segunda-feira, abril 11, 2011

A era pós-Fukushima

Félix Rodrigues (Opinião)
Um problema grave parece necessitar de companhia. Recentemente temos assistido a situações dispares em termos dos campos de análise ou reflexão, que mostram que um problema grave tende a não ficar só. É o caso dos produtos financeiros tóxicos que desencadeou a crise financeira, que segundo alguns desencadeou a crise de emprego, que originou a crise política portuguesa e que se traduzirá inequivocamente em crise familiar. É também o caso do terramoto no Japão ocorrido a 11 de Março que originou um enorme tsunami a que se associaram os incidentes e acidentes no complexo nuclear de Fukushima Daiichi. O medo do nuclear voltou, porque temos a percepção de viver numa aldeia global o que leva a que ninguém pense, neste momento, que está resguardado num “cantinho do céu”. Muitas pessoas estão assustadas com o nuclear e os políticos tem receios de tomar decisões no que respeita a esclarecê-las. Por outro lado, são muitos os comentadores e analistas científicos que acusam a comunicação social de “pregar o medo do nuclear” nos diversos tipos de publicações destinadas ao grande público. O problema do “medo do nuclear” não está naquilo que se diz, mas nas percepções correctas ou incorrectas do ponto de vista científico, que o cidadão comum, alguns jornalistas e cientistas possuem. Por exemplo, num estudo sobre percepção de risco realizado nos Açores em 2007, os dados mostram que há uma elevada percentagem dos auscultados que desconhecem os mecanismos que contribuem para as alterações climáticas, pois consideram que as latas de spray, a energia nuclear e os resíduos radioactivos como factores que contribuem directamente para esse fenómeno. Assim sendo, as preocupações com o nuclear podem ser empoladas quando se pensa que também estão relacionadas com a problemática das alterações climáticas. A opinião esporádica de jornalistas ou cientistas pouco contribuiriam para alterar essa percepção pública. Essa será alterada com uma formação ou informação científica adequada da população. Nesse mesmo estudo, 48% dos inquiridos afirmam ter medo do nuclear e 52% das alterações climáticas globais, ou seja, percentagens muito próximas. Quando comparamos esses dados com os receios dos europeus, eles tendem a ser semelhantes. Nesse contexto, a palavra “nuclear” parece provocar medo, seja qual for o argumento. As palavras “nuvem radioactiva” mais medo parecem provocar, mesmo que se afirme que não haverá qualquer impacto em termos de saúde pública. Cada problema relacionado com o nuclear tenderá, em termos de percepção de risco, a incrementá-lo, podendo traduzir-se a curto prazo, numa dificuldade de fazer vingar a exploração dessa energia, mesmo que a queiramos considerar alternativa à queima de combustíveis fósseis. As decisões energéticas de um país ou região, há alguns anos atrás, eram tomadas pelos políticos. Nas sociedades democráticas com participação pública e respeito pela diversidade de opiniões é um pouco diferente. O discurso público para essas tomadas de decisão era essencialmente retórico, contrário a um discurso científico que rompe com as evidências e “códigos de leitura do mundo” e se constitui num sistema de juízos e de relações entre conceitos. No que respeita ao nuclear, acredita-se que neste momento tanto o discurso retórico como o discurso científico estão fragilizados, havendo necessidade de os fundir se quisermos afirmar a ideia de exploração da energia nuclear. Num contexto moderno e realista de produção científica, percebe-se que tanto a ciência como a sociedade co-evoluem, havendo um elo forte entre ciência e sociedade. É a sociedade que financia a investigação científica e exige dela cada vez mais resultados práticos para a resolução de problemas técnicos ou de produção industrial. Assim sendo, o nuclear na era pós-Fukushima terá dificuldades em afirmar-se se não combater eficazmente a percepção pública de risco associada a essa temática. Não é deixando de falar do nuclear que se fará desaparecer essa percepção, é fazendo exactamente o oposto, enunciando todos os pressupostos e riscos mas também todos os benefícios e mais-valias. Decida quem tiver que decidir. Os incidentes de Fukushima terão impactos negativos a nível da exploração da energia nuclear numa sociedade com receios ou medos daí que seja fácil prever uma diminuição da aposta neste tipo de energia bem como uma necessidade de aumento de segurança das centrais nucleares futuras. No futuro, o nuclear será mais seguro porque temos capacidade de aprender com os nossos erros. No futuro, a produção de energia nuclear será mais difícil se a percepção pública de risco for a que actualmente existe. Quanto ao medo injustificado, da quantidade de isótopos que chega a qualquer canto do território português, devido às emissões de Fukushima, esse só se combate com informação e um discurso claro e verdadeiro daqueles que comunicam eficazmente com a população. Há términos científicos que tendem a confundir-se em termos de percepção pública, como por exemplo previsão e detecção. Uma coisa é a previsão que não é 100% precisa, outra é a detecção que corresponde à ligação inequívoca entre um fenómeno e a sua previsão. No caso da radioactividade que chegou a Portugal proveniente de Fukushima, foi previsto chegarem vestígios, a 28 de Março aos Açores, confirmados por detecção a 29 de Março em Ponta Delgada, seguindo-se a sua chegada ao território continental português, confirmada pela detecção do Instituto Tecnológico e Nuclear a 31 de Março de 2011. Quer a previsão quer a detecção indicam que não há qualquer risco estimado ou previsível para a saúde pública, daí que qualquer medo é racionalmente infundado. Quanto ao facto desse fenómeno ser ou não notícia, isso depende exclusivamente de critérios editoriais ou jornalísticos. Se pensávamos que nada chegaria a Portugal, a chegada será notícia, se já o sabíamos, não será novidade. Se os cientistas se acham melhores do que os jornalistas a passar as mensagens desta natureza, pois que se transformem em jornalistas. Conheço jornalistas com competências para serem cientistas.

(in Jornal Terra Nostra)

3 Comments:

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