir para a escola. Comecei o pré-escolar pelo actual Colégio de S. Lázaro mas não gostava de ir. Em alternativa, os meus pais arranjaram uma “professora particular”. O problema mantinha-se, era um “berreiro” para ir, mas lá ia, e ainda bem que os meus pais obrigaram. Imagino a angústia dos meus pais. Hoje, tenho a preocupação que os meus dois filhos gostem de ir para a escola.
Na primeira classe (1º ano) e ao fim de três dias ia sozinha para a escola toda contente, imagino que para descanso dos meus pais. Tomei o gosto, nunca mais parei de aprender, ainda hoje estou sempre a estudar, a aprender. O saber não ocupa espaço.
Acredito que os primeiros anos da escola são fundamentais na aprendizagem, e se conseguirmos ter sucesso, a continuidade do ensino apenas vem retocar e melhorar o que de base recebemos. Comecei com uma óptima Professora, a D. Guida Carvalho Duarte, exigente, rigorosa e muito competente. Esforçava-me para estar na primeira fila, que conseguia através de bons resultados ou “perdia” quando tagarelava como qualquer criança daquela idade. Mas com esta estratégia e autoridade, a Professora Guida conseguiu calar-me. Hoje em dia, agradeço-lhe o que fez por mim, muito do que sou actualmente a ela lho devo. Naquele tempo, nós íamos à escola para aprender e aprendíamos.
Mais tarde rumei até ao velho e bom liceu onde se seguiram mais alguns professores determinantes no meu percurso académico. Existem quatro professores que me marcaram profundamente e que, de algum modo, são referências do antigo liceu, os Professores: Manuela Toste, Manuela Rodrigues, Luísa Andrade e João Bretão.
A Dra. Manuela Toste era uma Professora de biologia muito exigente, muito competente, dura e implacável. Penso que gostava de nós, mas que pela sua timidez, não era capaz de o mostrar. Não me lembro, nunca, de a ver sorrir. Mas todos a admirávamos. Tínhamos imenso medo dela, ou talvez, mais respeito, “desunhávamo-nos” a estudar e alcançar catorze, naquela altura, era um grande feito. Na verdade, quando entrei na universidade verifiquei que estava bastante acima da média nas áreas da biologia. Quando os professores são competentes, podem e devem ser exigentes. Hoje sei o que representou para mim
As Professoras Dra. Manuela Rodrigues e Dra. Luísa Andrade, criaram-nos o gosto pela matemática. Não havia dúvidas que ficassem por satisfazer, não eram necessárias explicações adicionais, elas bastavam-nos. Os alunos estavam sempre atentos, ávidos pelo conhecimento. Elas tinham gosto em ensinar e nós em aprender. Não havia lugar para brincadeira nem desatenção. Elas não o permitiam com a sua natural autoridade. Com a saída precoce da Professora Luísa, perdeu a escola, perderam os alunos.
A Dra. Manuela Rodrigues era competente, rigorosa, implacável, e atrevo-me a dizer, um pouco trocista (gostava das suas piadas). A Dra. Luísa Andrade além de ser simpática, competente e rigorosa, era extremamente simples. Passados uns bons anos, voltei a ver a Dra. Manuela Rodrigues que me perguntou o que fazia. Fui referindo o meu percurso e lembro-me de ela dizer “Que bem, Emiliana!” e de ter um ar de extrema felicidade. Senti naquele olhar, que ela tinha imenso orgulho em ter sido minha Professora, e eu senti e ainda sinto que foi um grande benefício pessoal em ter sido sua aluna. À Dra. Luísa Andrade via-a todos os Verões na praia da Praia da Vitória, sempre simpática e cordial, sempre me cumprimentou com a mesma alegria e simplicidade.
O mais marcante para mim foi o Professor João Bretão, o nosso Professor de Química. Era o Professor mais amigo, o mais solidário, o que mais nos motivava. Um grande Professor! Terá havido algum aluno do Professor João Bretão que não tenha sonhado, por um dia, ser professor de química? Duvido! Era um Professor simples, bonacheirão e sempre bem-disposto. Para ele, tudo se resolvia e o que importava era que nós nos interessássemos pela matéria e aprendêssemos. Nós queríamos, desejávamos as aulas do Professor João Bretão! Lembro-me de o professor ter conseguido o laboratório de química, à tarde, quando não tínhamos aulas, para fazermos experiências. Lembro-me, de termos extraído prata numa das aulas práticas. Ainda hoje, conservo religiosamente uns miligramas de prata num pequeno frasquinho. Marcou-nos pela positiva! Acho que nas escolas faltam professores do sexo masculino (que me queiram desculpar todas as boas professoras que conheço) e que seria de ponderar a existência de quotas, só que para os homens, estes têm efectivamente um temperamento e postura diferentes. Vejo o Dr. João Bretão e sempre nos vamos acenando.
Como foi bom ter estes professores!
É bom quando temos professores que gostam de nós. Se a maioria dos meus alunos não gostasse de mim e tivesse maus resultados eu ficaria extremamente preocupada e teria de repensar a minha estratégia pedagógica. A mim, enquanto professora e mãe, custa-me a aceitar que alguns professores não gostem dos seus alunos e que os prejudiquem deliberadamente.
E, onde estão os seguidores dos professores Manuela Toste, Manuela Rodrigues, Luísa Andrade e João Bretão?

(in A União)